Delfim Neves teme pela própria vida e diz pairar em São Tomé uma sensação de "caça às bruxas". Em entrevista à DW, o ex-presidente do Parlamento são-tomense recusa ser um dos financiadores do 25 de novembro.
O ex-candidado às presidenciais de 2021, que não foi formalmente interrogado no âmbito das investigações em curso, confirma que não sabia o que estava a acontecer naquela madrugada e nega ser um dos financiadores da alegada intentona que terminou em várias mortes.
"O que está mais visível é que o poder, na perspetiva de impedir ou tentar coartar a possibilidade de haver uma oposição forte, decidiu orquestrar esse dito golpe de Estado para prender ou matar alguns opositores mais diretos", denuncia.
"Se o Arlécio [Costa] é que havia dito que eu iria financiar e que Arlécio era o mandante, tendo sido detido e preso, não há dúvida que a melhor forma de provar isto tudo era mantê-lo vivo. Ora, matando o Arlécio, eu não sei como é que vão tirar isto a limpo", comentou.
"Todos os ditos assaltantes ao quartel, inclusive os seus familiares mais próximos, são militantes da Ação Democrática Independente (ADI). Então, como é que eu, de um partido oposto à ADI, havia de financiar uma operação com militantes de outro partido?", questiona.
Receio pela vida
O político são-tomense, que deve regressar ao país nas próximas semanas após tratamento em Portugal, receia pela sua vida por considerar que existe uma espécie de "caça às bruxas" no país. "Há sinais claros", frisou.
Delfim Neves acusa a falta de isenção e o silêncio do Presidente Carlos Vila Nova neste processo e, por outro lado, põe em causa a investigação oficial em curso, com o apoio de agentes da Polícia Judiciária portuguesa.
"Eu acho que essa investigação está viciada", salienta. "À partida, o próprio primeiro-ministro [Patrice Trovoada] está a transmitir uma mensagem de que ele está comprometido, está a imiscuir-se nas investigações", opina.
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Ana Gomes critica silêncio
A ex-eurodeputada Ana Gomes considera "de uma gravidade total" o que aconteceu a 25 de novembro naquele país africano e critica a postura de silêncio prolongado das autoridades portuguesas.
"Perturba-me muito que o Governo português não tenha tido uma única palavra crítica em relação à violência e às grosseiras violações dos direitos humanos que ocorreram de forma inédita em São Tomé e Príncipe", considera.
Ana Gomes é da opinião que se deveria constituir uma investigação internacional independente como propôs as Nações Unidas, uma vez que, segundo a antiga eurodeputada, existe "a possibilidade de encobrimento" dos factos.
Este sábado (04.02), cerca de 25 são-tomenses manifestaran-se em Lisboa numa marcha pela justiça entre o Mosteiro dos Jerónimos e o Palácio de Belém, onde fizeram a entrega de uma carta ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a exigir um posicionamento claro sobre a situação em São Tomé e Príncipe.
Empunhando uma faixa com a frase "Massacre de 25 de novembro 2022" e imagens dos quatro suspeitos alegadamente mortos e torturados, os manifestantes exigiram justiça, fizeram apelos à ação das autoridades portuguesas e alertaram para as consequências da "normalização" do caso.
São Tomé e Príncipe: O caos deixado por fortes chuvas em Neves
A destruição impera na cidade de Neves, distrito de Lembá, São Tomé e Príncipe, após chuvas intensas e ventos fortes. Edumeu Lima, vereador para a área social da Câmara de Lembá, lamenta a falta de apoios prometidos.
Foto: Graça Ramusel/DW
Neves à espera de ajuda humanitária
Aumentam na cidade de Neves os casos de doença diarreica aguda. As crianças são as mais afetadas. Entre janeiro e fevereiro foram registados no hospital da cidade 108 casos da doença. Há três meses que cerca de 18 mil habitantes do distrito de Lembá consomem água não tratada. As chuvas intensas destruíram o centro de captação e tratamento de água que abastecia a população com água potável.
