Na Guiné-Bissau, 13 dos 21 partidos que concorrem às eleições de domingo (10.03) não respeitam a lei da paridade. Mas o Movimento Mais Mulheres não perde a esperança e apela à eleição de mais deputadas.
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A Guiné-Bissau conta atualmente com 49 partidos políticos, mas apenas três são dirigidos por mulheres.
O Parlamento guineense aprovou em novembro uma lei de paridade que impõe aos partidos a fixação de uma quota mínima de 36% de mulheres nas listas. Mas esse número não foi respeitado.
"Estamos desapontadas", diz Djenane de Jesus, líder do Movimento Mais Mulheres (MMM).
"A maioria dos partidos políticos não conseguiu cumprir na íntegra com a lei. Os que conseguiram atingir os 36% de representatividade feminina, em termos de candidatas ao cargo de deputado da Nação nas eleições de 10 de março, são na sua maioria partidos sem expressão."
Guiné-Bissau: Mulheres ao poder?
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Apelo ao voto nas mulheres
Para a líder feminista, o encerramento do Parlamento durante meses em Bissau contribuiu para o atraso na implementação da lei. Mas Djenane de Jesus não perde a esperança e apela à participação das mulheres na política, a começar pela ida às urnas, nas legislativas de domingo.
O MMM tem apelado ao voto a favor das mulheres candidatas na sua página no Facebook e nos meios de comunicação social guineenses: "Esperamos realmente que haja uma maior representatividade, que haja um maior número de mulheres eleitas nessas eleições", afirma Djenane de Jesus.
Ruanda: Um bom exemplo?
O Ruanda ocupa o sexto lugar no ranking de igualdade de género, à frente da Alemanha, que está 14º lugar, segundo um estudo do Fórum Económico Mundial. Naquele país, pelo menos 30% de todos os empregos afetos ao serviço público são reservados para o sexo feminino. No Parlamento, a proporção de mulheres chega aos 61,3% - um recorde mundial.
Dia da Mulher: Mulheres guineenses "desapontadas" com partidos
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Natacha Umutoni, blogger e empresária em Kigali, está orgulhosa desse feito. "Diria que estamos a fazer um grande progresso. E o facto de metade do nosso Governo ser composto por mulheres é um bom indicador. Mas certamente não é tudo perfeito aqui. O caminho é longo e o processo não está concluído", ressalva.
A igualdade de género no Ruanda está prevista na Constituição, mas é consequência do capítulo mais sombrio da história do país. Depois do genocídio, há 25 anos, as mulheres viram-se obrigadas a reconstruir tudo sozinhas.
"O genocídio desempenhou um papel importante no processo de igualdade de género no Ruanda, e o país não teve escolha senão fortalecer os direitos das mulheres", conta Umutoni.
"As pessoas no campo de batalha eram na sua maioria do sexo masculino. As mulheres ficaram para trás e tinham de cuidar de si e das famílias", acrescenta. "Muitos homens perderam a vida, deixando viúvas e filhos órfãos. Nesta situação, as mulheres tiveram de assumir diversos papéis, como ser chefes de família."
Paraíso para mulheres?
Quando se fala de política no Ruanda, as manchetes dos jornais mostram o país como a "Terra da Mulheres", a "Senhora Ruanda" ou o "Paraíso Feminino". Mas o jornalista da DW Fred Muvunyi aponta falhas no sistema. Um exemplo é a licença de maternidade, que continua a ser de 12 semanas.
Muvunyi critica ainda o facto da paridade de género na política do Ruanda ser frequentemente misturada com propaganda política para que o Presidente Paul Kagame lave a imagem no panorama internacional. O jornalista recorda também o caso de Diane Rwigara, uma ativista dos Direitos da Mulheres que tentou concorrer às eleições de 2017 contra Paul Kagame, mas que foi afastada e presa, acusada de ter falsificado assinaturas durante a candidatura. Um ano depois foi ilibada de todas as acusações.
"Por um lado, o Presidente afirma que apoia as mulheres e a igualdade. Ao mesmo tempo, desarma as mulheres que se sentem suficientemente fortes para concorrer à Presidência. Isto não é empoderar as mulheres. Isto mostra que o regime não está preparado para respeitar os direitos dos seus críticos", afirma Fred Muvunyi.
De 2017 para 2018, o número de mulheres deputadas em parlamentos nacionais de todo o mundo aumentou quase um ponto percentual, para 24,3%, segundo dados difundidos pelas Nações Unidas. Em 1995, as mulheres parlamentares representavam apenas 11,3% do total de deputados.
No Dia Internacional da Mulher, a ONU aponta para que haja 740 milhões de mulheres a trabalhar em economias paralelas e com restrições no acesso à saúde a proteção social. As mulheres fazem ainda 2,6 vezes mais trabalho não remunerado do que os homens, sendo que apenas 41% das progenitoras em todo o mundo recebem benefícios após a maternidade.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.