São agora 3.8 milhões, segundo o ACNUR. Muitos fogem da violência na região de Kasai.
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O número de deslocados na República Demcorática do Congo subiu de cerca de dois milhões, no início deste ano, para 3.8 milhões em seis meses, anunciou George Okoth-Obbo, número dois do ACNUR, este sábado (26.08), no terceiro e último dia de uma visita ao país.
A violência na região central de Kasai já causou a morte de cerca de três mil pessoas e pôs em fuga 1.4 milhões de congoleses.
Para Angola, nomeadamente para a província da Lunda Norte, já fugiram 33 mil refugiados congoleses devido à violência no Kasai. "As condições hoje em Kasai são tais que não podemos encorajar ou promover o retorno dos refugiados", disse George Okoth-Obbo do ACNUR.
O rastilho para a violência em Kasai deu-se em setembro de 2016, depois da morte de um líder tribal, conhecido como Kamwina Nsapu, que se rebelou contra a autoridade do Presidente Joseph Kabila.
A escalada de violência tem-se pautado por violações dos direitos humanos, nomeadamente execuções extrajudiciais, violações, tortura e utilização de crianças soldado.
Violência em várias regiões
Mas na província de Tanganica, no sudeste do país, confrontos entre as etnias Bantu e Pygmy também forçaram milhares de pessoas a fugir, segundo o ACNUR.
A estes deslocados acrescem ainda aqueles que fogem dos conflitos no leste da República Democrática do Congo, nas províncias do Kivu Norte e Sul, em crise há cerca de 20 anos.
A prioridade do ACNUR é a "proteção imediata" dos deslocados internos de Kasai, onde "faltam roupas e alimentos" e onde crianças "dormem em condições difíceis de imaginar", afirmou George Okoth-Obbo.
Ao memso tempo, a República Democrática do Congo vê-se a braços com a chegada de cerca de 500 mil refugidos do Burundi, Ruanda, Sudão do Sul e República Centro-Africana.
Angola: Congoleses denunciam horrores vividos
A província da Lunda Norte, em Angola, está a acolher diariamente centenas de congoleses que continuam a fugir à violência na região do Kasai, na República Democrática do Congo.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Mais de um milhão de deslocados
Estima-se que, pelo menos, 3.300 pessoas tenham já morrido na sequência do conflito que, desde agosto de 2016, se tem desenrolado nas região do Kasai e Kasai Central, na República Democrática do Congo, (RDC). 1,3 milhões de congoleses foram obrigados a fugir da região devido à violência da milícia Kamuina Nsapu.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Millhares no Campo de Kakanda
Germaine Alomba tem 29 anos e é uma das congolesas que conseguiu atravessar a fronteira rumo a Angola, estando abrigada, atualmente, no centro provisório de Kakanda. Como ela, cerca de 30 mil congoleses estão refugiados em Angola. A este campo chegam, todos os dias, cerca de 500 pessoas, muitas delas transportadas em camiões e autocarros cedidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Acusações a Kabila
Segundo as autoridades católicas no Congo, já foram encontradas mais de 40 valas comuns na região do Kasai. Congoleses em Angola ouvidos pela DW África, revelam que a violência contínua tem sido alimentada pelo Governo de Kabila. "[Ele] está a organizar uma guerra, está a entregar armas aos civis para matar a população. O sofrimento neste momento é muito", denuncia Jimba Kuna, um dos refugiados.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Familiares desaparecidos
Odia Rose é outra das vítimas deste conflito. A sua filha adolescente, de 15 anos, desapareceu quando ambas tentavam fugir à violência no seu país. Hoje, conta à DW, "reza todos os dias para a reencontrar com vida".
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Repetem-se as atrocidades
Mbumba-Ntumba é o espelho das atrocidades que sucedem na região do Kasai. "Estava em minha casa e um grupo de pessoas entrou e começou a bater-me. Cortaram o meu braço com uma catana e bateram-me na cabeça", contou em entrevista à DW África o congolês de 65 anos. Ntumba foi resgatado inconsciente por voluntários da Cruz Vermelha que o levaram até à fronteira com Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Violência sem fim
As atrocidades não ficam por aqui. Recentemente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU voltou a enviar peritos para a região para investigar as denúncias de abusos, incluindo decapitações. Há relatos de refugiados que contam que foram forçados a enterrar vítimas em valas comuns e que afirmam que as milícias terão atacado e mutilado bebés e crianças.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Crianças sozinhas
Dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicam que mais da metade dos deslocados são menores e que, em muitas ocasiões, foram separados dos seus pais e familiares - como é o caso das quatro crianças na fotografia, atualmente refugiadas no Campo em Kakanda, Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Aulas de Língua Portuguesa
Tanto no Campo de Mussunga, onde se encontram alguns refugiados, como em Kakanda, onde está a maioria, foram criadas escolas improvisadas onde é ensinada às crianças a língua portuguesa.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Necessária mais ajuda
Em Angola, os centros de acolhimento improvisados estão já sobrelotados. Em entrevista à DW África, o bispo da diocese da Lunda Norte, Estanislau Chindecasse, explicou que é necessária “mais ajuda para que as pessoas possam ter, pelo menos, duas ou três refeições. O que estamos a fazer é o mínimo, porque não há outras possibilidades”, deu conta.