Dia Mundial da Tuberculose: doença mata milhares em África
Lusa | rl
24 de março de 2017
Celebra-se esta sexta-feira (24.03) o Dia Mundial da Tuberculose, doença que mata uma pessoa a cada 18 segundos. Moçambique e Angola estão entre os 20 países no mundo com maior incidência da doença.
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Celebra-se, esta sexta-feira (24.03), o Dia Mundial da Tuberculose, data que pretende consciencializar a população sobre esta doença que é responsável pela morte de uma pessoa a cada 18 segundos, cerca de 1,8 milhões por ano. 2017 é o segundo e último ano da campanha levada a cabo pela Organização Mundial da Saúde (OMS) intitulada "Unidos para por fim à Tuberculose” e que pretende evitar que a falta de informação sobre a doença contribua para um diagnóstico tardio.
Neste dia Mundial da Tuberculose, Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para África, alerta para o facto desta doença continuar a ser uma das dez principais causas de morte no mundo, lembrando que um em cada quatro novos casos de infeção ocorre no continente africano, que conta também com 16 dos 30 países que têm o fardo mais elevado da doença.
O mais recente relatório global sobre a tuberculose da OMS, divulgado em outubro do ano passado, dá conta que Moçambique e Angola estão entre os 20 países no mundo com maior incediência da doença, tendo registado, em 2015, 154 mil e 93 mil novos casos, respetivamente.
Angola continua a registar novos casos
Neste dia, João Chiwana, diretor clínico do Hospital Sanatório da capital angolana, dá conta da sua preocupação com o crescente número de casos registados na sua unidade hospitalar. De acordo com este responsável, Luanda está a registar mais de 500 novos casos da doença por mês. João Chiwana explica que as novas infeções são maioritariamente pulmonares e tendem a crescer significativamente, devido à ineficácia dos programas de combate à tuberculose desenvolvidos e à procura tardia pelos doentes de tratamento.
Doença mata 35 mil pessoas por dia em Moçambique
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) estima que, em Moçambique, a doença mate 35 mil pessoas por dia. Num seminário alusivo ao Dia Mundial da Luta contra a doença, que se realizou recentemente, o chefe da missão da MSF em Moçambique, Lucas Molfino, afirmou que o país precisa de criar capacidade de diagnóstico e tratamento nas unidades de saúde de nível mais baixo e não concentrar estas competências nos principais hospitais. "A resposta [contra a tuberculose] deve ser multissetorial, descentralizando os cuidados de saúde e mobilizando a sociedade para um compromisso contra esta doença", afirmou.
O chefe da missão da MSF apontou a elevada incidência do VIH/SIDA como uma das causas da resistência da tuberculose ao tratamento em Moçambique, assinalando que cerca de 11% da população moçambicana está infetada por aquela doença.
Segundo a OMS, dos 154 mil novos casos de tuberculose registados em Moçambique, em 2015, 83 mil são homens, 56 mil são mulheres e 15 mil são crianças, com menos de 15 anos. Mais de metade dos novos casos (52%) são pessoas também infetadas com o HIV.
"Dados apontam para diminuição” em Cabo Verde, diz ministro
Também esta semana foram divulgados os dados do relatório das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Humano. Foi neste contexto que Arlindo do Rosário, ministro da Saúde de Cabo Verde, deu conta que, de acordo com os dados disponíveis em relação "à tuberculose e ao HIV, "a tendência é para a diminuição dos casos". Uma informação que vai no sentido contrário à divulgada no IDH que dá conta de um aumento de casos de tuberculose e VIH em Cabo Verde.
Guiné-Bissau: Tuberculose associada ao HIV
Na Guiné-Bissau, a tuberculose é também uma realidade. Os dados da ONU dão conta que cerca de mil pessoas seronegativas e 1.500 pessoas seropositivas morreram no país em 2015 por causa da tuberculose. A OMS estima que a Guiné-Bissau tenha registado 6.600 novos casos de tuberculose neste mesmo ano (369 em cada 100 mil habitantes), dos quais 40% (2.900) em pessoas com HIV positivo.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.