Líder religioso de Mocímboa da Praia (Moçambique), queixa-se de "detenções abusivas" de muçulmanos após ataques armados à polícia da vila, mas as opiniões dividem-se: um outro dirigente considera-as um mal necessário.
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Os ataques com catanas e metralhadoras já terão provocado pelo menos 28 mortos (seis elementos das autoridades, 19 atacantes e um líder comunitário) e um número indeterminado de feridos, desde 05 de outubro.
De acordo com os testemunhos da população e o relato das autoridades, os agressores são residentes na vila que aderiram a um grupo de inspiração islâmica radical, da qual as organizações muçulmanas moçambicanas já se distanciaram.
No entanto, a mira das autoridades parece estar apontada para "cada qual que usa batina (túnica)", refere Amade Suleimane Juma, que apela ao Governo para que "arranje maneira" de travar as detenções sem prova na província de Cabo Delgado.
"Estamos com medo, pânico", descreve este líder islâmico de Mocímboa, numa altura em que está a interceder pela libertação de cinco familiares em Pemba e de um colaborador em Palma, além de ter conhecimento de outras detenções que considera injustificadas.A Polícia da República de Moçambique (PRM) anunciou a 10 de outubro, cinco dias após o início dos confrontos na vila, que já tinha detido 52 pessoas. Fonte policial na vila referiu mais tarde à agência de notícias Lusa que, após averiguações, várias daquelas pessoas já tinham sido libertadas.
"Devemos denunciar esses malfeitores"
Tuaha Hassane, outro dirigente islâmico da vila, entende que se deve privilegiar a denúncia para "purificar fileiras", mesmo que isso leve a excesso de zelo nas detenções. "A cobra já entrou no armário e, para a matarmos, o açucareiro vai se embora, loiça vai se partir, não há outro meio", refere à agência de notícias Lusa. "Devemos denunciar esses malfeitores", mesmo que seja "um filho", conclui.
Um jovem que reside e trabalha em Mocímboa da Praia disse à Lusa que, agora, "com toda a gente a fazer denúncias", tem "medo de ser muçulmano" e de ostentar as suas referências.
Arrumou a túnica por uns tempos e tão cedo já não vai deixar crescer a barba.Saidane Assane, 26 anos, relata o mesmo receio em relação a algumas peças: "os [meus] amigos vão logo dizer que esse vestuário não dá" porque "eles usaram a capa do muçulmanismo".
Num discurso feito na última semana, o administrador do distrito, Rodrigo Puruque, pediu aos membros da comunidade muçulmana para não abdicarem dos hábitos e costumes por receio de serem confundidos com os agressores.
"Ele tem razão", refere o jovem de Mocímboa. "Mas e se aparece outra pessoa que te aponta como sendo um dos do grupo? Vais usar [túnica]? Tens que deixar [de vestir] para andar à vontade e cuidar da família".
Mais ataques à polícia
Depois da primeira sequência de ataques armados, no dia 05, o grupo conhecido localmente como "os Al-Shabaab" - mas sem ligação aparente com a organização terrorista do sul da Somália - é suspeito de ter voltado a atacar uma patrulha policial, desta vez no mato, na quinta-feira, dia 12.Alguns residentes na vila relatam ainda ter ouvido tiros, ao longe, na manhã de domingo, razões que tornam difícil conquistar sossego.
"Ninguém dorme bem", refere Amade Suleimane Juma, que pede "um esforço" do Governo para que a ameaça "não volte mais".
Felisberto Morais fica preocupado de cada vez que vê um carro parar à porta de casa e a mulher, Maria Camissa, levantasse sempre a meio da noite para verificar "se está tudo bem" no exterior.
Tuaha Hassane até dorme bem - porque conheceu de perto a guerra, diz -, mas também acha recomendável um reforço e até tem um plano. "Se possível, aquela zona [de mato, que pode ainda albergar insurgentes] devia de passar por um pequena ameaça. Uma manobra militar em helicóptero".
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.