Fundo Soberano de Angola envia delegação a Port-Louis para acompanhar processo que culminou com congelamento das suas contas nas Maurícias.
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Delegação do Fundo Soberano de Angola (FSDA) deslocou-se à capital dass Ilhas Maurícias, Port-Louis, afim de acompanhar de perto o processo que culminou com o congelamento das contas daquele fundo geridas pela Quantum Global, uma empresa que tem à testa o suíço Jean-Claude Bastos de Morais, mas que na verdade estará a representar interesses do ex-Presidente do Conselho de Administração (PCA) deste Fundo, José Filomeno dos Santos, também conhecido por Zenú, filho do antigo Presidente de Angola e líder do MPLA, José Eduardo dos Santos.
A comitiva de Carlos Alberto Lopes, atual PCA do Fundo Soberano de Angola e antigo ministro das Finanças, pretende com esta visita encetar contactos junto das autoridades governamentais e judiciais das Maurícias, no sentido resgatar e repatriar os referidos bens para o país.Para compreensão das motivações por detrás da postura das autoridades de Luanda, relativamente à gestão dos investimentos do Fundo Soberano, realizada pela empresa do suíço e alegado testa de ferro do filho do ex-Presidente de Angola, a DW África falou com dois economistas Carlos Rosado de Carvalho e Lopes Paulo. Este último, que também é docente na Universidade Metodista de Angola diz tratar-se de ações que visam colocar ordem num conjunto de anomalias praticadas pela administração de Zenú dos Santos.
"Uma vez que temos uma nova administração do Fundo Soberano, cabe à mesma tomar as medidas necessárias para garantir o controlo dos capitais da instituição, assim como a sua correta aplicação. Isto significa que não tinham sido corretamente aplicadas antes e essa equipa entende que as opções anteriores não terão sido as melhores. Por esta razão parte com a convicção de primeiramente trabalhar na recuperação do capital, e em seguida proceder à uma nova gestão dos fundos que não seja a Quantum Global."
Paradeiro de 1,7 mil milhões de dólares?
Sobre o assunto, na sua edição desta semana o jornal Expansão questionou o paradeiro de 1,7 mil milhões de dólares norte-americanos recuperados pelo Fundo Soberano à Quantum Global, revelando, por outro lado, o conjunto de investimentos imobiliários e ativos que compõem a sua carteira de negócios.O diretor do jornal, Carlos Rosado de Carvalho diz que apesar dos investimentos do Fundo Soberano parecerem geridas mais ou menos de forma equilibrada, com indicações de que os negócios iam de vento em popa, a verdade é que a não publicação das contas e de tantas outras práticas administrativas menos claras levantam suspeitas.
"Nós não conhecemos as contas do Fundo Soberano desde 2016. Foi publicado um relatório dos auditores independentes - que levantava uma série de dúvidas-, mas o relatório de contas ainda não está publicado. E não está publicada uma coisa que é muito importante que são as notas às demonstrações dos resultados. Só com o acesso à essas notas e contas publicadas é que saberíamos qual era exatamente a situação dos fundos no final de 2016."
Acusações às autoridades das Maurícias
Em dois comunicados publicados no seu site, a Quantum Global não só acusa as autoridades das Ilhas Maurícias de não lhes terem dado a oportunidade de se defender, ao mesmo tempo que afirma que os investimentos do Fundo Soberano geridos pela Quantum Global têm sido bem aplicados nomeadamente de forma transparente, a julgar pelos relatórios de auditores independentes de reconhecida idoneidade no mercado internacional.O economista Lopes Paulo concorda com tal afirmação, mas dúvida da credibilidade dos referidos relatórios.
Delegação do Fundo Soberano de Angola
"Com todo o benefício da dúvida, mas também não nos esqueçamos que, um exemplo muito claro, o BPC teve sempre as contas aditadas pelas melhores empresas do mundo e hoje temos o BPC (Banco de Poupança e Crédito) que temos, ao ponto em que chegamos, e depois nos questionamos... e as auditorias que eram feitas?"
Num conjunto da carteira de negócios, o Fundo Soberano detém aplicações em ações de 70 empresas, com destaque para Microsoft de Bill Gates, a rede social Facebook, as gigantes do comércio electrónico Amazon, americana, e Alibaba, chinesa, revelou o jornal Expansão.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.