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PolíticaRepública Democrática do Congo

Devolver os restos mortais de Patrice Lumumba é suficiente?

Martina Schwikowski | af | com agências
1 de julho de 2022

61 anos depois do seu assassinato, a Bélgica devolveu os restos mortais de Patrice Lumumba à República Democrática do Congo. Muitos populares aplaudiram o gesto, mas alguns pedem também que a família seja compensada.

Foto: Guerchom Ndebo/AFP

"Pai, bem-vindo de volta a casa". As palavras foram de Juliana Lumumba, filha do antigo nacionalista, Patrice Lumumba, que considerou o momento fúnebre como o fim de uma dor que durou mais de 61 anos.

"Estamos felizes. Após 61 anos de luto, posso dizer que 'o papá está em casa', e penso que o povo congolês também está feliz. 61 anos de luto é muito tempo", disse Juliana Lumumba durante o funeral do pai.

A filha de Patrice Lumumba lembra que o funeral do seu pai em terras congolesas "é também uma forma de fazer justiça a milhões de pessoas que foram brutalmente mortas antes da independência, até hoje".

Os filhos de Patrice Lumumba (esq., François, centro, Rolando e dta., Juliana)Foto: OLIVIER MATTHYS/AFP/Getty Images

"Também devem compensar a família"

Patrice Lumumba - o primeiro chefe do Governo do antigo Congo belga, que se tornou independente em 30 de junho de 1960 - foi executado por separatistas em janeiro de 1961, no sul da República Democrática do Congo, com o apoio de mercenários belgas.

O seu corpo, desmembrado e dissolvido em ácido, nunca foi encontrado, restando apenas um dente, que foi guardado por um polícia belga como recordação e apreendido pela Justiça belga em 2016. A Bélgica devolveu o dente de Lumumba na semana passada.

Patrice Lumumba em 1960Foto: AFP/Getty Images

Muitos congoleses aplaudem o regresso a casa dos restos mortais de Lumumba. Mas há vários cidadãos que consideram que o ato de entrega do dente à família e ao Estado congolês não chega.

"Também devem compensar a família. Ao devolverem o dente, estão a reconhecer indiretamente que foram eles a matá-lo", disse o cidadão congolês Patrick Batiki em declarações à DW.

As autoridades belgas apresentaram recentemente um pedido público de desculpas e arrependimento pelos abusos cometidos na era colonial na República Democrática do Congo. Para vários analistas, este gesto representa o desejo de reaproximação entre os dois povos.

Alexander De Croo, primeiro-ministro belga, cumprimenta o homólogo congolês, Jean-Michel Sama LukondeFoto: OLIVIER MATTHYS/AFP/Getty Images

Investimento dividiu populares

O Governo congolês gastou 2,4 milhões de dólares para a construção do monumento onde foi depositado o dente de ouro de Patrice Lumumba, nos arredores da cidade de Kinshasa.

Os populares dividem-se quanto à necessidade deste investimento.

"As pessoas estão a sofrer muito. Isto é inaceitável! Não há estradas, não há eletricidade, não há água e o acesso à comida é difícil", reclama Mpia Mudiandambu.

Armand Onyangunga diz, no entanto, que o dente de Patrice Lumumba é um símbolo importante para a história do país. E advoga uma maior valorização dos feitos históricos de Lumumba: "O povo congolês deve conhecer a luta que Lumumba travou. É graças a ele que cantamos a vitória da independência", afirmou.

Para muitos jovens envolvidos em movimentos cívicos no país, Lumumba é uma referência importante.

A historiadora Karine Ramondy explica a necessidade destes movimentos: "Representam realmente aquilo a que se chama os guardiões da democracia. É preciso um movimento num país, e especialmente no leste do Congo, que encarne a possibilidade de um futuro melhor", disse.

Patrice Lumumba e o movimento anti-colonialista na RDC

01:50

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