Ataques armados fazem crescer o número de deslocados no nordeste de Moçambique. Mais de 300 pessoas refugiaram-se no posto administrativo de Namialo na província de Nampula, onde subsistem em condições precárias.
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Os ataques protagonizados por insurgentes nos distritos do norte de Cabo Delgado, obrigaram já várias famílias a abandonar as suas casas e campos de cultivo para se refugiar em terras seguras. Uma das regiões preferidas pelos deslocados é a vila sede do posto administrativo de Namialo, no distrito de Meconta, na província nortenha de Nampula.
Apesar de se sentirem seguros aqui, os refugiados enfrentam muitas dificuldades. Maita Toshi diz que está satisfeito com o amparo das que tem recebido em Namialo. "Agrademos muito ao governo daqui [Nampula]. Fomos bem recebidos". No entanto, diz, persistem os problemas: "Estamos a sofrer para ter acesso a locais para dormir. Pedimos emprestadas esteiras, não temos cobertores e muito menos comida. Não temos redes mosquiteiras e somos picados", disse o deslocado à DW África. Há casos em que vinte pessoas têm que partilhar uma casa.
Pedido de ajuda
Deslocados moçambicanos em condições precárias
Maita Toshi lança um apelo às autoridades. "Estamos a pedir ao Governo que encontre outro sítio para nos alojar, porque lá [em Cabo Delgado] a guerra ainda continua, todas as casas já queimaram",disse.
No total chegaram a Namialo cerca de 300 deslocados das aldeias de Mocímboa da Praia, Muidumbi e Mueda. Adelina Mucala, chefe do posto administrativo da vila sede do posto admnistrativo, receia que número de cidadãos que necessitam de amparo na região aumente.
"Todos os dias recebemos novos compatriotas". Mucala diz que estão a ser envidados esforços para prestar apoio aos deslocados. "Já fizemos um peditório aos nossos agentes económicos e aguardamos resposta. Acreditamos que eles vão responder", disse à DW África.
Autoridades prometem fim dos ataques
Num encontro com os deslocados, o Secretário de Estado da província de Nampula, Mety Gondola, garantiu que o Governo moçambicano está a trabalhar para pôr fim aos ataques. Mas enquanto o trabalho não termina "nós vamos ter que vos receber como irmãos. Vamos ter de encontrar uma forma de cada um partilhar o pouco que tem", disse, acrescentando: "Nós vamos nos esforçar para ver como é que podemos arranjar uma forma de vos apoiar".
Os ataques armados em Cabo Delgado começaram em outubro de 2017, e até hoje custaram a vida a 500 pessoas. Mais de 160 mil pessoas foram afetadas de alguma forma pela violência, segundo dados oficiais.
Quais as motivações dos ataques armados em Cabo Delgado?
Há mais de nove meses que o norte de Moçambique tem sido palco de violentos ataques armados. Suspeitas há muitas e até já há um estudo, mas até hoje não está claro quem são os atacantes e nem o que os move.
Foto: Privat
Mocímboa da Praia: Era uma vez um lugar pacato...
Até 5 de outubro de 2017 a província de Cabo Delgado vivia na tranquilidade, pelo menos aparentemente. Mas desde essa data tudo mudou quando cerca de 30 homens armados desconhecidos atacaram três postos da polícia do distrito de Mocímboa da Praia, matando cinco pessoas, entre elas polícias, e ferindo mais de dez. Na altura a Polícia disse que estava a investigar o caso.
Foto: DW/G. Sousa
O alastramento dos ataques
Dois meses depois Mocímboa viveu novos ataques e desde essa altura os ataques armados têm vindo a alastrarar-se muito rapidamente para outros distritos. Palma começou a ser alvo a partir de janeiro de 2018.
Foto: DW/Estácio Valoi
Marcha contra um "Islão que não existe"
Uma semana depois do primeiro ataque Mocímboa da Praia marchou pela paz. A iniciativa juntou líderes de diferentes religiões, cristã e muçulmana, estes últimos a maioria na região. Os atacantes, que se dizem muçulmanos, defendem uma visão radical do Islão. As autoridades do distrito consideram que esse é um "Islão "que não existe", e acusam "os bandidos" de usaram a religião como "capa".
