Destino da madeira apreendida em Moçambique divide opiniões
15 de abril de 2017Mais de um mês depois do Governo lançar a "Operação Tronco", há dúvidas sobre o que fazer à madeira que foi apreendida pelas autoridades – ao todo, 120 mil metros cúbicos de madeira ilegal.
O ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, diz que a madeira apreendida reverterá a favor do Estado e será usada para produzir carteiras para as escolas.
"O governo tudo fará para o benefício da aplicação da madeira para resolver o problema das carteiras a nível nacional nos próximos dois anos", garante. "Acreditamos que o processo de exploração de madeira poderá cobrir este défice de cerca de oitocentas mil carteiras", acrescenta o titular da pasta.
Produtores em desacordo
Horário Chacate, representante dos madeireiros moçambicanos, diz que incinerar os troncos apreendidos é a única forma de desencorajar o abate desregrado.
"Vai permitir que, no mínimo, o pouco que existe na floresta continue a existir. Há que tomar medidas arrojadas, pois assim é que podemos cortar o mal pela raiz", defende Horário Chacate.
Marcelina Salé tem outra sugestão. A operadora de uma empresa madeireira na província de Tete diz que o Governo até poderá encaixar algum dinheiro se comercializar a madeira. "Não vamos queimar o que é precioso, o que é nosso", começa por explicar.
"Gostaria que o governo lançasse um concurso para a venda em hasta pública de todo o produto aprendido", diz, acrescentando que esse concurso deve ser alargado, permitindo que outros países, e não apenas a China, adquiram o produto.
A "Operação Tronco" começou a 1 de março nas províncias onde há exploração de madeira em grande escala: Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala.
Ao longo da operação, as autoridades moçambicanas visitaram 123 estaleiros e foram detetadas irregularidades em 87.
Foi ainda determinada a cessação de funções de alguns chefes de serviços provinciais e alguns fiscais foram suspensos por alegado envolvimento na facilitação das infrações florestais.
Entretanto, o Governo prolongou por mais três meses a interdição de corte de madeira, que vigora deste o início do ano.
Desconforto entre os operadores
A decisão gerou alguma indignação junto dos operadores florestais e exportadores. "Pode ser doloroso ter esta paragem de noventa dias, tendo em conta que deve haver uma produção para que os funcionários tenham o seu pão no fim do mês", aconselha Fernando Francisco, responsável pela contabilidade numa empresa do setor.
“Existem grandes investimentos, nós temos que importar as maquinarias… Para mim é complicado parar três meses com trezentos e cinquenta metros cúbicos para escoar. Temos filhos a estudar, contas para pagar e estas máquinas são pagas a crédito”, alerta Marcelina Salé.