Diretor da Agricultura e Segurança Alimentar da Zambézia não pode assumir mais cargos públicos durante toda a vida. Marcelo Chaquisse desviou avultadas somas dos cofres dos serviços que dirigia.
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A secretária permanente do Governo Provincial da Zambézia, Elisa Somane, disse que Marcelo Chaquisse, já se encontra desvinculado do aparelho do Estado por práticas desonestas, nomeadamente constantes desvios de montantes que totalizam cerca de 3 milhões de meticais (cerca de 42 mil euros) e de desobediência às leis da Função Pública do país.
“Os motivos que resultaram na pena de expulsão tem a ver com o mau uso de aplicação dos fundos do Estado, o não cumprimento dos procedimentos de gestão dos prestadores de serviços apurados em determinadas ocasiões e que não eram os que legalmente estavam inscritos para prestarem serviços à instituição. Avaliando todos esses elementos, o resultado foi a aplicação da pena de expulsão”, detalhou Elisa Somane.
Abuso e uso indevido do dinheiro público
O caso Marcelo Chaquisse, começou a ser investigado em julho de 2017, quando o ex-diretor foi detido na companhia do empresário e ex-presidente da confederação das associações económicas da Zambézia, Alfredo Ramos acusado de cúmplice nos desvios de dinheiro do erário público.Elisa Somane, disse em entrevista à DW África que a decisão de expulsar Marcelo Chaquisse da instituição que dirigia significa “perder todos direitos como funcionário do Estado”.
Zambézia Corrupção - MP3-Mono
“Ele não terá direito a reforma, uma vez expulso não pode voltar a ter mais uma relação com o Estado moçambicano”, pontuou Somane à DW.
Caso inédito na Zambézia
Em reação à desvinculação do aparelho estatal de Marcelo Chaquisse, o secretário provincial da Zambézia do Sindicato dos Trabalhadores Moçambicanos, Caetano Galhardo, disse que está satisfeito com a decisão que pela primeira vez ocorre na província.
“Louvo a atitude das autoridades por ter punido situações como essas no seio de quadros séniores, porque antes pairava a ideia de que somente as pessoas de categoria no no aparelho do Estado eram punidas. É algo para alertar e advertir os outros”, afirmou Caetano Galhardo.
O sindicalista aconselha ao Governo para que casos semelhantes que já tenham acontecido no Estado, sejam também tomadas as medidas que se impõem".
Um alerta contra a corrupção
A advogada Assia Mamad, considera a penalização de dirigentes corruptos no aparelho do Estado, uma prática boa porque desencoraja qualquer tentativa do género.
“Podem existir falhas e erros. Sinceramente falando, acredito que o fim é mesmo garantir a justiça e evitar que cenários ilícitos criminais aconteçam. No meio de tudo isso que vem sendo registado, os dirigentes que eventualmente tenham tendências vão ter um pouco de receio para cometer qualquer ilegalidade”, disse Assia Mamad.
Vale recordar que pelo menos, quatro diretores provinciais da Zambézia têm processos criminais em curso no Tribunal Judicial da província. Um deles é Alberto Manharage, diretor dos Transportes e Comunicações que, em 2013, adjudicou obras num montante de 14 milhões meticais (cerca de 195 mil euros) para construção de salas de embarque e desembarque nas margens do Rio dos Bons Sinais, mas até hoje as obras não foram executadas.
Oportunidade ou perigo? A extração de areia em Moçambique
A extração de areia movimenta muito dinheiro na província moçambicana da Zambézia. Ambientalistas alertam para os perigos ambientais. Mas para quem trabalha neste negócio no distrito de Nicoadala, parar seria difícil.
Foto: DW/M. Mueia
O negócio da areia em Nicoadala
Já foram devastadas extensas áreas de terra devido ao negócio da areia no distrito de Nicoadala, no centro de Moçambique. São sobretudo os jovens naturais da região que trabalham aqui.
Foto: DW/M. Mueia
Trabalho duro
Extrair areia é um trabalho duro. Os trabalhadores queixam-se frequentemente de dores na coluna e dores de cabeça, entre outras coisas. Ainda assim, o trabalho dá para "manter a vida" e sustentar a família, afirmam. Conseguem, assim, pagar a escola aos filhos, comprar-lhes roupas e adquirir bicicletas, o principal meio de transporte familiar nesta zona.
Foto: DW/M. Mueia
Longe da escola
Os jovens que trabalham aqui contam que não puderam estudar por falta de condições financeiras. A maioria não concluiu o ensino primário.
Foto: DW/M. Mueia
Areia para a região
A areia do tipo "mina" é extraída e, depois, vendida a camionistas. O número de clientes cresce durante o verão.
Foto: DW/M. Mueia
À espera do camião
Estima-se que, todos os dias, mais de 30 veículos pesados entram na região de extração de areia. A atividade rende diariamente à Associação dos Garimpeiros de Nicoadala entre 20 a 35 mil meticais (entre 280 e 490 euros). O valor é acumulado durante uma semana para posteriormente ser distribuído pelos 26 associados.
Foto: DW/M. Mueia
Contas em dia
Membros da Associação dos Garimpeiros de Nicoadala: na foto, à frente, o presidente da associação, João Mariano (direita) e o fiscal Bito Lucas (esquerda), que tem a função de passar faturas e receber o dinheiro dos camionistas.
Foto: DW/M. Mueia
Preços da areia
O valor da areia é fixo, segundo os "garimpeiros": no terreno, os camionistas compram 1.600kg de areia a 500 meticais (o equivalente a sete euros), mas o valor dispara na revenda. A mesma quantidade de areia é revendida na cidade de Quelimane a 8.000 meticais (mais de cem euros).
Foto: DW/M. Mueia
A caminho da cidade
A areia é transportada pelos camionistas até à cidade de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. A maioria dos imóveis na região é construída com areia de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Blocos de cimento e areia
Para produzir blocos de construção, é preciso juntar um saco de cimento de 50kg a 80kg de areia. Aos poucos, coloca-se água e vai-se misturando com uma pá durante 30 minutos. A massa final é posta em pequenas máquinas manuais para moldar o bloco.
Foto: DW/M. Mueia
Cenário desolador
Para trás, fica um cenário desolador. Estes são os efeitos secundários da extração de areia. Áreas que eram mais elevadas estão agora assim, com pequenas lagoas e vastas planícies. Já foram retiradas dezenas de toneladas de areia para construir edifícios em Quelimane, incluindo edifícios de instituições públicas, no próprio distrito de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos impróprios
Zonas anteriormente exploradas pelos "garimpeiros" não servem para a prática de agricultura nem para a pastagem de gado. Isso por serem consideradas áreas de difícil acesso em época de chuvas, com solos bastantes arenosos.
Foto: DW/M. Mueia
Para camionistas, parar não é solução
Os camionistas dizem estar conscientes do perigo ambiental, mas sublinham que não têm outra alternativa. Sem este negócio, muitas famílias passariam mal e "deixaria de haver a construção de habitações convencionais", frisa o camionista Carlos Manuel, que diz que quem mais lucra com o negócio são os proprietários das viaturas.