Dia do Trabalhador é marcado por preocupação nos PALOP
Lusa
1 de maio de 2021
Neste 1 de Maio, muitos trabalhadores não têm o que comemorar devido ao desemprego, fome e insegurança, agravados pela pandemia de Covid-19. Em Angola, organização cancela marcha por temor de repressão policial.
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Nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), o Dia Internacional do Trabalhador é marcado este sábado (01/05) pelo alerta sobre a situação dos trabalhadores agravada pela pandemia de Covid-19, o desemprego e conflitos armados.
Em Angola, a União dos Povos de Angola (U.P.A.) pretendia realizar a sua primeira manifestação contra a fome e o desemprego generalizados no país. Segundo os organizadores, a polícia foi orientada a reprimir os manifestantes e, por esse motivo, a marcha foi cancelada.
Ainda para este sábado, um grupo de jovens convocou uma manifestação contra o que dizem ser a "má gestão" do lixo na capital de Angola, confrontada há vários meses com acumulação de resíduos nas ruas.
Em Moçambique, a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos (OTM) exige a retoma das negociações do aumento do salário mínimo ainda este ano. Numa mensagem à nação, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, sublinhou que a Covid-19 afeta o normal funcionamento da economia, tal como os ataques armados em Cabo Delgado e no centro do país.
"Em nome do Governo e em meu próprio, saúdo todos os trabalhadores nacionais e estrangeiros em Moçambique pela passagem desta data. Façamos das inúmeras adversidades oportunidade para intensificar a produção e produtividade de bens e serviços para os mercados interno e externo, mantendo a vitalidade da nossa economia e aumentando os postos de trabalho", afirmou o chefe de Estado moçambicano.
"O mais caricato de tudo é que, durante este período da pandemia, em que todo o mundo ficou com dificuldades financeiras, a Guiné-Bissau é o único país que infelizmente agravou a carga fiscal para os trabalhadores. Isso repercute negativamente no salário das pessoas e consequentemente na capacidade de compra", sublinhou.
A greve da Função Pública na Guiné-Bissau já dura cinco meses e está a ter maior impacto nos hospitais públicos e nas escolas, que se encontram paralisadas. E não há fim à vista.
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Mais apoios em Cabo Verde
Na véspera do Dia do Trabalhador, o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, incentivou que as medidas de apoio sejam intensificadas, especialmente aos mais vulneráveis afetados pela pandemia de Covid-19.
"Estimulo as autoridades a intensificarem as medidas de apoio, especialmente as direcionadas aos mais carenciados, mas simultaneamente a reforçarem os procedimentos de fiscalização, pois a adoção de condutas adequadas é fundamental para fazer face à situação de tamanha gravidade", declarou.
"Os trabalhadores, os empregadores, a sociedade civil e o Estado têm de congregar esforços para que, em primeiro lugar, a doença, com o seu cotejo de sofrimento, seja debelada e a economia e o conjunto das relações sociais sejam reatadas com a maior normalidade possível", acrescentou.
A dura vida dos trabalhadores informais de Moçambique
O trabalho informal é fonte de renda de muitos moçambicanos. Seja vendendo produtos ou serviços, a prática de atividades nas ruas é o ganha-pão de muitas famílias, mas impõe uma série de dificuldades e riscos.
Foto: DW/B. Jequete
Lavagem de carros
Por falta de emprego, muitos jovens decidiram atuar como empreendedores. Alguns ganham a vida a lavar carros nas ruas, bermas e esquinas da cidade de Chimoio, capital provincial de Manica. Muitas viaturas já não vão para as empresas que atuam no setor, porque os jovens oferecem o serviço a preços baixos, conquistando assim os clientes.
Foto: DW/B. Jequete
Água difícil de encontrar
Os lavadores de carros, que fazem do seu ganha-pão a atividade de lavar viaturas nas ruas, passam imensas dificuldades para encontrar uma fonte de abastecimento de água ou um poço tradicional. Percorrem longas distâncias para encontrar um local onde possam adquirir a água necessária para o trabalho, muitas vezes longe da zona de cimento.
Foto: DW/B. Jequete
Iniciate em ação
Salvador Manuel, de 26 anos de idade, diz ser novo na atividade de lavagem de viaturas nas ruas. "Eu não fazia nada, e um dia meu amigo convidou me para lhe ajudar a lavar carros aqui na cidade. Tive muita vergonha nos primeiros dias, mas tempos depois engrenei-me e agora já faço sozinho o trabalho," revela.
Foto: DW/B. Jequete
Odor desagradável
As principais ruas e avenidas da cidade ficam alagadas, resultado da lavagem das viaturas. Como não há sistema de esgoto, a água acaba formando pequenas poças que tendem a exalar um odor desagradável. O fato leva a edilidade a voltar as costas para os empreendedores. Caso sejam interpelados pelos fiscais, são aprendidos os materiais usados no trabalho como forma de desencorajar a prática.
Foto: DW/B. Jequete
Gravar a matrícula
Carlos Vasco, de 34 anos de idade, prefere dedicar-se à gravação da matrícula de viaturas e motorizadas. Ele diz estar a ganhar um "bom dinheiro" com o trabalho, suficiente para sustentar sua família. Há quem financie os estudos e outras necessidades com esta atividade. Alguns possuem formação académica, outros ainda estão a frequentar o ensino superior.
Foto: DW/B. Jequete
Roupas usadas
Em Chimoio, a roupa usada é vendida nos passeios, à beira das estradas e debaixo de árvores de sombra. Os empresários da urbe estão contra a atividade, devido à concorrência. "Na rua", os clientes também encontram boa roupa e a preço baixo. No entanto, quando os fiscais aparecem, recolhem toda a mercadoria – um risco diário para quem opta pela atividade.
Foto: DW/B. Jequete
Vender alimentos
Muitas vendedoras de alimentos alegam ter abandonado os mercados por "falta de movimento". Dizem que os clientes já não se fazem sentir nos mercados. Esta camada vende tomate, tubérculos, verduras, pepinos, feijões, entre outros produtos. A má conservação dos produtos atenta a saúde pública. Outro problema é que ocupam os passeios, obrigando os cidadãos a circular nas faixas de rodagem.
Foto: DW/B. Jequete
Vidas em risco
Produtos são vendidos também na via pública. Para além das principais artérias da cidade, muitos vão de estabelecimento em estabelecimento a oferecer os seus produtos, conquistando a clientela. Outros, caminham mesmo entre os carros, na esperança de encontrar os seus clientes em pleno trânsito e, ao mesmo tempo, colocando a própria vida em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Recarga de telemóvel
A maior parte dos vendedores de cartões de recarga de telemóvel na cidade de Chimoio são adolescentes e jovens que perambulam pelas artérias da cidade. Muitos pernoitam nas ruas e trabalham sem folgas. Estão sempre atentos à chamada dos clientes, alguns destes automobilistas – o que tem gerado um número de acidentes.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de um emprego
A atividade informal mais concorrida é o comércio - trabalho pelo qual optam, enquanto aguardam por um emprego formal. Muitos estão a investir o lucro para pagar os estudos, além do próprio sustento. Não é novidade encontrar um jovem com curso superior a vender nas ruas de Chimoio. Alguns têm vergonha de fazer o negócio e acabam se envolvendo em atos criminosos ou com as drogas.