Teodoro Obiang convidou a oposição para mais um diálogo nacional, em Malabo. Vozes críticas dizem que se trata de mais uma iniciativa do Presidente da Guiné Equatorial para "distrair a comunidade internacional".
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A capital da Guiné Equatorial, Malabo, recebe a partir desta segunda-feira (16.07) a iniciativa de diálogo nacional, a primeira mesa com a participação de observadores internacionais, que decorre até sábado (21.07), para "traçar as estratégias globais e inclusivas para dar solução aos problemas que afetam o país".
Esta iniciativa, que deverá envolver o Governo, instituições públicas, partidos políticos, líderes e ativistas políticos e sociedade civil, é a segunda mesa de diálogo nacional que se realiza na Guiné Equatorial desde a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em julho de 2014, sucedendo à de novembro daquele ano, na qual Teodoro Obiang promulgou uma amnistia geral, uma das exigências da oposição no exílio para participar.
No último diálogo, em 2014, cinco partidos políticos puderam legalizar-se, entre os quais Cidadãos para a Inovação (CI) e Convergência para a Democracia Social (CPDS), que se tornou no principal partido na oposição na época.
O CI foi dissolvido em finais de fevereiro deste ano, na sequência de um processo de 147 dos seus militantes, acusados de "sedição, desordem pública, atentados à autoridade e ferimentos graves".
"Distrair a comunidade internacional"
Em entrevista à DW África, Tutu Alicante, diretor executivo da organização não-governamental EG Justice, não se mostrou surpreendido com este anúncio, que é, na sua opinião, mais uma medida "para ludibriar e distrair a comunidade internacional".
Início do diálogo nacional na Guiné Equatorial
Tutu Alicante, que vive no exílio, nos Estados Unidos, não acredita na iniciativa de Teodoro Obiang, visto que já houve cinco iniciativas comparáveis no passado, e nenhuma delas trouxe progressos palpáveis.
"Já ocorreram no país cinco diálogos nacionais e, segundo os participantes, não foram diálogos, mas sim monólogos. Só falaram os governantes e pessoas muito próximas do regime, enquanto à oposição foi cortada qualquer possibilidade de apresentar as suas ideias", afirma. "Assim, não se justifica mais um diálogo nacional nesses moldes".
Obiang, uma pedra no sapato da CPLP
Ainda assim, Obiang, no poder desde 1979, será mais uma vez recebido no seio da CPLP. À margem da cimeira do grupo, que acontece a partir desta terça-feira (17.07), na ilha do Sal, em Cabo Verde, decorrerá mesmo um programa cultural em homenagem aos presidentes executivos e nao executivos presentes nesta cimeira, portanto também em homenagem a Teodoro Obiang, que muitos apelidam de déspota.
O artista plástico Tchalê Figueira, um dos mais conceituados pintores cabo-verdianos, disse à DW África que recusou integrar uma exposição coletiva na cimeira da CPLP, por não respeitar alguns chefes de Estado lusófonos que considera ditadores. É o caso de Teodoro Obiang, que segura o poder, com punho de ferro, há quase quatro décadas.
"Não participo nestas cimeiras com as minhas obras. As coisas continuam na mesma: há prisões arbitrárias, tortura e eu não compactuo com isso porque luto a favor dos direitos humanos", explica Tchalê Figueira. "Não vou apresentar as minhas obras quando este homem (Obiang) é uma pessoa que não respeita os direitos humanos", frisa.
A XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP marca o arranque da presidência cabo-verdiana da organização. E a Guiné Equatorial promete ser mais uma vez uma pedra no sapato da comunidade lusófona.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.