Mais de três mil famílias que foram desalojadas da Ilha de Luanda para o distrito do Zango continuam sem o alojamento prometido pelo Governo em 2009. Muitos moradores ocuparam casas desabitadas e de lá já não saem.
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Sentem-se "abandonados pelos Governo". Foram desalojados em abril de 2009 e levados para o bairro Zango I, no município de Viana. Na altura, moravam em tendas oferecidas pelo Governo. A promessa era que ficariam naquelas condições precárias durante quatro meses, no máximo. Mas passaram quase dez anos e a situação continua por resolver.
Paulo António, cozinheiro de profissão, está farto de esperar. "Há casas nos projetos Luanda Limpa e há casas no Zango I e II. Então, que nos dêem as casas. Partiram a minha casa, que o Estado não me ajudou a construir", lembra.
Muitas famílias têm vivido em casas feitas com chapa de zinco, que continuam a aumentar. Outras ocuparam casas que estavam desabitadas em projetos habitacionais do Governo, que foram construídas naquela zona.
Há jovens que chegaram ao Zango I ainda adolescentes e que hoje já são adultos e estão a constituir família no bairro. "Um filho que chegou aqui com 20 anos, hoje tem 30 anos e se calhar já tem dois ou três filhos. Se eu, como pai, não tenho casa, ele também vai fazer uma de bate chapa", conta Domingos Cayaya, outro desalojado.
Domingos Cayaya sublinha que estes jovens também merecem casas condignas, com acesso a água e eletricidade e condições básicas de saneamento. Mas no bairro falta isso tudo. "A falta de saneamento básico está associada ao surgimento de várias doenças aqui no bairro. A população é vulnerável a todo o tipo de doença, explica Luís Artur, coordenador da comissão de moradores. "Muitas doenças curáveis aqui tornam-se endémicas", lembra ainda.
Ultimato ao Governo
Boa parte dos moradores está desempregada e muitas crianças e jovens estão fora do sistema de ensino. As dificuldades motivaram, em dezembro, vários desalojados a ocupar casas desabitadas em projetos habitacionais do Governo. De lá, garantem que não vão sair.
Desalojados no Zango esperam há 10 anos por casas condignas
Outros populares preparam-se para seguir o exemplo. E deram um prazo ao Governo: esta terça-feira, 15 de janeiro. "No Zango III até ao Zango IV, há muitas casas vazias. Para um indivíduo que está a sofrer há dez anos, vendo uma casa vazia, qual será a tendência dele? Se alguém lhe soprar no ouvido que vamos ocupar casa, ele vai. Por mais que a invasão não tenha líder, ele vai porque precisa de uma casa", explica Domingos Cayaya.
Paulo António garante que, se a situação não for resolvida, vai ocupar uma residência desabitada. "Ainda não ocupei nenhuma casa. Mas, até ao dia 15, se não nos derem resultados, eu vou ocupar uma casa. São dez anos e não posso morrer aqui", garante.
Para além dos desalojados da Ilha de Luanda, camponeses que alegam ser proprietários de terras no Zango também estão à espera de que lhes sejam entregues residências, desde 2011. O Governo comprometeu-se a dar residências em troca das terras que perderam com os projetos habitacionais.
No entanto, até hoje, os camponeses continuam a viver em casas feitas de chapa. E também já estão fartos, desabafa José Pimpão, coordenador do bairro Kitondo I, do Zango III. "Aqui tem espaço que chega para esta população, mas impedem-nos de construir casas. Tem casas aqui nos arredores e que as administrações vendem", lamenta.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.