Temporal pode seguir para centro e sul de Moçambique
Ernesto Saúl (Maputo)
25 de outubro de 2016
Temporal deixou quatro mortos e dezenas de feridos esta segunda-feira (24.10), em Maputo. Instituto de Metereologia prevê fortes chuvas em Inhambane, Manica e Sofala nos próximos dias.
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Quatro mortos, dezenas de feridos e diversas infraestruturas públicas e privadas destruídas é o resultado preliminar do temporal que se abateu, esta segunda-feira (24.10), na cidade e província de Maputo, no sul de Moçambique. O Instituto de Meterologia prevê mais temporais para as regiões sul e centro nos próximos dias.
As autoridades e a população ainda estão a contabilizar os danos gerais causados pela forte chuva. O líder religioso João David testemunhou o desabamento da sua igreja, em Maputo.
"Todo o teto e as chapas desta capela foram retiradas. O muro também desabou. É um estrago maior e na altura em que isto aconteceu haviam pessoas na capela e crianças nas proximidades. Há muitas outras pessoas que foram atingidas pelos estragos causados pelo vendaval”, relata.
Mortos e feridos
Também na capital moçambicana, os ventos derrubaram árvores que atingiram as viaturas que percorriam a avenida da Marginal, resultando na morte dos seus ocupantes, segundo Leonildo Pelembe, dos Serviços Nacionais de Salvação Pública.
"O forte vendaval que se fez sentir derrubou algumas árvores que embateram fortemente no interior de três viaturas que estavam estacionadas no local. Deste embate ocorreram quatro óbitos. Também houve ferimentos graves a seis pessoas. Os feridos foram transportados para o Hospital Central de Maputo, onde as pessoas recebem a assistência médica. Intervimos também na remoção de árvores, postes eléctricos, painéis publicitários e outdoors ao nível da cidade de Maputo”, avançou Pelembe.
Nos serviços de urgência do Hospital Central de Maputo deram entrada vinte e três feridos. São dados preliminares, porque os danos materiais e humanos provocados pelo vendaval estão, ainda, em contabilização.
"Registamos, neste período, vinte e três pacientes que apresentavam traumas motivados pelo desabamento de suas residências por causa do vendaval. Os pacientes foram atendidos. Maior número teve alta e alguns estão internados nas diversas enfermarias. Não tivemos pacientes que carecessem de cuidados intensivos. São dados preliminares”, afirmou o chefe das urgências do Hospital Central de Maputo, Filipe Coimbra.
Mais temporais nos próximos dias
25.10.,2016 Maputo-Tempestade - MP3-Mono
O Instituto de Meteorologia alerta que cenário poderá se repetir na região centro e parte da província de Inhambane nos próximos dias, de acordo com o meteorologista Telmo Sumila.
"Prevemos que este sistema se desloque para a região centro do país, concretamente em Manica e Sofala. A província de Inhambane, no sul, também será influenciada pelo fenómeno. Os efeitos desse sistema será igual ao que verificamos na cidade de Maputo. Estamos a falar de aguaceiros acompanhados de trovoadas e ventos fortes”.
O metereologista explica que "nesta época do ano, este fenómeno é comum, em dias com temperaturas ligeiramente altas e noites com elevada nebulosidade”. Telmo Sumila diz que "isto condiciona o aumento da energia potencial convectiva e queda de precipitação muito forte, ventos muito fortes e trovoadas intensas”.
Segundo o especialista do Instituto de Meterologia, não é possível emitir um aviso de temporal, pois os fenómenos se desenvolvem de forma repentina. "Nós prevíamos a ocorrência do fenómeno, mas não na magnitude em que se observou.”
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.