Deslocados pedem ao próximo PR de Moçambique o fim da guerra
Bernardo Jequete (Manica)
26 de setembro de 2024
Deslocados de Cabo Delgado acomodados na cidade de Chimoio e no distrito de Gondola, em Manica, pedem ao próximo Presidente para acabar com a guerra no país, para que todos os moçambicanos vivam e circulem livremente.
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Os perto de 200 deslocados de Cabo Delgado que vivem no bairro Cianga, na cidade de Chimoio, estão expectantes em ver o problema da insegurança e os ataques contra pessoas indefesas resolvidos pelo próximo Presidente da República de Moçambique, que será eleito a 9 de outubro.
"Estou a pedir que ele nos olhe, que venha nos visitar aqui para ver como é que estamos a viver", pede Isabel Januário, que fugiu das barbaridades dos terroristas no distrito de Muidumbe.
Agora, espera ver o próximo chefe de Estado a acabar de vez com os ataques: "Que lá a guerra acabe, talvez possamos ir visitar as campas [dos nossos familiares], porque aqui estamos seguros, por isso no dia 9 de outubro estamos dispostos para ir votar."
O deslocado Mário Severino, de 25 anos, pede ao próximo Presidente que traga mais empresas para resolver a falta de emprego, que é uma das principais preocupações da população jovem deslocada.
"A maioria dos que estamos aqui fizemos a 10ª e outros a 12ª, por isso queremos pedir emprego para nos ajudar, e também que resolva a situação da guerra", apela.
Abdala Momade, de 52 anos, destaca a necessidade urgente de reconstrução das infraestruturas destruídas pela ação terrorista em Cabo Delgado para possibilitar o retorno seguro da população que foi obrigada a fugir e a deixar tudo.
"O país não está em condições porque numa parte as pessoas estão livres e outra parte não estão, por isso deve resolver aquela situação até acabar com aquela guerra, embora nós já estejamos aqui numa área segura, mas não estamos seguros porque o país não está bem", salienta.
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Reconstruir as regiões afetadas
Para Abdala Momade, o próximo Presidente da República deve combater sem tréguas os terroristas e priorizar a reconstrução das regiões afetadas.
"Ele deve combater a situação de Cabo Delgado e depois que comece a de recuperar, porque os distritos de Cabo Delgado estavam bem, havia escolas, hospitais, institutos mas tudo ficou destruído", recorda.
Também os deslocados da região centro de Moçambique, acomodados no distrito de Gondola, procuram respostas e soluções eficazes.
Mateus João Baptista, de 54 anos de idade, saiu de Pinanganga, no distrito de Gondola, uma região severamente afetada pela tensão político-militar. Acredita que o próximo Presidente da República terá o enorme desafio de lidar com a reconstrução e promover o desenvolvimento socioeconómico em prol da população deslocada.
"As pessoas que saíram de Pinanganga perderam muita coisa, não queremos que volte novamente aquela situação, não queremos mais a guerra, queremos paz, porque aqui não temos machambas e lá é onde as pessoas fazem machambas, criação", afirma..
O analista político Kelly Mwenda considera que a questão de segurança dentro do território deve ser a prioridade do novo timoneiro, visando pôr fim às mortes, destruições e êxodo da população.
"Todo o mundo quer viver em paz, quer estar na sua zona de conforto. Então, o próximo Presidente de Moçambique deve olhar esta preocupação como prioridade, deve olhar para a questão de segurança em Cabo Delgado como prioridade, deve resolver antes de tocar outros setores", conclui.
Candidatos presidenciais querem transformar Moçambique, mas como?
Todos os candidatos presidenciais, e os principais partidos em Moçambique, prometem mudanças depois das eleições gerais de 9 de outubro: menos corrupção e melhores condições de vida. Mas a via para lá chegar difere.
Foto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images
Daniel Chapo, da FRELIMO, quer mudanças
Daniel Chapo promete mudanças se for eleito Presidente da República. O partido que o apoia, a FRELIMO, está no poder desde 1975, mas Chapo diz que quer fazer "coisas novas" em Moçambique. O ex-governador da província de Inhambane, de 47 anos, considera que a paz no país é uma prioridade: "Sou o candidato mais jovem e mais experiente, por isso, não podemos brincar no dia 9 de outubro", disse.
Foto: Marcelino Mueia/DW
FRELIMO quer novas leis para combater a corrupção
A FRELIMO aposta na mudança na continuidade e define o combate ao branqueamento de capitais e corrupção como prioridades. O partido propõe reformas legais, incluindo "a aprovação de uma Lei de Repatriamento de Capitais, bem como a Declaração de Bens de Proveniência ilícita, dentro de um determinado prazo". A FRELIMO quer um país "livre da dependência externa, com uma economia a crescer".
Foto: DW
Ossufo Momade, da RENAMO, promete revisão constitucional
Ossufo Momade, o candidato presidencial do maior partido da oposição, a RENAMO, diz que, se for eleito, vai "criar condições para rever a Constituição" e criar três capitais: "A capital política será Maputo, a capital parlamentar será Beira e a capital económica, Nampula". O opositor, de 63 anos, promete reforçar a força logística do Exército para combater o terrorismo em Cabo Delgado.
Foto: Marcelino Mueia/DW
RENAMO quer colocar o cidadão no centro da governação
A RENAMO nunca governou Moçambique, mas define uma missão clara no seu manifesto eleitoral: defender a liberdade e o Estado de Direito democrático, colocando o cidadão no centro da governação. O partido promete combater a corrupção e criar emprego, sobretudo para jovens e mulheres, aumentando a transparência e dando incentivos fiscais "seletivos" a quem crie postos de trabalho.
Foto: Bernardo Jequete/DW
Lutero Simango, do MDM, promete devolver dignidade ao povo
Lutero Simango, o candidato presidencial do MDM, será o primeiro nome no boletim de voto. O político, de 64 anos, promete resolver os problemas básicos dos cidadãos, melhorando as condições de vida: "Assumo o compromisso de que, se me elegerem, vou devolver a dignidade aos moçambicanos", afirmou. Simango também já disse que vai falar com "o diabo" para combater o terrorismo no país.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
MDM propões várias reformas
O MDM, a terceira maior força política em Moçambique, promete realizar várias reformas, se for eleito: Reforma das instituições, despartidarizando o Estado e redefinindo as competências das autarquias; Reforma na Educação, criando uma rede escolar equilibrada que priorize as zonas rurais e que torne o país competitivo; Reforma na Saúde, valorizando a medicina estatal, privada e tradicional.
Foto: Alfredo Zuninga/AFP/Getty Images
Candidato independente, Venâncio Mondlane, quer o povo no poder
Venâncio Mondlane, de 50 anos, começou a carreira política no MDM e passou também pela RENAMO. Agora, como independente, promete que, se for eleito Presidente da República, "o poder vai pertencer ao povo e não a um partido". Mondlane diz ainda que o país não precisa mais de se endividar: "Vamos criar condições para, com os nossos recursos naturais, fazermos muito melhor do que se tem feito".