Imigrantes são-tomenses em Lisboa têm esperança que as eleições legislativas, autárquicas e regionais do próximo domingo tragam mudanças concretas nos setores da saúde e da educação e um novo rumo para o país natal.
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Nelson Pontes é estudante de Ciência Política e Relações Internacionais. Veio de São Tomé sem bolsa do Estado. Decidiu desafiar o futuro por conta própria, enfrentando dificuldades, mas sempre atento aos acontecimentos na terra natal. É com expetativa que antevê as próximas eleições legislativas, autárquicas e regionais em São Tomé e Príncipe.
"Porque nos últimos quatro anos tivemos um Governo que prometeu muito, mas não conseguiu dar resposta às aspirações da população são-tomense. Mesmo distantes, nós conseguimos sentir o sofrimento, a dor e o sentimento de impotência da população", diz.
O estudante são-tomense diz que as expetativas criadas com as promessas feitas pelo Governo de Patrice Trovoada, em 2014, traduzem-se hoje num tremendo fracasso. E se pudesse votar, seria para "votar na mudança". "Porque com a força política que nós vimos [governar] nos últimos quatro anos ficou claro que não vamos a lado nenhum", critica.
Melhorar educação e saúde
Ilidiacolina Vera Cruz espera que o próximo Governo possa trabalhar em prol do real desenvolvimento do país, principalmente nas áreas da educação e da saúde. A presidente da Mén Nón - Associação das Mulheres de São Tomé e Príncipe em Portugal sublinha que é preciso melhorar as condições técnicas de diagnóstico, acompanhadas de políticas que permitam reduzir o número de doentes evacuados para o exterior.
"Sentimos que muitas vezes os doentes quando chegam a Portugal são abandonados completamente. Algumas vezes sem condições de subsistência, até medicamentosa. Existe uma série de ações que têm que partir da base, do Governo de São Tomé e Príncipe, para melhorar e minimizar estas carências na diáspora, principalmente em Portugal", defende.
Diáspora são-tomense espera que eleições tragam mudanças no país
Pode-se então esperar por uma mudança na política governativa com as eleições deste domingo em São Tomé e Príncipe? "Não tenho elementos palpáveis que me possam dar indicação que vai ou não vai haver mudança, neste caso da maioria, mas em conversas particulares, com amigos e familiares, a impressão é que os partidos da oposição não estão a entregar de bandeja a maioria absoluta à Ação Democrática Independente (ADI)", responde João Viegas d’ Abreu, presidente do Fórum da Diáspora São-Tomense.
"Estas eleições estão a ser muito mais disputadas em termos de campanha e participação de militantes dos demais partidos da oposição, ao contrário daquilo que se podia esperar, tendo em consideração o facto de não ter havido uma grande abundância de recursos financeiros como em períodos eleitorais anteriores", observa.
Imigrantes reclamam direito de voto
João Viegas afirma que, numa democracia recente como a de São Tomé e Príncipe, a ida às urnas "é sempre um motivo de satisfação". Contudo, a impossibilidade dos são-tomenses na diáspora votarem nestas eleições deixa "um grande amargo de boca".
"Nós não vamos participar de forma ativa. Somos considerados são-tomenses de segunda na medida em que não estamos habilitados para votar nas eleições legislativas, porque não foi alterada a Lei 11/90, que permitiria a criação de círculos eleitorais [no estrangeiro]", critica. "E talvez muitos possam pensar que existe alguma apetência da comunidade de imigrante são-tomense de fazer parte da Assembleia ou ser eleito como deputado, representante do povo. Não. O que nós gostaríamos era de podermos participar e contribuir para o processo democrático em São Tomé e Príncipe."
Sobretudo, argumenta João Viegas, quando se tem um número significativo de são-tomenses no exterior a rondar as 70 mil pessoas, o que representa cerca de 35% da população, que se preocupa com o que se passa no país.
Estilistas africanas em Portugal cada vez mais empreendedoras
África está na moda. 40 anos depois das independências das ex-colónias, de onde vieram muitos imigrantes, alguns dos seus filhos, nascidos em Portugal ou naturalizados portugueses, afirmam-se como estilistas e criadores.
Foto: DW/J. Carlos
"Nónó", a pioneira
Quando em 1986 a guineense Leonor Delgado, mais conhecida por "Nónó" (à esq.), começou a produzir, em Portugal, roupas inspiradas nos trajes tradicionais africanos, ainda não estava em voga o interesse pelas produções inspiradas nos padrões dos tecidos oriundos de África. Quase 30 anos depois, são já muitas as criadoras que confecionam peças diversas e atraentes não só para o mercado português.
