Dhlakama promete governar mas analistas acreditam na paz
10 de dezembro de 2015 O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, prometeu tomar posse nas seis províncias onde reivindica a vitória eleitoral de 15 outubro de 2014, depois das festas de Natal e de fim de ano.
Segundo a agência de notícias Lusa, Dhlakama voltou a assegurar que “não vai fazer a guerra”, num discurso, por telefone, durante uma reunião da Liga da Juventude do seu partido, realizada em Maputo no dia 30 de novembro, e cuja gravação foi difundida na imprensa moçambicana e redes sociais.
Afonso Dhlakama reclama vitória eleitoral em seis províncias do centro e norte de Moçambique, onde quer governar através do modelo de autarquias provinciais. Analistas políticos e algumas forças partidárias moçambicanas criticam a RENAMO e o Governo pelo facto de estarem a privar os moçambicanos de viverem em paz. Ainda assim, as vozes críticas acreditam que, apesar de Afonso Dhlakama continuar a ameaçar tomar posse nas seis províncias onde ganhou as eleições, o país não vai mergulhar no conflito.
Regresso anunciado divide opiniões
Aos olhos de Damião José, porta-voz da FRELIMO, a RENAMO já habituou a população a este tipo de declarações. Palavras que, segundo o porta-voz do partido no poder, “revelam que este partido está desorientado e desesperado” e demonstram “falta de conduta”.
O líder da RENAMO desapareceu do cenário político há dois meses, quando as Forças de Defesa e Segurança invadiram a sua residência na cidade da Beira, no centro do país.
Ernesto Estefano, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), entende que o reaparecimento de Dhlakama deve contribuir para unir os moçambicanos.
“Parece que estamos a voltar ao tempo da colonização”, diz o político do MDM, acrescentando que isto “não é aceitável”. “Este país é nosso, é de todos os moçambicanos, não é para certas pessoas da elite. Temos de dizer ‘basta’”.
Voltar a público para reivindicar
O analista político Orlando Vesse entende que o reaparecimento de Afonso Dhlakama deverá ajudar o país a resolver o conflito político-militar, a avaliar pelas promessas de não voltar à guerra. “Na verdade, em nenhuma parte do mundo, a democracia chegou ao que é desejado. Mas todos os povos almejam a situação ideal. E nós, como moçambicanos, porque é que não podemos desejar isso?”, questiona.
O provável regresso do líder da RENAMO, no entender do analista, servirá para que Dhlakama continue a reivindicar vitória nas eleições do ano passado.
“O descontentamento” no país, diz Orlando Vesse, não deve traduzir-se no “desfazer da paz”, mas sim em “greves e manifestações”. “Temos visto vários grupos a manifestar-se: os ‘madjermanes’, os médicos e vários outros grupos da sociedade. Não pegam em armas”, afirma.
Por sua vez, o analista Isac Jaime entende que Afonso Dhlakama está a tentar reintegrar-se politicamente para lutar pelos interesses do seu partido, tal como faz a FRELIMO.
Reforço do aparato militar
“A RENAMO, por um lado, não teve espaço dentro do campo político. A FRELIMO tinha meios – que são do Estado – através dos quais materializou os seus interesses e ocultou a sua característica militar”, considera o analista, acrescentando que “neste momento económico, social e político, é normal que haja um conjunto de interesses de cada partido”.
Isac Jaime considera que a RENAMO tem poucas hipóteses de conseguir ver satisfeitas as suas reivindicações em relação ao pleito eleitoral de 2014 “e é por isso que se está a assistir a uma RENAMO a retornar aos mecanismos que domina, ao aparato militar, e à FRELIMO, que também responde no mesmo sentido”.
“A única diferença é que a FRELIMO tem uma força militar legítima, no domínio do Estado, e a RENAMO não, porque é uma resistência”, conclui.
Apesar da insistência dos jornalistas, a RENAMO não revela o paradeiro de Afonso Dhlakama. O partido garante, no entanto, que o Presidente “está bem de saúde”.