Denúncias de tortura e detenções na Guiné Equatorial
António Rocha | Lusa
7 de fevereiro de 2018
Opositores políticos estão a ser perseguidos "todos os dias" pelas autoridades de Malabo, denunciou à DW África um dirigente da oposição. Um militante terá sido torturado até à morte. UE diz-se "seriamente preocupada".
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O Governo de Malabo tem sido acusado por várias organizações internacionais de constantes violações dos direitos humanos. As denúncias subiram de tom nas últimas semanas, depois de uma violenta repressão contra membros da oposição desencadeada pelas autoridades, que anunciaram terem frustrado a 24 de dezembro do ano passado uma tentativa de golpe de Estado, que pretendia derrubar o Presidente Teodoro Obiang Nguema, no poder desde 1979.
Após a alegada tentativa de golpe de Estado, a sede do principal partido da oposição, Cidadãos para a Inovação, foi cercada e dezenas de militantes desta formação permanecem detidos desde final de dezembro.
Membros do partido têm denunciado situações de tortura. Um militante, Santiago Ebbe Ela, de 41 anos, morreu em janeiro numa esquadra em Malabo. "Temos fotografias que provam que Ebbe Ela morreu vítima de atos de tortura", disse à DW África Andres Esono Ondo, secretário-geral da Convergência para a Democracia Social na Guiné Equatorial (CPDS), da oposição.
Com "a radicalização do regime após as últimas eleições", o partido teme que mais casos como este venham a ter lugar nas próximas semanas ou meses. "Os opositores políticos estão a ser perseguidos quotidianamente. A oposição não pode trabalhar porque não tem espaço para agir e se critica o regime vai para cadeia e é considerado pelo regime de inimigo da nação", conta Andres Esono Ondo.
UE "seriamente preocupada"
Na sequência da morte na prisão de Ebbe Ela e da detenção arbitrária de mais de 130 pessoas depois das últimas eleições, a União Europeia (UE) considerou na segunda-feira que há uma "grande deterioração da situação dos direitos do homem", na Guiné Equatorial. "As restrições à liberdade, as prisões, em particular de opositores políticos desde novembro de 2017, suscitam grandes preocupações", afirmou Catherine Ray, porta-voz dos serviços externos da UE, numa declaração publicada no site da organização europeia.
Até agora, lê-se ainda no comunicado, "mais de 130 pessoas foram dadas como arbitrariamente detidas" e a morte de Ebee Ela, do partido da oposição Cidadãos pela Inovação, "confirma a séria deterioração da situação dos direitos humanos no país". Apela, por isso, a uma investigação rápida e adequada às causas da sua morte.
Denúncias de tortura e detenções na Guiné Equatorial
Andres Esono Ondo pede à UE em particular e à comunidade internacional em geral "maior pressão", no sentido de ser realizado um inquérito internacional para se saber o que realmente aconteceu a Ebbe Ela. "Não é o primeiro assassinato do género que acontece nas celas daqui, mas desta vez pedimos à comunidade internacional para que exerça pressão sobre as autoridades de Malabo para que este inquérito tenha lugar", sublinha.
Questionado sobre se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização da qual faz parte a Guiné Equatorial, não seria a mais indicada para realizar este inquérito, Esono Ondo diz "não compreender como a CPLP aceitou ter no seu seio a pior ditadura de África."
"Com o dinheiro do petróleo, o senhor Obiang compra a vontade das pessoas na Guiné Equatorial e no estrangeiro. Somos um pequeno país com menos de um milhão de habitantes, mas uma nação muito rica em petróleo e outros recursos. E assim sendo, a comunidade internacional prefere privilegiar as relações económicas com o regime Obiang, em detrimento do respeito pelos direitos do homem", critica o dirigente.
Posição de Portugal
Portugal transmitiu ao Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder) que as "alternâncias governativas" devem respeitar a Constituição, as leis fundamentais e os processos democráticos", noticiou a agência Lusa, citando uma fonte do Ministério português dos Negócios Estrangeiros (MNE).
Essa posição foi defendida na semana passada quando o encarregado de Negócios de Portugal em Malabo "foi chamado para um encontro com a direção do partido no poder na Guiné Equatorial, procedimento que segundo ainda a diplomacia portuguesa "foi seguido pelas autoridades de Malabo para com a generalidade do corpo diplomático acreditado em Malabo".
A página oficial do Governo da Guiné Equatorial dá conta desse encontro, alegando que o representante de Portugal "condenou os factos terroristas que fracassaram na Guiné Equatorial". Um encontro que a oposição em Malabo diz desconhecer.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.