Treze pessoas ficaram soterradas e pelo menos nove morreram no desabamento de uma mina de rubis no interior da província de Cabo Delgado.
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A última segunda-feira (26.02.) foi um dia sombrio em Namanhumbir, no interior da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Treze pessoas ficaram soterradas numa mina ilegal de rubis. A polícia contabiliza pelo menos nove mortos. Um garimpeiro foi resgatado com vida e está a receber tratamento médico no hospital de Montepuez.
Augusto José Guta, o porta-voz do comando provincial da polícia em Cabo Delgado, conta que o garimpo é ilegal.
"Aquelas covas poderiam ter no mínimo cinco metros de profundidade e quando os garimpeiros entram nessas covas, vão criando outras fendas para além daquelas iniciais. Essas escavações, que vão sendo feitas nas laterais, não vão tendo consistência e porque estamos numa época chuvosa, a terra acabou cedendo e causou essa tragédia”, explica.
Desmoronamento em mina ilegal provoca mortes em Moçambique
A operação de resgate durou o dia todo e só foi interrompida à noite devido à escuridão e às condições climatéricas locais. Segundo a polícia, as buscas foram retomadas esta terça-feira (26.02.) com vista ao salvamento de possíveis vítimas.
Mineradora acusa o governo
A área onde ocorreu o incidente pertence à mineradora Montepuez Ruby Mining, do grupo Gemfields. Reagindo ao incidente, a empresa acusou o Executivo moçambicano de fazer vista grossa à onda de garimpo ilegal.
Em comunicado, a mineradora diz que os compradores ilegais têm a capacidade de entrar e sair do país, principalmente através do Aeroporto Internacional de Pemba, muitas vezes sem a documentação requerida, pagando subornos a elementos das autoridades.
Perante as acusações de inércia das autoridades face ao garimpo ilegal em Namanhumbir, o porta-voz Augusto Guta reagiu. "Redobramos os nossos esforços com vista a que essa atividade de uma forma ilegal não ocorra. O garimpo é importante, mas para que possamos fazer, é necessário que estejamos em associações. Essas associações são permitidas porque elas têm um modo de ser e estar e nesse modo, naturalmente, que essas regras de segurança vão sendo acauteladas.
Numa entrevista concedida à televisão privada STV, o inspetor-geral do Ministério dos Recursos Minerais e Energia, Obede Matine, corroborou com a tese segundo a qual o deslizamento de terras tenha sido resultado da profundidade da mina.
Nampula: População de Angoche insatisfeita com contributos de mineradora chinesa
Contributos dados pela mineradora Haiyu Mozambique Mining Company não são suficientes, diz a população. Problemas relacionados com serviços básicos mantêm-se, não se antevendo melhorias.
Foto: DW/S. Lutxeque
Poucos benefícios para população
As populações de Angoche, considerada a terceira maior da província de Nampula e onde está instalada a mineradora chinesa Haiyu Mozambique Mining Company, continuam, depois de cerca de oito anos depois do início da exploração das areias pesadas, a enfrentar sérios problemas relacionados com serviços básicos, nomeadamente, acesso a água, corrente eléctrica e maus acessos rodoviários.
Foto: DW/S. Lutxeque
Comunidades pobres em zonas ricas
No distrito, as comunidades de Sangache, Murrua e Namue, são exemplo da pobreza extrema que assola esta região de exploração de minérios. As habitações são, maioritariamente, de construção precária, feitas com base em tijolos menos resistentes, paus e folhas de coqueiros.
Foto: DW/S. Lutxeque
Muita produção para pouco retorno
A mineradora chinesa iniciou a exploração das areias pesadas em Sangache, em 2010. E, até à data, a produção continua em alta, apesar da oscilação dos preços no mercado internacional. No entanto, a população diz continuar a não ver o retorno da exportação dos valiosos minerais explorados nas suas terras, como são o ilmenite e o zircão.
Foto: DW/S. Lutxeque
Défice de água potável
A água potável de qualidade e em quantidade, para consumo humano, é um dos problemas que tira o sossego aos milhares de habitantes destas regiões. Nos populosos bairros de Murrua e Namue, por exemplo, existem poucos furos de água potável, apesar de, nos últimos meses, a mineradora ter construído dois poços.
Foto: DW/S. Lutxeque
Degradação de estradas
Outro dos problemas é a degradação das estradas. No interior do distrito de Angoche, assim como nas suas vias de acesso, desde Nampula, as estradas não estão em boas condições. São todas de terraplanagem e, consoante a estação do ano, apresentam poeira, buracos ou lamas. A população queixa-se de falta de sensibilidade da mineradora na resolução deste problema, que também afeta a sua atividade.
Foto: DW/S. Lutxeque
Reabilitação para benefício próprio
Para além de desiludidos com a empresa chinesa, os citadinos sentem-se também enganados. Enquanto a população se queixa das dificuldades provenientes do mau estado da estrada que liga Angoche a Nampula, a mineradora está a reabilitar um troço - inferior a dez quilómetros - que dá acesso ao porto local, de forma de facilitar o transporte dos produtos da sua fábrica ao porto.
Foto: DW/S. Lutxeque
Armazéns cheios
Nos armazéns da Haiyu Mozambique Mining Company, os produtos continuam a entrar e a capacidade de armazenamento revela-se cada vez mais esgotada. Não há espaço no interior do armazém da empresa, localizado no porto de Angoche. É daqui que saem os recursos que são exportados para o mercado internacional.
Foto: DW/S. Lutxeque
Pressão popular
Apesar das promessas, a contribuição das multinacionais para a população tem sido fraca. Os líderes comunitários dizem-se desapontados. À DW, Lopes Vasco, líder comunitário de Angoche, diz que estas empresas "não estão, até agora, a responder às suas obrigações. Não se justifica que as populações continuem pobres enquanto elas fazem muito dinheiro com os nossos recursos".
Foto: DW/S. Lutxeque
Iluminação
Depois de muita pressão por parte dos líderes comunitários, e depois de uma reunião com o governo, a mineradora celebrou, em setembro de 2018, um memorando para a criação de um plano estratégico de responsabilidade social para o período de 2017-2020. A construção desta Rede de Baixa Tensão, que custou cerca de dez milhões de meticais, cerca de 140 mil euros, foi uma das ações acordadas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mais emprego
Desde 2010, quando iniciou a sua atividade em Sangache, a empresa chinesa tem vindo também a apostar na mão-de-obra nacional, em detrimento da estrangeira, tendo já levado dezenas de moçambicanos para formação técnico-profissional na China. Atualmente, a empresa conta com 500 trabalhadores, dos quais apenas 30 são estrangeiros, na sua maioria de nacionalidade chinesa.
Foto: DW/S. Lutxeque
Melhorias na saúde
Além da abertura de alguns furos de água e expansão da corrente elétrica, a mineradora está também a dar o seu contributo ao setor da saúde. No final do ano passado, a Haiyu Mozambique Mining Company comprou uma ambulância equipada para as comunidades de Angoche, avaliada em mais de quatro milhões de meticais, cerca de 56 mil euros.