Foto: DW/J. Carlos
Roselyn Silva: aposta forte no destino
O espírito empreendedor, o suporte financeiro e a criatividade são determinantes para o sucesso. Mas as jovens que se lançaram neste desafio sabem que nem sempre é possível triunfar ou sobreviver no mercado europeu quando os principais consumidores são aliciados com uma vasta gama de ofertas. Ainda assim, Roselyn Silva, natural de São Tomé e Príncipe, desafiou o destino e apostou no seu sonho.
Foto: DW/J. Carlos
Londres foi rampa de lançamento
A jovem, formada em engenharia civil e amante do desporto, foi sempre uma rapariga de paixões. "O gosto pela moda sempre esteve visível desde pequenina", diz. Em 2013 começou a expor as suas criações no Facebook. Tudo começou como um passatempo, até que, por intermédio de uma amiga, fez uma apresentação em Londres. "As pessoas começaram a gostar do meu conceito". E os convites começaram a surgir.
Foto: DW/J. Carlos
Fusão afro-europeia
A opção pelos tecidos africanos é claramente indiscutível. No entanto, a estilista, que diz ser uma mulher moderna, não ficou presa ao conceito de traje tradicional. Por ter crescido na Europa desde os 8 anos, juntou o útil ao agradável, criando o seu próprio estilo, depois de ter percebido que este era uma mercado a explorar. Foi uma longa aventura, depois da sua primeira coleção.
Foto: DW/J. Carlos
Encomendas exclusivas
Do seu design também faz parte o estilo clássico. Como o acesso ao tecido africano era difícil, conseguia matéria-prima em pouca quantidade. Foi então que decidiu fazer peças exclusivas para encomendas exclusivas, inclusivé para homens, posicionando-se no mercado de gama luxo. Mas, adianta Roselyn Silva, a exclusividade também exige custos que compensem o investimento.
Foto: DW/J. Carlos
Tecidos importados de África
Hoje, no seu atelier num centro comercial localizado numa das ruas nobres da cidade de Lisboa, as peças são confecionadas manualmente por uma equipa de trabalho integrada por uma modista e uma costureira. Assim, tem acesso direto à produção e poupa nos custos, evitando subcontratar serviços. Os panos, de padrões africanos, são agora importados de Angola, Moçambique, Senegal e África do Sul.
Foto: DW/J. Carlos
Internacionalização depois de Portugal
Graças ao seu espírito empreendedor, a marca Roselyn Silva tem conquistado espaço, destacando-se a participação em eventos como o "Porto Fashion Week" e o "Black Fashion Week", em Lisboa. A batalha é consolidar posição em Portugal e internacionalizar-se, já com os olhos postos em países como a Alemanha e Angola. Por isso, explica a estilista, "estamos atentos a tudo o que acontece lá fora".
Foto: DW/J. Carlos
Goretti Pina: 15 anos no mercado português
Há mais tempo nestas lides – já lá vão 19 anos – a também são-tomense Goretti Pina apresentou recentemente peças novas no Museu da Carris, no âmbito da mostra "África em Lisboa". Trabalha há 15 anos no mercado português e já fez apresentações fora de Portugal. Diz que cria as roupas a pensar primeira em si, imaginando as pessoas que gostaria de vestir. "Faço peças com as quais eu me identifico".
Foto: DW/J. Carlos
Encomendas sem capacidade de resposta
A coleção que apresenta nesta primavera/verão é uma transição entre as estações, associando tecidos mais quentes com os mais frios. No meio de tantas propostas, o padrão africano está sempre presente, o que atrai sempre o público-alvo. É com um sorriso que Goretti Pina diz não lhe faltarem encomendas. São tantas que recusa alguns tantos pedidos por incapacidade de resposta.
Foto: DW/J. Carlos
Na azáfama dos bastidores
Entretanto, antes da apresentação da coleção, as manequins preparam-se nos bastidores, no meio da azáfama, para mais um desfile. Todos os detalhes são observados, desde o arranjo dos penteados à maquilhagem, de modo a condizer com a ideia global concebida pela estilista.
Foto: DW/J. Carlos
Clientes fiéis de Londres a Luanda
A escolha de modelos que deem beleza às roupas também é determinante para que o resultado final seja o mais elegante possível. Há que seduzir o público, seja ele europeu ou africano. Tanto é que, além do mercado português, Goretti Pina tem produzido para clientes fiéis em Londres (Inglaterra), Paris (França) e Luanda (Angola).
Foto: DW/J. Carlos
Oportunidade para expansão internacional
Dividindo o seu tempo entre a moda, a escrita literária e a jurisdição, a estilista já tem em agenda a mostra de uma nova coleção, no âmbito das comemorações do 40º aniversário da independência do seu país natal, que se assinala em julho. Mais uma oportunidade para mostrar o seu talento, com a promessa de trabalhar mais para a projeção internacional da sua marca. Autor: João Carlos (Lisboa)