Deputados tomam posse na Assembleia Nacional de Angola
Lusa | gs
28 de setembro de 2017
O Parlamento angolano tem caras novas, a partir desta quinta-feira (28.09), depois das eleições gerais de 23 de agosto. O líder da UNITA afirma que deputados vão ocupar os assentos para "combater a corrupção".
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A cerimónia de investidura dos 220 deputados eleitos nas eleições de 23 de agosto tem lugar esta quinta-feira (28.09) na sede do Parlamento angolano.
O Movimento Popular da Libertação de Angola (MPLA) conta com 150 deputados, a União Nacional para a Independência Totald e Angola (UNITA) tem 51, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) tem 16 parlamentares, na bancada do Partido de Renovação Social (PRS) estão sentados dois deputados e apenas um representa a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
"O Grupo Parlamentar da UNITA vai para este Parlamento não para consolidar a errada impressão dos que pensam que se vai ao parlamento por causa dos Lexus [alusão à distribuição de viaturas luxuosas por todos os deputados à Assembleia Nacional], mas para demonstrar permanentemente que estão lá porque esse é o palco mais indicado para combater os males do país", afirmou o líder Isaías Samakuva, esta quarta-feira (27.09), em Viana, arredores de Luanda, na abertura da quarta reunião ordinária da Comissão Política do Comité Permanente.
Entre esses "males", Samakuva destacou "a má governação, o desemprego, os assaltos aos cofres do Estado e o nepotismo".
O líder da UNITA, que ocupa o cargo desde 2003, depois da morte do fundador Jonas Savimbi, em 2002, entende que o "fim da era da partidarização do Estado, do enriquecimento ilícito na utilização de cargos públicos e uma nova abordagem sobre reconciliação nacional" são algumas das metas que os angolanos esperam dos seus representantes na Assembleia Nacional.
No entender de Isaías Samakuva, os deputados da UNITA devem combater no parlamento a "exclusão social e a discriminação económica", bem como a "subalternização" do Estado e da Assembleia Nacional ao MPLA e ao Governo.
Regime angolano "não mudou”
Num discurso crítico, Isaías Sdamakuva entende que os problemas de Angola "vão continuar" com João Lourenço na presidência, uma vez que o regime "não mudou" com as eleições de 23 de agosto.
"As violações dos direitos humanos continuam e vão continuar, o país continua e vai continuar com uma profunda crise de valores, com um Estado predador, uma constituição atípica, uma economia prostituída, uma dívida pública insustentável", apontou Samakuva.
No entender do líder da UNITA, o grande obstáculo à concretização da justiça e da paz social é "a captura das instituições do Estado pelo partido/Estado, a partidarização do Estado".
Angola precisa de "de amplos diálogos", nomeadamente "entre ricos e pobres, letrados e iletrados", acrescentou Isaías Samakuva.
Os partidos da oposição não se fizeram representar na cerimónia, por contestarem os resultados oficiais divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral.
Angola vota: Eleições em imagens
Angolanos vão esta quarta-feira (23.08) às urnas escolher o sucessor de José Eduardo dos Santos, Presidente da República desde 1979. Críticas e desejo de mudança marcam eleições gerais de 2017.
Foto: Getty Images/AFP/A. Rogerio
João Lourenço, o sucessor
João Lourenço é o cabeça-de-lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder há mais de quatro décadas. Tinha acabado de votar e mostrou o indicador direito marcado com tinta azul quando se ouviu um apelo para que levantasse quatro dedos - o sinal da posição do partido no boletim de voto. Lourenço recusou o pedido.
Foto: Getty Images/AFP/A. Rogerio
Dia histórico
23 de agosto de 2017 já é um dia histórico para a República de Angola. Os mais de nove milhões de angolanos inscritos começaram cedo a escolher o sucessor do atual líder do país, José Eduardo dos Santos, que está no poder desde 1979. O próximo Presidente de Angola é o cabeça-de-lista do partido mais votado.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Eleitores prontos
Já por volta das 7 horas da manhã, os eleitores angolanos faziam fila para votar. Em Luanda, o ambiente das assembleias de voto era tranquilo. Entretanto, cidadãos disseram ter dificuldades em localizar as suas assembleias de voto.
Foto: DW/A. Cascais
Eleitores do Huambo
Idalina Salomé, de 26 anos, votou pela primeira vez e apelou aos eleitores que ainda não votaram para exercerem o seu direito de cidadania. Na cidade do Huambo, o correspondente da DW, José Adalberto, diz que os munícipes têm afluído em massa às urnas.
Foto: DW/J.Adalberto
Quartas eleições
Essas são as quartas eleições já realizadas e as segundas nos moldes atuais, com a eleição direta do Parlamento e indireta do Presidente da República. As eleições estão a ser vigiadas por mais de 100 mil agentes de segurança e foi decretada tolerância de ponto em todo o país.
Foto: DW/A. Cascais
Adeus José Eduardo dos Santos
O Presidente cessante, José Eduardo dos Santos, líder do MPLA, partido no poder desde a independência do país, em 1975, votou por volta das 9 horas da manhã na Escola Primária de São José de Clunny, no centro de Luanda. Depois de cerca de quatro décadas, deixará o poder oficialmente após as eleições desta quarta-feira.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Samakuva vota no Talatona
O candidato da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o principal partido da oposição, votou na Universidade Óscar Ribas, no município de Talatona, na zona sul de Luanda, onde apelou ao voto do angolanos neste importante dia para a história do país. Isaías Samakuva criticou o processo eleitoral por alegadas "irregularidades".
Foto: Getty Images/AFP/A. Rogerio
Abel Chivukuvuku
Depois de votar, o cabeça-de-lista da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Abel Chivukuvuku, pediu às instituições que tutelam o ato eleitoral para que "cumpram com o seu papel"; de modo a que seja possível "festejar um momento que pode ser um novo começo" para Angola.
Foto: picture-alliance/Zuma/L. Fernando
Observadores internacionais
Miguel Trovoada, ex-chefe de Estado são-tomense, lidera a missão de observação eleitoral da CPLP. Já no início da votação, pela manhã, disse à DW que as eleições transcorriam de forma calma.
Foto: DW/J. Carlos
O sistema eleitoral angolano
A Constituição do país, aprovada em 2010, prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos. São eleitos 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (somando 90). Ao todo, são 220 deputados da Assembleia Nacional. Já o cabeça-de-lista do partido mais votado é automaticamente eleito Presidente da República.