Mais de 70 mil pessoas foram diretamente afetadas pelas chuvas e ventos fortes, principalmente no sul do país. O Instituto de Gestão de Calamidades ativou o alerta laranja para os próximos meses.
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Em Maputo, as chuvas intensas dos últimos dias não deram tempo a muitas pessoas para salvarem os seus bens. As fortes correntes de água inundaram e destruíram casas.
"Nós nem dormimos porque a chuva começou por volta das 2 horas da madrugada. Tentámos colocar sacos em frente da casa, para nos tentarmos proteger", conta Mauro Macamo, que viu a sua casa inundada no bairro Ferroviário, no norte da capital moçambicana.
Lerdito Valoi também foi afetado pelas chuvas. "A casa ficou destruída", lamenta Valoi que se encontra agora num abrigo. Valoi apela "a quem de direito que resolva a situação".
"Constantemente lançamos o apelo, mas eles [os apoios] só aparecem depois da chuva", acrescenta o moçambicano que está farto de ouvir promessas, que ficam por cumprir. Lerdito Valoi pretende que as autoridades municipais encontrem, de uma vez por todas, um terreno seguro, onde ele possa viver.
Três pessoas morreram em Maputo, na sequência das enxurradas. Em Nampula, no norte de Moçambique, morreram seis pessoas e em Manica, no centro, morreu uma. Centenas ficaram feridas e mais de 70 mil famílias foram afetadas.
140 famílias já recebem assistência
Moçambique está em alerta laranja por causa da previsão de chuvas e ventos fortes até março.Segundo Paulo Tomás, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, INGC, "equipas multissetoriais vão-se fazer ao terreno para analisar aquilo que é o ponto de situação desta época chuvosa, tendo em conta este cenário que foi avançado pelas previsões do INAM [Instituto Nacional de Meteorologia]".
Moçambique debaixo de chuvas intensas - MP3-Mono
O INGC estima que, até agora, dez mil casas foram destruídas pelas chuvas e ventos fortes. Paulo Tomás deixa uma garantia: "Já estamos a assistir 140 famílias. Portanto, é um número evolutivo. E ao mesmo tempo que se vai atualizando os números, vai-se canalizando apoios a essas famílias."
O Instituto Nacional de Meteorologia anuncia a chegada de mais chuva na região centro e sul de Moçambique. O meteorologista Acácio Tembe prevê a ocorrência de dois ciclones, nos próximos 15 dias, junto à costa moçambicana. “Trata-se de sistemas que trazem ventos e chuvas, podemos ter destruição de casas", alerta Acácio Tembe.
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.