Matsinhe: Entre as exigências da igreja e a pressão política
14 de novembro de 2023Os bispos da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola recentemente demandaram a destituição do Bispo Dom Carlos Matsinhe, Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, no âmbito das controvérsias em torno do anúncio dos resultados eleitorais.
Esta terça-feira (14.11), uma reunião extraordinária da Comissão Permanente da diocese estava agendada para discutir a exigência de resignação imediata do Bispo. No entanto, o encontro não ocorreu, e as razões para o cancelamento permanecem incertas.
Pressão política?
Analistas ouvidos pela DW sugerem que a pressão política pode ter influenciado a decisão de não realizar a reunião.
O analista político Wilker Dias, em entrevista à DW, argumenta que a realização da reunião e uma eventual renúncia de Carlos Matsinhe poderiam inflamar ainda mais os ânimos populares no país.
"Há um descrédito quanto aos órgãos eleitorais e com esta permanência haverá um desencorajamento maior nas próximas eleições gerais de 2024. Porque as pessoas já não colocam fé nestas eleições e na figura do Bispo pior ainda", disse.
A carta dos bispos da Igreja Anglicana foi publicada após o anúncio parcial dos resultados pela CNE. Para o analista Hilario Chacate, essa atitude reflete um distanciamento da igreja em relação ao cenário político atual envolvendo Dom Carlos Matsinhe.
Mancha na imagem da igreja
"Na verdade, o Dom Carlos Matsinhe tomou uma postura que é criticada por vários segmentos da sociedade", diz Chacate.
Para o analista, "há um entendimento de que Dom Carlos Matsinhe o bispo devia ter uma postura que expressasse comportamento de um homem de Deus e de distanciamento por parte do dele".
Wilker Dias concorda, acrescentando que a "permanência" de Carlos Matsinhe "acabou manchando a igreja e os religiosos no geral, por conta da sua inércia como presidente da CNE".
RENAMO em frente à igreja
Enquanto se aguardava o início da reunião, o cabeça de lista da RENAMO, o principal partido da oposição para a cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, e seus simpatizantes posicionaram-se em frente à igreja, exigindo a saída de Carlos Matsinhe.
"Nós achamos que se a pessoa não serve para Deus, como vai servir para os homens? Então, para alem de sair da Igreja, deve ser mandado embora da CNE", defendeu Mondlane.
No entanto, membros da FRELIMO manifestam solidariedade ao Bispo nas redes sociais.