Dia Mundial da População: Como travar êxodo rural em Angola?
José Adalberto
11 de julho de 2024
Angola tem 25 milhões de habitantes, que vivem sobretudo nas zonas urbanas. A procura de melhores condições originam o êxodo rural. Para evitar desequilíbrios, especialistas defendem mais investimentos no meio rural.
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Dados do censo da população e habitação de 2014 indicam que Angola tem de cerca de 25 milhões de pessoas, 63% das quais a viver nas zonas urbanas.
Vasco Cumabandala é natural do município de Londuimbali, província do Huambo. Há três anos decidiu deixar a sua terra natal e rumar à capital do país, Luanda, em busca de melhores condições de vida. "Na minha província era muito difícil adquirir alguma coisa para dar à minha família, por isso resolvi viajar para Luanda, para procurar qualquer coisa e enviar à família", conta à DW.
E este não é um caso isolado. Os números do último censo indicam que um em cada quatro cidadãos reside na capital do país. Ainda de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), 66% da população tem menos de 25 anos de idade.
Para o diretor-geral da Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Carlos Cambuta, o Executivo não tem sabido aproveitar, por via das políticas públicas, o facto de os jovens constituírem a maioria da população, daí o êxodo populacional para as zonas urbanas.
"Todos os dias nós temos acompanhado o êxodo rural. As pessoas abandonaram as aldeias porque perdem as esperanças nas aldeias. Não conseguem visualizar nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo mudanças significativas que podem ocorrer nas aldeias", afirma.
Esse movimento, por sua vez, resulta numa pressão populacional nos grandes centros urbanos, facto que condiciona o desenvolvimento sustentável destas cidades, segundo o INE. Exemplo disso é Luanda, a cidade concebida na era colonial para abrigar 500 mil habitantes, acolhe atualmente mais de 8 milhões de pessoas. A falta de saneamento básico, construções anárquicas e engarrafamentos sinalizam que Luanda é uma capital saturada, segundo as autoridades de Luanda.
Angola: Sabão artesanal é oportunidade para jovens do Bengo
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Governo pede paciência
Manuel Homem, governador da província de Luanda, diz que a sua administração tem projetos para melhorar a qualidade de vida dos habitantes de Luanda, mas pede paciência e colaboração dos citadinos.
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"É fundamental para que os projetos que estamos a desenvolver nos diferentes domínios, como o programa de ordenamento do comércio, do programa de melhoria das infraestruturas e as vias secundárias e terciárias, a melhoria dos equipamentos sociais, dos hospitais e das escolas possam ter o êxito que se espera", declarou.
Quanto ao sucesso da combinação crescimento populacional-desenvolvimento sustentável, o presidente do maior partido da oposição, a UNITA, tem dúvidas. Adalberto Costa Júnior acredita que as autarquias locais são condição sine qua non para que a situação melhore:
"É nossa convicção que, para se alcançar este desiderato, devemos lutar para a institucionalização das autarquias e impedindo que o regime se furte, uma vez mais, ao cumprimento deste compromisso de honra", sublinha.
Mas Manuel Homem diz que já existem ações que apontam para a melhoria da quantidade de vida em Luanda: "Estamos a dar alguns passos para continuarmos a melhorar a qualidade de vida dos munícipes de Luanda. Também temos consciência de que estes desafios são superados de forma gradual."
Angola: Diversificar a economia através da agricultura
O petróleo é a principal fonte de receitas de Angola. Face à crise no mercado internacional, o país procura diversificar a sua economia nomeadamente através da agricultura.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Estado das vias de acesso preocupa
Há 10 anos o Governo realiza, anualmente, a Feira da Banana no Bengo. Apesar do nome, a feira contempla diversos produtos. Bengo possui uma área arável de cerca de 1 milhão de hectares. As culturas mais predominantes são a mandioca, batata doce, feijão, banana, ginguba e batata rena. Mas o estado degradante das vias de acesso tem gerado perdas significativas aos produtores.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção nacional de Banana
A produção de banana é uma fonte de rendimento para muitas famílias, gerando postos de trabalho e desenvolvimento nas regiões de produção. Em 2023, a província angolana do Bengo produziu mais de 443 toneladas de banana. Martins Albino, produtor, diz que no município de Bula Atumba explora 8 hectares e consegue colher mais de 100 cachos de banana por mês.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Para quando o relançamento do café?
A produção de café em grande escala também pode ajudar Angola a depender menos do petróleo. O país, antes independência, já foi um dos maiores produtores de café. Os conflitos armados, o envelhecimento da mão de obra e o relaxamento dos produtores freou a sua elevação. Nos últimos tempos, tem havido maior aposta na produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Do bombó vem o funge
Na região norte de Angola, o funge de bombó, cuja matéria-prima é a mandioca, é um dos principais alimentos. Rosa José, que vive desta produção há mais de 20 anos, conseguiu empregar três trabalhadores. Em um ano colhe e comercializa mais de uma tonelada de bombó. Face aos níveis de produção na sua localidade, diz que tem procurado vender o bombó em outros mercados.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Cana-de açúcar é outra alternativa
Também a produção de cana-de açúcar já proporcionou muitas alegrias a Angola. A cidade capital do Bengo encontra-se numa zona que recebeu o nome de "Açucareira" precisamente por conta dos elevadores níveis de produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Das águas angolanas chegam outras valências
Peixes de diferentes espécies podem ser encontrados no rio ou no mar, na província do Bengo. Ambriz, por exemplo, é conhecido por ser um município piscatório devido ao seu potencial no que à pesca diz respeito. Quem visita a municipalidade não pode deixar de provar a "madiquita".
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Kizaca, o "frango verde" de Angola
Além da mandioca que dá origem ao bombó, da mesma produção vem a kizaca. Um alimento que durante a pandemia da COVID-19 ficou conhecido em algumas zonas de Angola como "frango verde". Muito presente na mesa dos angolanos, a kizaca pode acompanhar o funge, o arroz e até mesmo o molho.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção de laranja
Este é outro produto que muito se cultiva em Angola: a laranja. Nesta feira em que participam mais de 500 expositores, com um volume de negócios de mais de cem milhões de Kwanzas (cerca de 109.453€), os participantes aproveitam para fazer negócios. O Governo do Bengo contempla um total de 156 associações de camponeses e 187 cooperativas agropecuárias, grande parte integrada por ex-militares.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Autoridades e produtores buscam soluções
Sentados "à mesma mesa", autoridades e produtores buscam soluções para melhorar e impulsionar a produção nacional e alavancar a diversificação da economia do país.