Depreciação do franco congolês gera onda de encerramentos
Patrice Chitera | cvt
30 de junho de 2017
Muitos comerciantes e pequenas empresas na República Democrática do Congo estão a encerrar os seus negócios. O franco congolês, a moeda nacional, sofreu uma depreciação de mais de 100% e continua a baixar diariamente.
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A República Democrática do Congo (RDC) enfrenta uma crise económica devido à queda do preço das matérias-primas, a principal fonte de receita do Estado. Antes da crise, nas áreas mais populosas e com grande movimento comercial da capital, Kinshasa, era possível obter mantimentos necessários para o consumo diário, bem como produtos de luxo.
Mas isso mudou. Uma a uma, as lojas estão a encerrar as suas atividades e as que ainda sobrevivem já só têm alguns produtos nas prateleiras. Os comerciantes foram fortemente atingidos pelo colapso da moeda nacional. O franco congolês começou a perder valor em dezembro do ano passado e o poder de compra de muitos congoleses caiu para metade.
Depreciação do franco congolês gera onda de encerramentos
"Acho que agora é muito difícil vender, porque a moeda está cai todos os dias", conta Julia Mumba. A comerciante teve uma loja em Kinshasa durante mais de 10 anos, mas com a crise económica foi forçada a fechar as portas do seu negócio.
"Até podemos ter dinheiro, mas quando vamos ao mercado, percebemos que o preço aumentou. É melhor trocar o dinheiro em dólares", afirma. Segundo Julia Mumba, a renda é outro problema. "Muitas lojas cobram o aluguer em dólares, mas a taxa de câmbio é alta. Em francos congoleses, temos de pagar o dobro, em comparação com dezembro", explica.
Costatin Mulumba, comerciante de calçado, também está a passar por momentos difíceis, apesar da paixão das mulheres congolesas pelos sapatos. "Antes, vendíamos quase 100 pares de sapatos, mas hoje em dia, se vendermos 14 pares, já é um bom negócio", lamenta.
Dependência do dólar
A economia da RDC é fortemente dependente do dólar norte-americano. A situação atual é semelhante à que se viveu há mais de duas décadas, durante a era do antigo ditador Mobutu, quando se imprimiu um milhão de notas de francos congoleses.
A situação levou ao uso do dólar norte-americano no mercado local, o que ajudou a restaurar a confiança no comércio de negócios e bens.
Entre 2012 e o final de 2016, cada dólar podia ser trocado sem dificuldades por 900 francos congoleses. Mas desde dezembro de 2016, cada dólar é negociado por mais de 1500 francos congoleses.
Recentemente, uma equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) visitou o país para avaliar a possibilidade de reformular o setor financeiro, mas até agora nada mudou.
É preciso diversificar
O economista Samuel Bachunge diz que é preciso acabar com a forte dependência das matérias-primas e tentar diversificar a economia, apostando em setores como a agricultura e a tecnologia. "E também temos de ser mais sérios no modo como gerimos os nossos recursos. Mesmo que não sejam suficientes, uma boa gestão poderia ser uma resposta à crise", defende.
Nos últimos cinco meses, o Governo da RDC apresentou 28 estratégias de emergência para lidar com a crise, mas até ao momento a situação ainda não foi estabilizada.
Economistas afirmam que o colapso da moeda nacional em relação ao dólar não seria um problema, se o país não importasse a maioria dos produtos, incluindo alimentos.
A "maldição dos recursos" na República Democrática do Congo
O cobalto e o coltan são minérios abundantes na República Democrática do Congo. Mas, a par com a instabilidade regional, estes recursos atraem milícias, exploração e violência.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Recursos atraem violência e oportunistas
Nas províncias da região oriental da República Democrática do Congo (RDC), tesouros como ouro e estanho atraem milícias oportunistas. Estes grupos violentos exploram pessoas, incluindo crianças, na extração dos chamados "minerais de conflito" – como são o ouro, o cobalto e o coltan. Com as receitas angariadas, os grupos compram armas para conquistar mais territórios e assim, perpetuam o conflito.
Foto: picture alliance / Jürgen Bätz/dpa
Proteger os cidadãos e a exploração legal
A Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO), a maior e mais cara missão de paz da ONU, tem vindo a trabalhar na estabilização da situação nas províncias do norte e do sul de Kivu, que estão no centro da violência do país. As forças de segurança patrulham aldeias mineiras como Nzibira, localizada na margem da Zola Zola, uma mina legal de exploração de cassiterita.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Pagar “o preço humano” por telemóveis
A cassiterita é apenas um dos minerais usados na fabricação de telemovéis. Metade da produção mundial destes minerais vem da África Central. A exportação de estanho, ouro e outros minérios da RDC tem estado sob vigilância desde 2010, altura em que entrou em vigor, nos Estados Unidos da América, a lei que exige que as empresas americanas assegurem que não trabalham com "minerais de conflito".
Foto: picture-alliance/dpa/D. Karmann
Comprovar a legalidade dos minerais
Um cartaz em Nzibira explica como os sacos de minerais precisam de ser devidamente selados e rotulados por um inspetor de minas para que a sua origem legal possa ser provada às empresas dos EUA. No entanto, o sistema apresenta muitas falhas. As minas ilícitas podem simplesmente vender os seus "produtos" no mercado negro ou contrabande-á-los numa mina legal, embalando-os lá.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Exploração de crianças
Apesar dos esforços levados a cabo por organizações, as violações de direitos humanos continuam a existir na exploração de minérios na RDC. Crianças como Esperance Furahaare, que foi raptada e violada por uma milícia quando tinha 14 anos, são vítimas comuns da exploração e violência.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Impacto ambiental
As minas, que são difíceis de controlar, também podem prejudicar o meio ambiente e as comunidades vizinhas. Nas minas ilegais, acontece frequentemente, os esgotos misturarem-se com as águas locais, poluindo o abastecimento.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bätz
Futuro pouco claro para a legislação
Os responsáveis pelas leis nos EUA estão a tentar avançar com um projeto de lei que poderá eliminar a reforma de 2010 - que exige que as empresas assegurem que não trabalham com "minerais de conflito". Os legisladores argumentam que a Lei Dodd-Frank tem reprimido o desenvolvimento económico do país e não teve efeito prático na exploração na África Central.