Novo protesto contra estrangeiros na África do Sul
Milton Maluleque (Pretória)
16 de outubro de 2020
Os manifestantes protestaram esta sexta-feira em Pretória para pedir ao Governo sul-africano que trave a entrada de imigrantes no país. O seu slogan: #PutSouthAfricansFirst (sul-africanos primeiro).
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Mais de uma centena de manifestantes voltou a sair às ruas esta sexta-feira (16.10), em Pretória, para pedir às autoridades sul-africanas um maior controlo das fronteiras e mais restrições para os estrangeiros que residem no país.
É o segundo protesto do género em menos de um mês. Os mentores da manifestação, convocada através da rede social Twitter, acusam os imigrantes de tráfico humano, consumo de drogas, violência contra mulheres e agravamento das dificuldades no acesso a serviços básicos do país.
"O Ministério das Obras Públicas defendeu que podemos ser atacados com bombas a qualquer momento, porque não estamos seguros. As pessoas não podem entrar e sair de qualquer maneira no nosso país. Nós lutamos por este país", afirmou Ike Thamnsaqa Khumalo, advogado e um dos líderes do protesto.
Os manifestantes entoaram canções xenófobas e empunharam dísticos com a hashtag #PutSouthAfricansFirst, que em tradução livre da língua inglesa significa "sul-africanos primeiro".
Vusi Mbadzi, filho de imigrantes moçambicanos, mostra-se revoltado com o aumento do ódio contra estrangeiros no país que o viu a nascer. "Colocar a África do Sul primeiro não é uma boa ideia. Todos somos humanos", adverte. "Colocar a África do Sul primeiro é uma forma de incitar ataques xenófobos, porque até os investidores não são sul-africanos. Isolada, a África do Sul não é nada. Penso que devem colocar as pessoas em primeiro lugar e não os sul-africanos", considera.
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Economia em maus lençóis
A economia sul-africana está a ser duramente afetada pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Nos últimos meses, milhares de sul-africanos perderam os seus postos de trabalho e os estrangeiros tornaram-se o bode expiatório em dias de incerteza.
O Presidente Cyril Ramaphosa disse na quinta-feira (15.10) que iria criar cerca de 800 mil postos de trabalho nos próximos meses, mas a promessa não serviu para acalmar os ânimos dos manifestantes.
Os Combatentes para a Emancipação Económica (EFF), a terceira maior força política da África do Sul, declinaram o convite para participar na marcha, considerando que o problema da falta de emprego, pobreza e desigualdade social no país não é culpa dos estrangeiros africanos, mas do "monopólio do capitalismo branco".
"Quando terminarem com os nigerianos, moçambicanos e zimbabueanos, as próximas vítimas serão os Changanas de Giyani. É preciso parar isto agora, antes que eu me torne a próxima vítima", diz Julius Malema, líder do EFF, o único partido que se pronunciou acerca das marchas xenófobas em curso na África do Sul.
Em 2018, um inquérito levado a cabo pelo Conselho de Pesquisa de Ciências Humanas, em Pretória, concluiu que uma grande parte dos sul-africanos tinha pensamentos negativos acerca dos estrangeiros a residir no país.
Segundo dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC África), a África do Sul é o país mais afetado pela Covid-19 no continente, com 698.184 casos de infeção e 18.309 óbitos associados ao novo coronavírus.
"Desigualdades Globais": pobreza ao lado de riqueza vistas de drones
O Global Media Forum (GMF) da DW é uma das maiores conferências de jornalismo na Alemanha. A edição de 2018 teve como lema as "Desigualdades Globais". Um destaque foi uma exposição de fotografias tiradas com drones.
Foto: Johnny Miller
Cidade do Cabo, África do Sul - Khayelitsha
O Global Media Forum (GMF) da DW é uma das maiores conferências de jornalismo na Alemanha. A edição de 2018 teve como lema "Desigualdades Globais". Um destaque foi a exposição "Unequal Scenes" ("Cenas Desiguais") de fotografias tiradas com drones pelo fotógrafo Johnny Miller, residente na Cidade do Cabo e fundador do projeto africanDRONE. Esta foto mostra o bairro pobre Kayelitsha à beira do mar.
Foto: Johnny Miller
Cidade do Cabo, África do Sul - Dunoon
Dunoon é um bairro pobre (township) em Milnerton, Cidade do Cabo. Tem uma população de cerca de 31.000 pessoas, mas faltam infraestruturas como uma equadra da polícia. Já foi palco de protestos xenófobos. A imagem foi captada através de um drone (aparelho voador não-tripulado) do fotógrafo Johnny Miller.
Foto: Johnny Miller
Cidade do Cabo, África do Sul - Wolwerivier
Wolwerivier é outro bairro da Cidade do Cabo. Neste caso, trata-se de um bairro temporário ("Temporary Relocation Area - TRA") administrada pelo município. Serve para albergar pessoas que tiveram que sair do centro por causa do aumento das rendas. Agora estão neste bairro isolado 25 kms do centro da cidade sem acesso a serviços como escolas, hospitais e empregos.
Foto: Johnny Miller
Johannesburgo, África do Sul - Makause
No bairro informal de Makause residem cerca de 15.000 pessoas. Fica em Primrose, Germiston no East Rand (Ekurhuleni Metropolitan Municipality) na área metropolitana de Johanesburgo, maior cidade da África do Sul. A África do Sul é um dos países do mundo com maior fosso entre ricos e pobres, legado do regime segregacionista. Mais de 25 anos depois do fim do apartheid, ainda se vê a divisão do ar.
Foto: Johnny Miller
Durban, África do Sul - Papwa Sewgolum Golf Course
O campo de golfe "Papwa Sewgolum Golf Course" está localizado nas margens verdes do Rio Umgeni em Durban, na África do Sul. Existe um bairro informal poucos metros do buraco número seis do campo de golf. Uma barreira de betão separa o relvado cuidadosamente cuidado do bairro de lata.
Foto: Johnny Miller
Nairobi, Quénia - Loresho/Kawangare
Para além da África do Sul, outros países africanos mostram os mesmos sinais de separação em bairros ricos e bairros pobres como neste caso de Loresho e Kawangare, na periferia de Nairobi. Ambos ficam no nordeste da capital do Quénia.
Foto: Johnny Miller
Mumbai, Índia - Slums
Na cidade indiana de Bombaim, oficalmente conhecida como Mumbai, o contraste entre os vários bairros até se vê pelas diferentes cores. A região metropolitana é a segunda maior do país, atrás de Grande Deli. Bombaim também é caraterizada pela convivência de ricos e pobres em espaços pequenos, já que a sua posição geográfica em ilhas limita a expansão urbana.
Foto: Johnny Miller
Cidade do México, México - Santa Fé
A Cidade do México é considerada uma das maiores do mundo. Neste caso, o drone captou a imagem do bairro de Santa Fé, onde agentes imobiliários começaram a erguer um bairro exclusivo e próspero dentro de uma zona tradicionalmente pobre.
Foto: Johnny Miller
Detroit, EUA - Highland Park
As desigualdades também são visíveis em países do norte, como neste caso de Detroit, nos Estados Unidos da América (EUA). Quem quiser ver mais imagens de drones do fotógrafo Johnny Miller, pode visitar o site: http://www.unequalscenes.com/