Desmobilizados avisam: "Se não mudarmos, a RENAMO já era"
17 de outubro de 2025
Nem todos ficaram satisfeitos na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), apesar de Ossufo Momade ter anunciado que não vai concorrer mais à liderança do partido e da realização do Conselho Nacional – as principais reivindicações dos descontentes internos.
Edgar Silva, porta-voz do grupo dos desmobilizados, exige a rápida saída de Momade sob o risco de prejudicar ainda mais a RENAMO nas eleições de 2029, lembrando que "as bases estão dilaceradas". Como alternativa, Silva pede que Momade se mantenha na sombra com as devidas benesses.
"Se continuarmos assim, em 2029, a RENAMO já era", antevê o porta-voz em entrevista à DW, não se conformando: "Vamos continuar a fazer démarches".
DW África: Depois da reunião do Conselho Nacional e de Ossufo Momade anunciar que não se recandidatará à liderança do partido no próximo congresso, as vossas reivindicações estão satisfeitas?
Edgar Silva (ES): Primeiro que tudo, nós não fizemos parte desse Conselho Nacional. Realizámos há pouco tempo a nossa primeira Conferência dos Desmobilizados, alargada aos quadros do partido, e elegemos lá uma comissão. A seguir, submetemos a documentação ao gabinete do presidente do partido para que nos ouvisse, mas não houve espaço para tal. O anúncio do Conselho Nacional deixou-nos um pouco perplexos; esse Conselho Nacional realizou-se devido à pressão que temos feito.
Contudo, temos ouvido por alto que Ossufo Momade não se irá recandidatar, mas esse momento ainda tarda, pois refere-se a 2029. E as bases do nosso partido estão dilaceradas, o próprio partido não funciona. O que vamos fazer até 2029, que é ano de eleições? Ossufo Momade tem de colocar o seu lugar à disposição.
DW África: Caso Ossufo Momade insista em manter-se no poder, por ter sido eleito, poderia a revitalização do partido até lá, com vista a uma preparação ajustada para as eleições, ser uma alternativa?
ES: É exatamente isso que nós estamos a propor. Nós queremos que ele, de livre e espontânea vontade, decida simplesmente dar espaço a alguém – pode ser jovem ou não – com capacidade para aglutinar a família da RENAMO, algo que Ossufo Momade não consegue fazer. Ele poderia ficar com direitos de presidente, na sombra. Nós queremos alguém que nos aglutine em torno do partido, que faça com que as almas desavindas voltem a casa, para que haja harmonia e possamos todos correr juntos. Sem isso, nada feito.
DW África: Então, não terminou a crise interna na RENAMO?
ES: As nossas reivindicações não estão satisfeitas. Vamos continuar a fazer démarches para que Ossufo Momade perceba que a nossa preocupação não é com ele, como líder, mas com as bases do partido, que estão perdidas. Foram confiscadas por algum interesse obscuro. Se continuarmos assim, em 2029, a RENAMO já era.
DW África: E acha que o objetivo de Ossufo Momade é aniquilar a RENAMO?
ES: É exatamente isto. Nós temo-lo como o Gorbachov na nossa organização, que tudo vai fazer para que, no fim, nos entregue à sorte sei lá de quem – talvez do diabo. Nós não estamos satisfeitos; não encontramos nele a inspiração que sempre tivemos na defesa dos nossos ideais. Os nossos ideais foram corrompidos à medida que Ossufo Momade tomou o poder e ele está trabalhando com um grupinho que não nos ajuda em nada, porque é um grupinho habituado às benesses que o governo do dia dá.
DW África: Apesar da reconciliação anunciada com alguns quadros do partido, como Alfredo Magumisse e Elias Dhlakama, e de terem também representado os vossos interesses no Conselho Nacional, vocês, no final, não se reveem nas decisões tomadas neste encontro?
ES: Elias Dhlakama e o engenheiro Magumisse não são nossos representantes. Nós agimos por conta própria. Nós representamos os interesses daqueles que, durante anos, combateram – alguns deles até foram mutilados – e não têm palavra alguma no partido.