Cabo Delgado: População relata mortes e raptos em Mitope
Lusa
15 de março de 2023
Um novo ataque perpetrado, esta terça-feira, por homens desconhecidos, na aldeia de Mitope, distrito de Mocímboa da Praia, deixou três mortos. Fontes locais dão conta ainda do rapto de oito mulheres e duas crianças.
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Um grupo armado desconhecido matou na terça-feira três residentes de uma aldeia de Cabo Delgado, norte de Moçambique, de onde raptaram 10 mulheres e crianças, relataram, esta quarta-feira (15.03), fontes locais.
"Fomos surpreendidos ontem [terça-feira] por volta das 18:00. Surgiram 'terroristas' e decapitaram três pessoas, um meu vizinho e dois da força local", descreveu uma residente de 69 anos que vive em Mitope, distrito de Mocímboa da Praia.
População em fuga no norte de Moçambique
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"É uma tristeza porque estamos perto de [forças de] segurança aqui em Awasse", referiu na língua local 'kimwani', numa alusão ao posto mais próximo onde há tropas ruandesas estacionadas, na Estrada Nacional 380 (EN380), que cruza Cabo Delgado.
A residente contou que andou a pé durante a noite, de Mitope até Awasse, à procura de segurança.
Rapto de 10 pessoas
Uma outra fonte da comunidade fez saber que o mesmo grupo levou para parte incerta oito mulheres e duas crianças.
"Levaram nossos familiares, 10 no total, são oito mulheres e duas crianças que não sabemos para onde foram", lamentou um residente de 47 anos, que também falava já a partir de Awasse.
Após o ataque, os membros da força local estiveram reunidos e alertaram as autoridades, pedindo um aumento do efetivo.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
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Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.
Foto: DW
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"Estamos a trabalhar para que isso não volte a acontecer e as autoridades já foram informadas. Nós não vamos descansar até que a paz volte a reinar aqui em Mitope", disse um dos elementos.
A comunidade de Mitope fica junto a Awasse, ao longo da EN380.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.