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Deslocados podem ditar mudança na geografia eleitoral

12 de setembro de 2023

Muitos deslocados internos poderão votar pela primeira vez nas autárquicas de 11 de outubro. Sonham com mais espaço para habitação e melhor serviço de saúde. Mas analistas preveem abstenções e mudanças no sentido de voto

Foto: Chris Huby/Le Pictorium/dpa/picture alliance

Anlawe Momade, natural do distrito de Macomia, região central de Cabo Delgado, fugiu da violência extremista em 2020 e estabeleceu-se no município de Pemba. Lá, conseguiu abrigo com familiares e iniciou um negócio de alfaiataria, uma atividade que exercia em momentos de segurança em Macomia.

Agora, três anos depois, está inscrito como eleitor e está ansioso para votar nas próximas eleições autárquicas. "Essa será a primeira vez que vou participar das eleições autárquicas. Anteriormente, só participava das eleições presidenciais", conta Anlawe.

Enquanto alguns deslocados enfrentaram problemas para se inscrever nos cadernos eleitorais, Anlawe relatou uma experiência positiva: "Não tive qualquer problema no posto de recenseamento, uma vez que eu estava bem identificado com os meus documentos".

Fim do conflito é um desejo

Porém reconhece que "as dificuldades podem ter afetado outras pessoas que talvez não estivessem devidamente identificadas". Só tem uma queixa: "Para mim, o maior desafio foi a grande afluência nos postos de recenseamento, o que me fez percorrer longas distâncias para me registar e obter o cartão de eleitor".

População espera que os eleitos trabalhem em prol da segurança em Cabo DelgadoFoto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Saide Ali, por outro lado, é natural de Mocimboa da Praia e deslocou-se para Montepuez durante os momentos turbulentos na sua terra natal. Agora que a situação de segurança melhorou em Mocimboa da Praia, Saide retornou e conseguiu se inscrever como eleitor.

O seu maior desejo: "Vamos escolher um candidato, e a pessoa que ocupará o cargo de edil em Mocimboa da Praia deve fazer um grande esforço para evitar mais conflitos".

"Estamos a pedir ajuda para que haja uma grande intervenção em Mocimboa da Praia e que a instabilidade não ocorra mais”, apela. 

O acesso a espaços para construir habitações é um dos principais desejos de Anlawe Momade, agora residente em Pemba. Além disso, espera ver melhorias nos serviços de saúde na principal cidade da província de Cabo Delgado durante o próximo mandato municipal.

"Existem muitos problemas em Pemba que gostaria de ver resolvidos. O governo municipal deveria focar mais na saúde. Nos hospitais, o tratamento não é o melhor. Embora haja profissionais de saúde, eles não estão a prestar o serviço de maneira adequada", queixa-se Anlawe.

Muitos deslocados internos que fugiram da instabilidade nas suas regiões de origem conseguiram se inscrever como eleitores e terão a oportunidade de exercer o seu direito de voto nos municípios de Pemba, Montepuez, Balama, Chiúre, Mueda, Ibo e Mocimboa da Praia.

Mudança na "geografia política"?

O analista Aly Caetano observa que a afluência aos postos de recenseamento por parte dos deslocados internos pode ser explicada pelo fato de muitas dessas pessoas terem perdido os seus documentos durante o conflito armado e o cartão de eleitor ser um meio de obter um novo documento de identificação.

Foto: GIANLUIGI GUERCIA/AFP/Getty Images

No entanto, Caetano prevê que muitos deslocados que se inscreveram possam optar por não votar: "Acredito que a abstenção será extremamente alta."

E argumenta que "primeiro, porque o cartão de eleitor se tornou um instrumento de identificação durante esse período, não apenas um meio de garantir o direito de voto. Em segundo lugar, as pessoas estão mais preocupadas em reconstruir suas vidas, que já estavam em situações extremamente difíceis, com a pobreza."

E para Caetano "parece que, no dia da votação, as pessoas o utilizarão para garantir alguma segurança alimentar para si e para seus filhos e para reconstruir suas vidas".

Por outro lado, prevê uma possível mudança na "geografia política" caso os eleitores deslocados internos decidam votar.

"A história mostra que certas áreas têm maior influência de determinados partidos. Com essa mudança na geografia eleitoral devido à mobilidade dos deslocados internos, podemos ter resultados eleitorais diferentes".

E explica que. "se uma pessoa viveu sempre em um local e depois se mudou para outro e ficou lá por um período significativo, o seu senso de pertença e as suas prioridades podem mudar, o que pode levar a abstenções, mas, acima de tudo, resultará em uma grande diferença na geografia eleitoral nessas eleições".

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