Mais de 40 residências podem ser demolidas nos arredores da cidade da Beira, na província moçambicana de Sofala. Os moradores protestam, mas a edilidade afirma que o local tem dono e deverá ser desocupado.
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A ameaça de demolição de cerca de 40 casas construídas alegadamente de forma desordenada na comunidade de Ndunda, nos arredores da cidade da Beira, na província de Sofala, centro de Moçambique, chegou de surpresa aos mais de 800 habitantes da comunidade, entre os afetados e vizinhos.
O aviso foi feito na terça-feira (16.10) da semana passada através de notificações escritas. Os moradores teriam 48 horas para deixar as suas casas, segundo informou a edilidade. A medida gerou indignação entre os residentes, que por outro lado asseguram que não vão abandonar o bairro.
"Está aí aquele espaço de crocodilos. Não tem ninguém, porque não querem fazer nada naquele espaço. Agora [a edilidade] vem aqui nos ameaçar. As nossas casas estão prontas", relatou uma moradora, que questiona: "para aonde iremos com os nossos filhos?"
Outro residente da comunidade diz que já tem uma casa com quarto e sala prontos. Ele protesta: "já querem destruir minha casa!".
Demolições ameaçam comunidade na Beira
Moradores aguardam fiscalização
Entretanto, passado o prazo de 48h da notificação, nenhuma demolição aconteceu. Os residentes em Ndunda relatam que desde a fundação do bairro, quando o local era ainda era uma mata, a fiscalização da edilidade nunca se fez presente – nem mesmo para chamar a atenção aos que construíam casas no local.
Agora, os moradores esperam que as ordens municipais sejam cumpridas e prometem medidas duras contra a equipa de demolição, segundo afirmou uma residente. "Eu dormia em cima de cobras, mas hoje em dia, que estão a ver pessoas, estão a dizer que querem tomar esse espaço. Aqui vivíamos em três casas, agora está cheio e vocês vieram. Não estou a gostar, vamos morrer todos", disse a senhora, referindo-se à edilidade.
"Terreno tem dono"
A DW África ouviu o vereador para área de urbanização no município da Beira, Albano Cariche, que mostrou um recuo na decisão. Mas ele garante que o espaço pertence a outro proprietário.
Sem avançar detalhes, Albano Cariche assegurou que a referida área é uma reserva para a construção de uma escola privada. O responsável disse também que "as notificações são para que as pessoas apresentem documentos que comprovem que estão a viver lá legalmente".
Mas há um munícipe que tem opinião diferente. "Disseram que este terreno pertence a uma proprietária estrangeira que já legalizou documentos para este espaço. Afinal de contas, nós quando chegamos aqui não encontramos nenhum sinal".
Até ao fecho desta reportagem, o vereador para área da urbanização não avançou o que poderá acontecer com a comunidade, se serão alojados em outro local ou se vão receber alguma indemnização ou ajuda para mudar-se.
Do luxo à decadência - o Grande Hotel da Beira
O Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Com a guerra civil, entrou em decadência. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro. Mas ainda há vida no hotel.
Foto: Oliver Ramme
Do luxo à decadência
A festejada inauguração do Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Mas com a guerra civil moçambicana, o empreendimento realmente entrou em decadência. O prédio foi esvaziado e veio a servir de abrigo para refugiados. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro.
Foto: Oliver Ramme
Sinais do abandono
O hotel está localizado na Avenida Mateus Sansão Muthemba, no bairro da Ponta Gêa, quinze minutos à pé do centro da cidade. O Grande Hotel nunca teve muito sucesso comercial, nem no tempo colonial português, e foi abandonado pelos donos. A construção ficou escurecida por todos os lados pela ação do tempo e falta de manutenção.
Foto: Oliver Ramme
A natureza reconquista o lugar
O empreendimento português oferecia 110 suítes luxuosas em 12 metros quadrados. Mas hoje em dia pouco resta do esplendor dos tempos em que estava a funcionar como hotel. A natureza começa a recuperar o espaço. Crescem árvores nos balcões do prédio.
Foto: Oliver Ramme
Cenário para filmes
O foyer do hotel tem o tamanho de um ginásio desportivo. Nas extremidades, a luz entra pelas imensas janelas e crianças aproveitam para brincar no local. O cenário é estranho e atrai jornalistas, escritores e realizadores. O antigo hotel já serviu de cenário para vários filmes como "Hóspedes da Noite", do brasileiro Licínio Azevedo, e "Grande Hotel", da belga Lotte Stoops.
Foto: Oliver Ramme
Quiosques nos corredores vazios
Onde antigamente passavam os empregados do hotel para servir os clientes, encontram-se espaços vazios. Em diversos cantos, alguns moradores vendem bebidas, comidas e outros produtos.
Foto: Oliver Ramme
Escadarias sem corrimãos
A maioria dos moradores quer sair do Grande Hotel. O lugar não oferece muitas condições e nem é seguro. Nas escadarias foram retirados, ao longo dos anos, os corrimãos. Quem não tiver cuidado, arrisca uma queda de vários andares que pode ser mortal.
Foto: Oliver Ramme
Fogueira de lenha no Grande Hotel
No chão de cimento – há muito tempo que as alcatifas desapareceram –, um fogo de lenha de carvão serve para cozinhar. Num hotel normal, o fumo riria acionar o alarme de fogo. Aqui, no Grande Hotel da Beira, já há muito tempo que não há alarmes.
Foto: Oliver Ramme
Lixo: um dos maiores problemas
Uma dor de cabeça para muitos moradores são os detritos que se acumulam nas partes baixas do Grande Hotel. Chegam a ter vários metros de altura – um risco para a higiene de todos os moradores. De vez em quando, há ações de limpeza e a comissão dos moradores tenta melhorar a recolha de lixo, mas muitas vezes em vão.
Foto: Oliver Ramme
4.000 moradores
Onde antigamente 110 suítes luxuosas eram ocupadas por não mais de 250 pessoas, vivem hoje aproximadamente 4.000 pessoas. Terraços, antigos quatros de serviço e espaços em baixo de escadas servem para os "apartamentos" de hoje. Muitos chegaram como refugiados da guerra civil. Porém, antes de poder morar aqui, quase todos tinham que pagar uma comissão a outros moradores.
Foto: Oliver Ramme
Vistas
As secções que ligavam as várias partes do hotel já não têm janelas. Abrem-se vistas bonitas. De um lado, para o centro da Beira – o Grande Hotel fica apenas a quinze minutos à pé do centro da segunda maior cidade de Moçambique. Do outro lado é possível ver o Oceano Índico a poucos metros do Grande Hotel, apenas separado do mar pela avenida marginal.
Foto: Oliver Ramme
Que futuro para o Grande Hotel?
A piscina do Grande Hotel já há muito tempo não vê nenhum turista a tomar banho. Qual o investidor que teria interesse pelas ruínas de um hotel que já estava decadente mesmo durante a administração portuguesa? A maioria dos moradores do Grande Hotel não conta que vão ter que ceder o seu espaço para que o Grande Hotel possa ressuscitar e abrigar de novo turistas nas suas suites de luxo.