Cerca de 250 toneladas de arroz estão armazenadas na província do Cunene desde 2014 sem qualquer destino atribuído. Autoridades admitem que mais de metade deste cereal esteja deteriorado e já só sirva para ração animal.
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A população da região sul de Angola, nomeadamente da Huíla, Cunene e Namibe, vive assolada pela fome e pela seca. Apesar desse cenário, o Governo angolano deixou estragar 150 das 252 toneladas de arroz que mantinha guardadas no sul do país.
O cereal encontra-se armazenado desde 2014 e estava à espera de autorização para ser descascado. Segundo Carlos Paim, presidente do conselho de administração da Gesterra - empresa pública encarregada da gestão das terras aráveis - o processo de descascamento do arroz já começou. Mas em declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA), o responsável admite que o produto estragado servirá para ração animal ou destruição. "O processo de transformação destes produtos já começou. Rapidamente esses produtos vão chegar à mesa do consumidor. Os que que não estiverem em condições para serem comercializados vão ter outro destino: ou para ração animal ou para destruição”, assevera.
Responsabilização criminal
Muitos cidadãos pedem a responsabilização criminal das pessoas envolvidas na deterioração do arroz. A Gesterra descarta qualquer responsabilidade e acusa a antiga direção do Fundo Soberano de Angola pelo sucedido.
Este caso relançou o debate sobre o escoamento de produtos do campo para a cidade. Quase sempre, os empresários angolanos queixam-se de perdas consideráveis por falta de condições para o transporte dos produtos.
"Só quem anda ou visita as zonas rurais sabe os problemas que os próprios agricultores têm para chegar às próprias lavras, porque as lavras ficam distantes da aldeia e tem que se andar quilómetros”, explica Francisco Paulo, economista e investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola.
O académico sublinha que faltam investimentos públicos para a reabilitação e construção de estradas nacionais, provinciais e locais para se acabar com o problema de circulação e distribuição de produtos agrícolas.
"Tem de haver um sistema coordenado entre o Ministério do Urbanismo e Habitação, o Instituto Nacional de Estradas e o Ministério dos Transportes para nós conseguirmos criar um sistema de logística nacional para a distribuição dos produtos nacionais”, defende Francisco Paulo. "Porque muitos produtos perdem-se e isso desincentiva a criação e investimento no setor agrícola. Isto é um problema de investimento público”, frisa o investigador.
Dezenas de toneladas de arroz desperdiçadas em Angola
Três mil milhões de dólares em comida importada
Angola vive essencialmente da importação de produtos. O Governo gasta mais de três mil milhões de dólares por ano para importar bens alimentares.
"Mais de 40% dos empregos criados em 2016 estão no setor agrícola. Apostar na agricultura é a melhor forma de reduzirmos a pobreza. Muitas dessas senhoras a vender de forma ambulante, e também jovens, vieram das zoras rurais e alguns tinham lavras. Mas preferem vender produtos importados na rua. Podiam muito bem ser usados como mão-de-obra na questão de distribuição agrícola”, sugere Francisco Paulo.
Chia: o superalimento que está a mudar agricultores africanos
As sementes de chia são originárias da América Central e do Sul. Agora, muitos agricultores africanos também descobriram as possibilidades de negócios que esta cultura oferece – inclusive para o mercado alemão.
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Porquê a chia?
As sementes de chia estão mais em alta do que nunca. Seja em misturas de muesli, iogurte ou no pão, a chia pode ser usada de diversas maneiras na cozinha. Estas sementes são ricas em proteínas e ácidos gordos insaturados. Conhecida como "superalimento", a chia tornou-se uma tendência nos Estados Unidos e Europa há muitos anos. Vários mercados possuem marcas próprias de chia.
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A pequena semente "super poderosa"
Originária da América Central e do Sul, as pequenas sementes de chia têm feito um longo caminho. Hoje, o Uganda é um dos países africanos mais importantes na exportação deste produto. "Agora a chia é um grande mercado", diz Robert Okello, chefe da empresa exportadora "Sage Uganda".
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Do grão tradicional à semente na moda
A produção de chia no Uganda começou há cinco anos. "De início, isto foi bem complicado", diz Okello. Os trabalhadores tiveram de aprender as técnicas de cultivo por conta própria, testar o solo em várias zonas do país e convencer pequenos agricultores a deixarem a plantação de grãos tradicionais, como o milho, para a produção de chia. Agora eles reconhecem que isto é uma oportunidade.
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Chia: Uma fonte de renda para muitas famílias
"O cultivo das sementes de chia é a nossa principal fonte de renda", explica a agricultora Elizabeth Natocho, de 41 anos, que sustenta o marido e mais nove filhos. Há alguns anos, ela ainda plantava milho, que era consumido principalmente pela família. Atualmente, em seus 42 hectares em Namayingo, no leste do Uganda, as plantas de chia estão a crescer. As sementes são exportadas para a Alemanha.
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A mudança de milho para chia
A razão principal: cultivo mais fácil e preços melhores. De acordo com Okello, a planta é mais resistente às ervas daninhas, não requer fertilizantes e precisa de pouca água – o que é ideal para países como o Uganda, que vivem longos períodos de seca. Hoje em dia, a "Sage Uganda" trabalha com cerca de 8.900 pequenos agricultores e espera este ano exportar um total de 500 toneladas de chia.
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Produção africana a ganhar espaço
Cada vez mais comerciantes alemães estão de olho em África, ainda que a produção de chia no continente não consiga acompanhar o ritmo dos produtores americanos. As exportações da América do Sul para a Alemanha foram mais que o dobro do que as de África no ano passado. Mas a produção de chia em África está a crescer abruptamente há vários anos e a ganhar mais espaço no mercado internacional.