Foto: Estácio Valoi
Os indícios que não terão sido tomados a sério
Já em 2016 supostos pregadores do Islão foram expulsos do país por estarem ilegais no país. Também já foi intercetado um angariador de crianças a cujos pais era prometida educação e bons tratos. Mas o destino, passando por Nampula, eram escolas corânicas com o fim de radicalização. Há também detenções de pessoas que propagam a insurgência contra as instituições do Estado.
Foto: Colourbox/krbfss
Detenções e excesso de zelo
Cinco dias após o início dos ataques, a Polícia já tinha detido 52 pessoas, o que assustou alguns líderes religiosos. Mas havia outros líderes que eram a favor, justificando a necessidade de denunciar malfeitores para "purificar fileiras", mesmo que isso leve a excesso de zelo. Mas a Polícia ainda não sabe dizer quem são os atacantes, justificando sempre que está a trabalhar no assunto.
Uma das maiores reservas de gás de mundo está em Cabo Delgado. Em Palma as multinacionais operam no setor. Em Mocímboa da Praia há minas de rubis que são bem cotados nos mercados internacionais. O IESE, MASC e um líder muçulmano realizaram um estudo na sequência dos ataques e concluiram preliminarmente que o objetivo dos atacantes é garantir o tráfico dos inúmeros recursos da região.
Foto: ENI East
Erik Prince, o salvador da pátria?
Empresário norte-americano na área de segurança tem interesses nas empresas envolvidas nas dívidas ocultas. Uma delas a Proindicus, criada para garantir a segurança nas águas moçambicanas. Por outro lado acredita-se que tenha criado uma empresa de segurança e estaria a contar como pagamento pelos serviços os dividendos do gás. Eric Prince já prestou serviços para o Governo dos EUA no Iraque.
Foto: Imago/UPI Photo
Deslocados internos: Existem ou não?
O medo dos violentos ataques fez com que a população fugisse. Mas as autoridades locais garantem que ela regressa às suas comunidades graças à patrulha feita pelo exército e afirmam que são poucas as deslocações. Entretanto, não há números exatos. Quem está a lidar com esses deslocados são as autoridades locais. Até ao momento nenhuma agência da ONU ou ONG humanitária foram chamados a intervir.
Foto: Privat
Participação das FDS na reconstrução
Embora as FDS, Forças de Defesa e Segurança, não consigam impedir as ações dos atacantes elas garantem o patrulhamento depois dos ataques. Também auxiliam diretamente na reconstrução das casas incendiadas pelos atacantes. Isso, segundo as autoridades, permite o retorno da população às suas aldeias.
Foto: Borges Nhamire
Participação das comunidades
Supõe-se que os jovens que integram os grupos armados sejam recrutados nas comunidades. As autoridades pedem, por isso, que as populações se mantenham vigilantes e denunciem qualquer ilícito ou movimentação suspeita.
Foto: Privat
Governador visita comunidades
Os assassinatos tornam-se cada vez mais bárbaros. Há decapitações com recurso à catanas e nem as crianças escapam. Na sequência do recrudescimento dos ataques e do nível de violência o governador da província de Cabo Delgado, Júlio Parruque, visitou familiares das vítimas.
Foto: Privat
Presidente de Moçambique em Cabo Delgado
A 29 de junho de 2018 o Presidente Filipe Nyusi esteve nos distritos alvo dos ataques. Pouco antes disso o estadista tinha sido criticado por alguns setores por nunca se ter pronunciado publicamente sobre os ações violentas. Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção contra ataques e mostrou abertura, convidando os atacantes para dialogar.
Foto: privat
Um mar de gente para ouvir Nyusi
Em Cabo Delgado, Filipe Nyusi foi ouvido por milhares de pessoas a quem exortou para que se distanciem de crenças religiosas que estariam na origem da instabilidade: "Estão a recrutar pessoas nos distritos costeiros. Estão a ir também a Nampula recrutar pessoas para vir morrer aqui. Não deixem que isso aconteça. Estão a semear luto nas vossas famílias. E são jovens que vocês conhecem, denunciem".