Desflorestação em Moçambique preocupa especialistas
14 de agosto de 2019A deflorestação continua a ritmo acelerado em Moçambique, vinte anos após a adoção da Lei de Terras
"Tivemos alguns resultados positivos, mas não conseguimos reduzir as taxas de desmatamento no país", refere João Carrilho, investigador da organização não-governamental moçambicana Observatório do Meio Rural (OMR).
Cerca de 41% do território nacional é constituído por florestas, o equivalente a 34 milhões de hectares. No entanto, Moçambique perde anualmente cerca de 86 mil hectares (mais de 120 mil campos de futebol), sobretudo devido ao desmatamento.
As perdas desde os anos 70 totalizam mais de oito milhões de hectares, uma área equivalente a quase o tamanho de Portugal, conforme dados recentes divulgados pelo Governo em parceria com o Banco Mundial.
A culpa é da agricultura
A maioria do desmatamento e degradação florestal no país é causada por práticas agrícolas insustentáveis, que prejudicam o bem-estar social, ambiental e económico, segundo o OMR.
"Há uma ideia errada de que a principal razão do desmantelamento é o corte de madeira, para lenha e para carvão. Mas não é isso. 65% da área que é desmatada anualmente é substituída por agricultura", explica o investigador João Carrilho.
Dois dos principais impactos do desmatamento são o aumento das emissões de gases de efeito estufa, embora em pequenas proporções no caso de Moçambique, e o deslizamento de terras, uma vez que as florestas são muito importantes para reter os solos.
Melhorar as práticas agrícolas
Para o académico Almeida Sitoe, o dinheiro que é ganho no processo de conversão de florestas seria melhor investido no desenvolvimento da agricultura, no setor energético e no "próprio processo de educação das pessoas que vivem dependentes dessa floresta."
Em Moçambique, a agricultura é praticada por mais de 80% das famílias que vivem em áreas rurais, sendo a principal fonte de alimento e de renda. No entanto, o país tem um dos níveis de produtividade agrícola mais baixos da África Austral.
Por isso, o investigador João Carrilho defende uma melhoria da tecnologia agrícola, para que se possa produzir mais na mesma área.
"E se não começarmos hoje, em 2050 teremos o dobro da população com necessidade de alimentos a duplicar e com as florestas a reduzir", alerta.
Carrilho defende ainda a conversão da atual legislação de florestas num instrumento centrado na gestão de recursos florestais e não na sua exploração.
Para o académico Almeida Sitoe, a gestão dos recursos florestais passa pela integração de diferentes setores, para que "o derrube de florestas deixe de ser viável e as pessoas olhem para a floresta e digam que não vale a pena cortar a floresta, porque não vão ganhar mais comparativamente a outras formas de uso."