Foto: Graça Ramusel/DW
Igreja sem meios para atender os mais necessitados
A água do rio tem abastecido a população de Neves. Maria Salomé Pinto, Irmã Franciscana Hospitaleira, confirma que tem havido muitos casos de diarreia e que a rede de proteção social da Igreja Católica tem apoiado muitas famílias com medicamentos. Todos os projetos sociais de desenvolvimento integrado da Igreja no distrito estão paralisados. Os depósitos de água das escolas estão cheios de lama.
Foto: Graça Ramusel/DW
Chuva destrói farmácia no hospital de Neves
As chuvas intensas nos primeiros dias de março de 2022 deixaram um rasto de destruição enorme na cidade de Neves. Pelo menos vinte habitações ficaram destruídas. As enxurradas alagaram também o hospital local e destruíram o stock de medicamentos. As águas atingiram um metro de altura obrigando a transferência de doentes para lugares seguros.
Foto: Graça Ramusel/DW
Chuvas "matam" peças processuais no Tribunal de Lembá
O Tribunal de Lembá está "na rua". As enxurradas e a subida do nível do mar entraram pela cidade destruindo muitas peças processuais do Tribunal de Lembá que estão agora expostas ao sol, na tentativa de salvar os arquivos e documentos que ainda restam. Os funcionários entreajudam-se na limpeza do edifício.
Foto: Graça Ramusel/DW
Ponte Provas em Neves na eminência de colapsar
Os estabelecimentos de ensino estão encerrados. Mas o rasto de destruição não ficou por aí. As pontes sobre os rios Provas e Contador, que atravessam a cidade, foram bastante afetadas pelo temporal podendo desabar a qualquer momento. As enxurradas de 28 e 29 de dezembro de 2021 e do início de março deste ano, 2022, deixaram-nas ainda mais frágeis.
Foto: Graça Ramusel/DW
Forte precipitação destrói ponte da Ribeira Funda
A ponte da Ribeira Funda desabou no dia 4 de março, horas depois das intensas chuvas acompanhadas de ventos fortes. A forte precipitação originou um aumento do caudal do rio na zona de confluência com o mar, provocando a destruição e o arrastamento dos destroços da ponte. Duas comunidades estão isoladas desde dezembro de 2021: a comunidade agrícola de Brigoma e Roça Lembá.
Foto: Graça Ramusel/DW
A ponte ruiu mas não houve apagão na cidade
O antigo tabuleiro da ponte de Ribeira Funda, que ficou mergulhado nas águas, tem servido de passagem alternativa. Desta vez, o transporte e distribuição de combustível não teve impacto negativo na capital do país e arredores. Os camiões-cisterna circulam com alguma normalidade e abastecem as centrais elétricas com combustível para garantir o fornecimento de energia à população.
Foto: Graça Ramusel/DW
Decretado estado de calamidade pública em Lembá
As enxurradas pintaram de castanho as ruas de Neves. A considerada cidade industrial de São Tomé e Príncipe está mergulhada em lama e muito lixo. Os funcionários camarários limpam a cidade e os estabelecimentos de ensino. Enquanto isso, uma retroescavadora remove lama e os resíduos acumulados em toda cidade.
Foto: Graça Ramusel/DW
Promessas de ajuda internacional tardam a chegar
Um estudo sobre a reconstrução das infraestruturas danificadas estima que são necessários cerca de 33 milhões de euros. O Banco Mundial priorizou a reabilitação de infraestruturas rodoviárias de Neves. Existem três pontes partidas e duas estão na eminência de ruir. Segundo Edumeu Lima, vereador para a área social da Câmara de Lembá, o governo bateu todas as portas, mas só existem promessas.
Foto: Graça Ramusel/DW
Fúria da natureza arrasta navios para a baía de Ana Chaves
Os estragos provocados pelas chuvas intensas foram registados igualmente no centro da capital, São Tomé. Várias embarcações foram arrastadas pelo vento para a Baía de Ana Chaves, motivando a aflição e o desespero dos armadores. Mesmo durante o temporal, com chuvas intensas e fortes rajadas de vento, os marinheiros, tentaram a todo o custo impedir que os navios fossem parar à marginal.