Dia Mundial da População: Mulheres angolanas vulneráveis
Rodrigo Vaz Pinto
11 de julho de 2019
Muitas mulheres em Angola ainda não têm acesso a informação sobre educação sexual ou a consultas de planeamento familiar. A população cresceu muito nas últimas décadas e a proteção social ainda é baixa.
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O dia 11 de julho é o Dia Mundial da População, uma data promovida pela Organização das Nações Unidas para alertar sobre os problemas do crescimento populacional. O nosso planeta tem atualmente 7,7 biliões de habitantes e esse número pode chegar perto dos 10 biliões já em 2050.
Os países africanos são algumas das nações que têm registado um maior crescimento populacional das últimas décadas. Angola é um exemplo desse aumento exponencial, onde as mulheres estão bastante vulneráveis. Entre 1994 e 2019, a população de Angola passou de 13,8 milhões para 31,8 milhões de habitantes e, atualmente por cada mil partos, 163 são de jovens adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e os 19.
Somente 17% das mulheres entre os 15 e os 49 anos tem acesso a métodos contraceptivos. A DW África falou com Verónica Sapalo, diretora da Plataforma Mulher em Ação sobre as questões de género em Angola e de como as mulheres angolanas precisam de maior proteção social.
DW África: A população angolana tem crescido muito nas últimas décadas. Há mais pressão no papel da mulher na sociedade angolana?
Verónica Sapalo (VS): Regista-se um grande crescimento da população, tendo em conta que constatamos e observamos a olho nu nas localidades, mulheres jovens e até podemos considerar adolescentes, já em estado de gestação. O acesso aos serviços sexuais e reprodutivos nessas localidades ainda está aquém das expectativas. Há inexistência e uma insuficiência de uma legislação que poderia salvaguardar os direitos sexuais reprodutivos dos adolescentes, sobretudo.
Dia Mundial da População: entrevista Verónica Sapalo
DW África: A questão da natalidade tem maneira de ser controlada?
VS: Nas comunas, por exemplo, não se encontra nenhum serviço materno-infantil. Não há ali uma sala de parto. Não há ali serviços de planeamento familiar. Não há ali informações de como é que as mulheres naquelas áreas podem ter um parto seguro. Estamos a falar de diferentes estratos sociais. O casco urbano tem informação, porque os serviços estão ali e as mulheres acedem aos serviços, prometem que têm de fazer o controlo da gestação. No entanto, indo a uma comuna, vamos ter a informação de que esta menina ou esta mulher que estão em estado de gestação nunca tiveram acesso a um serviço de saúde reprodutiva.
DW África: As mulheres africanas têm um acesso facilitado aos métodos contraceptivos?
VS: Existe, em média escala, o acesso aos contraceptivos. Mas o problema da informação, o baixo nível de educação dos diferentes grupos alvo, sobretudo, os que vivem com maiores problemas. Ainda há alguma resistência e persistência em termos de acesso aos serviços de controlo ou planeamento familiar às comunidades, porque prevalece o costume: uma mulher que tem uma relação, o costume diz que ela tem de tirar todos os filhos da barriga.
DW África: A educação pode ter um papel decisivo no futuro das mulheres?
VS: Esse grande problema do analfabetismo é uma condicionante para o progresso no quadro do desenvolvimento local e também no plano do desenvolvimento sustentável.
DW África: Que medidas podem ser tomadas pelo estado para melhorar as condições das mulheres angolanas?
VS: Pensamos que o estado deveria reforçar um pouco mais as políticas públicas no quadro da inclusão social. Os programas de desenvolvimento local deviam olhar inicialmente para a problemática da população e, em função do contexto de cada comunidade, definir linhas orientadoras de intervenção para mitigar problemas sociais.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.