Deputado da RENAMO queixa-se à PGR de gestão de Cahora Bassa
Lusa
19 de março de 2024
O deputado da RENAMO António Muchanga afirmou hoje que vai participar à Procuradoria-Geral da República (PGR) alegadas "negociatas" na gestão da Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), que nega essas acusações.
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A posição surge depois de na passada quinta-feira, em plena sessão parlamentar, o próprio deputado do maior partido da oposição ter questionado o Governo, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), sobre a gestão na HCB, a mais importante empresa do país e cujo Presidente do Conselho de Administração (PCA) é Tomás Matola, desde maio de 2023.
"Na HCB, chegam notícias horríveis sobre a gestão atual. O PCA nomeou o seu irmão para diretor de Hidrologia e Segurança de Barragem, tem um dos salários mais altos, também trouxe amigos do irmão", afirmou Muchanga, em plena sessão plenária.
"José Rodrigues Matola é trabalhador da HCB há cerca de 15 anos, engenheiro civil de formação (experiência profissional de cerca de 30 anos), com mestrado em gestão de recursos hídricos e ambiente, há 27 anos. Já exerceu, na empresa, cargos de chefia, como o de Chefe de Departamento de Hidrologia", lê-se na resposta enviada à Lusa pelo Gabinete de Imagem e Comunicação da empresa.
O deputado da RENAMO reafirmou à agência de notícias as denúncias, acusando "comissionistas" ligados ao Governo por alegadas práticas que condicionam concursos para aquisição de bens e serviços pela HCB, enquanto a empresa diz que estes pronunciamentos resultam "de informações não verdadeiras" fornecidas por "pessoas de má-fé".
Nomeadamente "alguns antigos gestores que cessaram no processo da reestruturação" e que "ao perderem os cargos, não se conformando, encontraram como forma de retaliação a difamação do PCA", sendo "pura invenção" a alegação de que o PCA levou "amigos" para a empresa: "Todos os gestores nomeados são colaboradores da HCB".
O Estado moçambicano detém 90% do capital social da HCB, desde a sua reversão para Moçambique, acordada com Portugal em 2007, enquanto a empresa portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN) tem uma quota de 7,5% e a Eletricidade de Moçambique 2,5%.
"Sem resposta" do Governo
Garantindo ter informação obtida a partir de trabalhadores da HCB, Muchanga acrescentou que o relato interno é de compras de material e serviços "avaliados em 400% do custo real": "Não é só o futuro da HCB que está em causa, todas as empresas públicas em Moçambique não são rentáveis porque a prática é essa".
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Diz que ficou "sem resposta" do Governo, pelo que vai denunciar a situação noutras instâncias, acrescentando casos de alegada contratação de pessoal sem concurso e compra de viaturas pela administração "fora do plafond".
"Vamos colocar a questão à PGR, ao Gabinete de Combate à Corrupção", afirmou, insistindo: "Moçambique está pobre porque o que é cobrado por uma obra dava para fazer quatro".
Sobre as compras da empresa, a HCB refere que o processo é "regido" por um manual de "procurement" e que as decisões "são tomadas colegialmente" pela comissão executiva, "suportadas por relatórios do concurso".
Acrescenta que iniciou há quatro anos a implementação de "medidas de reestruturação estratégicas", para "reduzir os custos com o pessoal", que "se consideravam muito altos", e "tornar a empresa mais eficiente". Em 2020 foi contratada uma consultora e em novembro de 2023, aprovada pela atual administração uma "nova estrutura orgânica, incluindo a política de recursos humanos".
As anteriores 22 unidades orgânicas de primeira linha foram reduzidas a 16, e as de segunda linha (departamentos) de 40 para 30, levando a "economias nos custos globais de estrutura, através da redução de custos com pessoal, viaturas para gestores e respetivos gastos de manutenção".
A albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior de África. No final de 2022, a HCB contava com 780 trabalhadores e registou lucros de 9.207 milhões de meticais (131,6 milhões de euros), mais 9,3% face a 2021.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.