No Zimbabué, as denúncias de rapto e tortura a críticos do Governo estão a tornar-se cada vez mais frequentes. Crimes que têm estado a ser associados às agências de segurança do Estado. Governo distancia-se da violência.
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Tatenda Mombeyarara tem 37 anos e é uma das vítimas destas perseguições. O ativista de direitos humanos foi sequestrado e torturado na noite de 13 de agosto de 2019, encontrando-se agora a recuperar de uma cirurgia ao pé. Os homens que o atacaram acusaram-no de conspiração para derrubar o Governo.
"Tinha acabado de adormecer quando ouvi um barulho na janela. Ouvi várias vozes a gritar: "Polícia! Polícia! Abram ou entramos à força!” No momento em que vi as máscaras, fez-se luz e percebi que já era tarde demais”, contou à DW.
Tatenda Mombeyarara é coordenador de um movimento de cidadãos. Em maio, quando regressava das Maldivas, onde participou num seminário sobre envolvimento cívico, ele e seis colegas do movimento, foram presos e acusados de subversão.
Um episódio que, segundo ele, mudou a sua vida: "Sinto-me cercado. Nem sequer me sinto à vontade para andar pelas ruas de Harare, não porque tenha feito alguma coisa, mas porque me sinto ameaçado. Estarmos sob a atenção do Governo e sentirmo-nos atacados por ele é um pesadelo. Sinto-me mal”.
Denúncias de rapto e tortura no Zimbabué
A situação económica no Zimbabué tem vindo a deteriorar-se. Só no último ano, o custo de vida aumentou drasticamente, tendo a inflação atingido os 175%. Os protestos têm estado a surgir com os zimbabueanos a exigir ao Governo que resolva a situação. Mas, "silenciar as vozes críticas” tem sido a resposta do Executivo, acusa a oposição.
Governo nega acusações
Vários ativistas afirmam que, pelo menos, 26 membros dos principais partidos da oposição foram raptados e torturados desde 14 de agosto. Acusações que foram já refutadas pelo Executivo que diz não ter qualquer responsabilidade nestes atos de tortura.
Nick Mangwana é porta-voz do gabinete do Presidente Emmerson Mnangagwa e assegura que "o Governo não rapta cidadãos. Se alguém for suspeito de ter cometido um crime desta natureza, o Governo, através das suas instituições da polícia, irá deter as pessoas em causa e levá-las a julgamento. E em caso de condenação, estas cumprirão a sua pena”.
É preciso mais do que garantias...
Garantias que não são suficientes para Doug Coltart, um advogado de direitos humanos, que foi também vítima de violência por parte da polícia.
Coltart entende que "o Estado do Zimbabué não está a garantir a segurança dos seus cidadãos. O Artigo 52 da Constituição garante o direito de todas as pessoas a não sofrerem violência de fontes públicas ou privadas. E todas as provas apontam para que o Estado seja o principal perpetrador destes abusos".
O crescente número de ataques contra opositores do Governo já mereceu uma repreensão das missões internacionais no Zimbabué. Bishow Parajuli, é o coordenador da ONU no país e diz que "abordar as pessoas à noite com máscaras e espancá-las é absolutamente intolerável. Tem que haver diálogo. Está na hora do novo Zimbabué fomentar confiança".
A violação de direitos humanos no Zimbabué já não é novidade e era uma prática comum no Governo de Robert Mugabe, tendo levado à aplicação de sanções a vários políticos do país.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.