Descarrilamentos em Angola: Negligência ou acidente?
27 de abril de 2022Nos últimos três meses ocorreram três descarrilamentos de comboios em Angola. As causas dos acidentes, que não fizeram vítimas mortais, continuam por apurar.
O mais recente acidente ocorreu na passada sexta-feira (22.04), quando um comboio que transportava 205 passageiros, e que fazia a rota entre Luanda e Malange, descarrilou. Não há registo de vítimas mortais, mas um dos membros da tripulação sofreu ferimentos ligeiros.
Descarrilamentos
De acordo com o porta-voz do Caminho de Ferro de Luanda, Augusto Osório, "o acidente ocorreu no ponto quilométrico 142, a nove quilómetros da estação do Zenza do Etombe, província do Kuanza Norte, e resultou no descarrilamento e tombo total da locomotiva e do 'Power Car' sem, entretanto, causar danos na linha férrea".
A administração do Caminho de Ferro de Luanda assegurou que iria criar uma comissão de inquérito para apurar as causas do acidente.
Os descarrilamentos de comboios são frequentes em Angola. Em fevereiro, uma locomotiva com 14 cisternas carregadas de gasóleo e gasolina, que se deslocava para a província de Malanje, descarrilou na cidade de N'Dalatando. Até hoje, as causas do acidente permanecem desconhecidas. Desta vez, a tripulação não ficou ferida.
No início de março, um comboio do Caminho de Ferro de Benguela, de três carruagens, também descarrilou na localidade de Nalambada, a 14km da cidade do Luena, capital da província do Moxico. Na altura, foi dito que o acidente ocorreu quando o comboio "fazia o desvio da linha", o que, à partida, descarta a hipótese de negligência por parte do maquinista.
Mas porque é que há tantos descarrilamentos de comboios em Angola?
A DW África procurou saber de fonte oficial em que ponto estão os inquéritos aos acidentes, mas não obteve resposta. No entanto, o jornalista Ilídio Manuel aponta algumas possíveis causas dos descarrilamentos.
"Há uma série de fatores que concorrem para o descarrilamento, nomeadamente a qualidade da linha férrea e a própria segurança ferroviária", afirmou Ilídio Manuel.
Os comboios de Angola não têm sido apenas alvo de descarrilamentos sem respostas. Em fevereiro deste ano, o Caminho de Ferro de Luanda queixou-se da vandalização das ferrovias e dos comboios. Segundo a imprensa local, 14 locomotivas foram vandalizadas.
A DW África constatou também que há muito lixo ao logo da linha férrea e pessoas que vendem sobre a via.
Para o jornalista Ilídio Manuel, é urgente conhecer os resultados das investigações, até para que se possam evitar vítimas mortais.
"Fala-se da abertura de um inquérito, mas as conclusões raramente chegam ao público. Desde sempre se suspeitou que estas obras de caráter eleitoralista, que foram feitas às pressas, sem a devida fiscalização, por parte das empresas chinesas, podem estar a contribuir para os acidentes ferroviários".
Independentemente da origem dos acidentes ser negligência ou causas acidentais, o jornalista Ilídio Manuel deixa uma sugestão para prevenir futuros descarrilamentos de comboios.
"Antigamente, havia muito mais cautela na questão da movimentação dos comboios. Havia uma vagoneta que percorria todo o traçado antes do comboio principal fazer-se à linha. Agora, volta e meia, os comboios mal saem da estação e acabam por acidentar."