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Destruição de boletins de voto espelha "receio" da CNE

8 de janeiro de 2025

CNE agendou para 17 de janeiro a destruição dos boletins de voto das eleições gerais de Moçambique. Ivan Maússe, do CIP, diz que "é cedo", pois ainda "existem mecanismos externos" para recorrer dos resultados.

Eleições gerais em Moçambique
CNE agendou para 17 de janeiro a destruição dos boletins de voto das eleições gerais de MoçambiqueFoto: Alfredo Zuniga/AFP

Os próximos dias em Moçambique preveem-se "tensos". Venâncio Mondlane chega, esta quinta-feira (09.01),  ao país - a tempo da tomada de posse dos deputados a 13 de janeiro e do novo Presidente do país no dia 15. Para dia 17, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) já anunciou a destruição dos boletins de voto das eleições gerais de 9 de outubro. Uma ação que, aos olhos do jurista e investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), Ivan Maússe, pode acirrar ainda mais os ânimos no país.

Apesar de legal, explica o também especialista em direito eleitoral em entrevista à DW, a destruição dos boletins de voto "apenas cerca de três meses" após o pleito pode espelhar "o receio da CNE" em que se investiguem os contornos do processo eleitoral.

"Ainda é muito cedo para fazer essa destruição, porque ainda existem mecanismos externos" [para recorrer dos resultados], diz. Leia a entrevista: 

DW África: Como antevê os próximos dias em Moçambique?

Ivan Maússe (IM): Nos próximos dias vive-se um clima de incerteza, sobretudo com a chegada, quinta-feira, do candidato presidencial do partido PODEMOS, Venâncio Mondlane, que entende que vai tomar posse no mesmo dia de Daniel Chapo, candidato presidencial do partido FRELIMO [declarado vencedor das eleições pela CNE].

Podem existir momentos de tensão [protagonizados] pelos apoiantes de Venâncio Mondlane e de Daniel Chapo, com a possibilidade do uso de forças policiais, tal como tem vindo a acontecer, para dispersar as massas. Os manifestantes [apoiantes de Venâncio Mondlane] podem querer colocar em causa a cerimónia de posse oficial, e isto terminar em situação de mortes e ferimentos.

Ivan Maússe: "Ainda é muito cedo para fazer essa destruição, porque ainda existem mecanismos externos" [para recorrer dos resultados]".Foto: privat

DW África: A acrescer a isso, a CNE agendou para o próximo dia 17 de janeiro a destruição dos boletins de voto das eleições gerais. Como olha para este anúncio?

IM: Na nossa opinião, ainda é muito cedo para fazer essa destruição, porque, apesar de já terem sido esgotados os mecanismos de recorrer internamente para que os resultados eleitorais sejam afastados, ainda existem mecanismos externos. E este material que a CNE tem seria importante para os diferentes interessados neste processo exibirem às instituições externas que possam intervir em Moçambique.

DW África: Neste contexto de contestação, e apesar de ser legal, a destruição dos boletins de voto pode acirrar ainda mais os ânimos no país?

IM: Sem dúvidas porque, apesar de ser de facto um comando legal, a experiência que nós temos é que a CNE, nas eleições passadas, não fez um comunicado desta natureza, ou seja, não deliberou neste sentido, apesar de que é de lei que esta matéria pode ser destruída. Mas num contexto em que nós assistimos a uma onda de manifestações e protestos em relação a estas eleições que, ao que tudo indica, foram das mais fraudulentas, pode mostrar algum tipo de receio por parte da CNE de deixar o material.

E mais do que isso, é preciso considerar que, ao nível do ordenamento jurídico moçambicano, em várias outras leis há a obrigatoriedade de conservar o material pelo menos entre três a cinco anos – por exemplo, nos bancos comerciais, mesmo no banco central e tantas outras instituições. Embora de lei, não se entende por que razão a CNE quer destruir o material que é de uma eleição que remonta a três ou quatro meses atrás.

É preciso considerar que esta disposição legal pode ter sido propositada, sobretudo num contexto em que, em Moçambique, quem tem dominado o aparato público é o partido FRELIMO que é quem controla as instituições públicas neste país.

RADAR DW: Revolução Mondlane abana Moçambique

49:33

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