Detenções e confrontos não travam protestos em Hong Kong
Lusa | AFP | Reuters
4 de agosto de 2019
Milhares de manifestantes pró-democracia voltaram este domingo às ruas de Hong Kong, no rescaldo de confrontos com a polícia que levaram à detenção de 20 pessoas. China avisa que não vai ficar "de braços cruzados".
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A ex-colónia britânica, que atravessa a sua maior crise política desde que passou a ser território chinês em 1997, vai já no oitavo fim de semana consecutivo de grandes manifestações, frequentemente seguidas de confrontos entre pequenos grupos radicais e as autoridades.
Este domingo (04.08), a polícia de choque voltou a usar gás lacrimogéneo contra manifestantes, no segundo dia consecutivo de confrontos entre civis e autoridades. As forças de segurança afirmam que vão marcar os manifestantes com um liquído em spray colorido, "inofensivo e comestível" para os distinguir dos restantes civis.
De acordo com a imprensa local, mais de duas dezenas de pessoas foram detidas na madrugada de sábado para domingo, sob acusações de reunião ilegal e agressão. A polícia afirma que alguns "manifestantes radicais" lançaram extintores, tijolos, garrafas de vidro e outros objetos contra as autoridades, depois de se recusarem a dispersar.
Em sentido contrário, a polícia de choque lançou gás lacrimogéneo e 'spray' pimenta para forçar a dispersão, levando muitos moradores a juntarem-se ao protesto contra a polícia, que acusaram de perturbar a comunidade. Num comunicado, a polícia salientou que os manifestantes se desviaram da rota autorizada para a manifestação, causaram cortes de trânsito e reuniram-se ilegalmente em frente à esquadra da polícia de Wong Tai Sin.
Apesar da detenção de 20 pessoas pelas forças de segurança, na noite anterior, duas novas manifestações saíram à rua este domingo, tal como planeado, precedendo a greve geral convocada para segunda-feira.
Milhares de manifestantes marcharam nas ruas do bairro residencial de Tseung Kwan O. "Estou mais preocupada do que otimista", disse à agência de notícias France Presse, no meio da multidão, Florence Tung, uma advogada estagiária de 22 anos. "Parece-nos que, independentemente de quantos somos, não podemos mudar o nosso Governo", acrescentou, em referência ao facto de os dirigentes da cidade não serem eleitos por sufrágio universal.
Kai Hou, de 41 anos, disse, por seu lado, não apoiar as táticas violentas da franja mais radical de manifestantes, embora concorde com os objetivos gerais. "Ninguém concorda com as ações radicais, mas o seu objetivo é simples: querem fazer de Hong Kong um lugar melhor", explicou.
Pequim alerta: "Governo não vai ficar de braços cruzados"
Hong Kong vive há dois meses um clima de contestação social, que partiu da aversão a uma proposta de lei que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma "erosão das liberdades" na antiga colónia britânica.
"Estamos a tentar dizer ao Governo para retirar a proposta de extradição e que a polícia pare as investigações e a violência", explica o estudante Gabriel Lee, um dos manifestantes ouvidos pela agência Reuters.
Entretanto, este domingo, a China declarou que não vai ficar "de braços cruzados" face às "forças abjetas" que minam a unidade nacional, no rescaldo dos confrontos entre manifestantes e polícia na noite passada em Hong Kong-
No seguimento dos confrontos que decorreram no bairro de Tsim Sha Tsui, na zona sul de Kowloon, frente à ilha de Hong Kong, a agência de notícias oficial chinesa, citada pela AFP, insurgiu-se contra as "forças abjetas" que ameaçam os fundamentos do princípio "um país, dois sistemas" que presidiu à devolução do território à China em 1997.
"O Governo central não vai ficar de braços cruzados e não deixará que a situação avance", adverte a agência.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
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De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.