As demolições em Angola estão paradas, por enquanto. A ONG SOS Habitat explica que é sempre assim em fase de eleições. Foi assim em 2008 e 2012 quando o povo foi chamado às urnas.
Publicidade
As demolições e expropriações de terra intensificaram-se em 2007, mas atualmente esta prática tende a baixar. Segundo André Augusto, o novo coordenador da ONG angolana SOS Habitat, "em termos de demolições regista-se um pequeno silêncio que se justifica com o período pré-eleitoral que estamos a atravessar. Normalmente em Angola, sempre que há um processo eleitoral, como o próprio eleitorado também é vítima de demolições, então automaticamente o Governo suportado pelo MPLA tem adotado a estratégia de parar um pouco com as demolições.”
Há vítimas de expropriação de terras fundiárias e demolições de residências em quase todo o território angolano. As províncias do Cunene, Benguela, Huíla, Huambo, Cabinda e Uíge são alguns exemplos. Mas Luanda alberga o maior número de sinistrados. São mais de 50 mil pessoas a viverem em tendas.
Atualmente, explica André Augusto, as pessoas continuam ao relento porque as negociações com o Governo da província de Luanda para o seu realojamento condigno não estão concluídas: "Por exemplo, [os desalojados] da Areia Branca já estão há quase três anos, da Sapu estão há dez anos, comunidades do Zango I também já estão há mais de sete anos [à espera]”.
Mortes na sequência das demolições
Luanda é assolada nos últimos dias por intensas chuvas. O ativista explica que, em função disso, os populares que vivem em tendas estão a passar por maus bocados. A falta de condições básicas nas zonas de realojamento está a causar vítimas mortais, até agora há um registo de 40, segundo a ONG.
24.04.2017 Demolições em Angola - MP3-Mono
Augusto diz que "as pessoas começaram a morrer por causa da miséria, do sofrimento, da falta de meios alimentares, de meios sanitários onde são forçadas a viver. Muitas delas morreram durante o processo de demolição, outras foram vítimas de espancamento, e outras ainda morreram porque foram torturadas pela políca e não resistiram [as agressões].”
A DW África tentou ouvir o Governo de Luanda, sobre o programa de realojamento das populações, mas sem sucesso. Augusto André diz que a sua organização tem apelado frequentemente às autoridades para que a situação seja solucionada: "Temos estado sempre apelar às autoridades angolanas, no sentido de serem mais sensíveis para com a situação das comunidades sinistradas.”
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.