Dissidentes do ANC anunciam "frente unida" na África do Sul
Lusa
12 de janeiro de 2024
O líder do novo partido Congresso Africano para a Transformação (ACT), Ace Magashule, ex-secretário-geral do ANC, no poder na África do Sul, anunciou a intenção de criar uma "frente unida" com o ex-Presidente Jacob Zuma.
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Em comunicado, o antigo secretário-geral do Congresso Nacional Africano (ANC) e aliado próximo do ex-presidente Jacob Zuma - ambos integraram o uMkhonto we Sizwe (MK), o braço armado do ANC até 1994 - referiu que a "nova era de colaboração e mudança" terá por objetivo contestar as eleições gerais deste ano na África do Sul.
Magashule, 63 anos, que foi expulso do ANC em junho de 2023, após enfrentar na justiça um caso de corrupção, anunciou em agosto a criação do seu próprio partido político.
Jacob Zuma, 81 anos, envolvido em vários escândalos de corrupção, incluindo um caso de alegado suborno na justiça com mais de 20 anos envolvendo o fabricante de armamento francês Thales, não saiu do partido, mas anunciou no mês passado que não votaria pelo ANC, apelando ao voto num pequeno partido radical recentemente registado de nome Umkhonto We Sizwe (MK).
Segundo o partido ACT, Ace Magashule apresentará nos próximos dias, em Pietermaritzburg, capital da província do KwaZulu-Natal, sudeste do país, "a visão de uma frente unida entre o ACT e o MK".
Por outro lado, Zuma foi convidado a participar num serviço religioso organizado pela Igreja Baptista de Nazareth em Khenana, KwaZulu-Natal, no sábado. Segundo o partido, a igreja tem mais de 10 milhões de membros, sendo das "mais respeitadas" no país.
"Divisões profundas" no ANC
Segundo analistas políticos sul-africanos, as novas alianças dissentes do partido ANC, no poder há cerca de 30 anos na África do Sul, demonstra a existência de "divisões profundas" no seio do partido do líder histórico Nelson Mandela, que enfrenta nos últimos anos acusações de corrupção desenfreada, elevados níveis de crime organizado no país, desemprego e a quase falência das empresas públicas.
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O desempenho eleitoral do ANC nas eleições gerais tem vindo a diminuir desde as primeiras eleições multirraciais e democráticas em 1994. O eleitorado, nomeadamente a maioria negra, afastou-se cada vez mais do partido no poder desde o fim do anterior regime de 'apartheid', em 1994.
O sistema segregacionista do 'apartheid' na África do Sul foi desmantelado através de negociações bilaterais e multipartidárias realizadas entre 1990 e 1993, que culminaram na assinatura de um Acordo Nacional de Paz, em 1991, e no estabelecimento da Convenção Multipartidária para uma África do Sul Democrática (CODESA, na sigla em inglês).?
A África do Sul, que é considerada a economia mais desenvolvida do continente, tem atualmente uma taxa de desemprego superior a 32%, tendo sido classificada como o país mais desigual do mundo pelo Banco Mundial.
África do Sul abalada por atos de vandalismo
Mais de 70 pessoas já terão morrido desde que começou na África do Sul uma onda protestos contra a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma, marcada por vandalismo e pilhagem de bens públicos.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Prisão de Jacob Zuma
A agitação começou sob a forma de protestos contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma na semana passada. O antigo chefe de Estado foi condenado a 15 meses de prisão, acusado de desacato a uma ordem do Tribunal Constitucional para prestar depoimento num inquérito que investigava a "grande corrupção" durante os nove anos do seu mandato até 2018.
Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters
Manifestantes saem às ruas
Os apoiantes de Jacob Zuma, principalmente oriundos de KwaZulu-Natal, saíram às ruas para protestar contra a detenção do ex-estadista, alengado que a sua detenção tem motivações políticas, da parte do seu sucessor, o atua Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Os protestos rapidamente se transformaram em tumultos e num autêntico caos em várias zonas do país.
Foto: Sumaya Hisham/Reuters
Saques de lojas e bens públicos
Os protestantes atearam fogo e saquearam vários centros comerciais, principalmente nas cidades de KwaZulu-Natal e Johanesburgo. Pelo menos 10 corpos foram encontrados depois de uma corrida de pilhagem num centro comercial no Soweto, um município de Gauteng, outra província muito afetada pela violência dos últimos dias.
Foto: Sumaya Hisham/REUTERS
Frustração sobre desigualdade e pobreza
Várias estradas foram bloqueadas, viaturas de particulares e camiões de transporte de mercadorias foram incendiadas pelos manifestantes. Muitas pessoas sentem-se também frustradas pela desigualdade e pobreza na África do Sul, que se evidenciou por causa das restrições impostas pela Covid-19. O país já registou mais de dois milhões de infeções pela Covid-19.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Apelos à calma
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, lamentou na noite de terça-feira (13.07) o vandalismo que se vive no país há uma semana e apelou à calma, porque no seu entender “o caminho da violência, da pilhagem e da desordem só leva a mais violência e devastação. Isso leva a mais pobreza, mais desemprego e mais perda de vidas inocentes".
Foto: Esa Alexander/Pool/REUTERS
Militares nas ruas
Cerca de 2500 soldados foram destacados para reforçar o patrulhamento nas ruas de Gauteng e KwaZulu-Natal, na tentativa de parar a fúria dos manifestantes e garantir a proteção dos bens públicos. O Presidenrte Cyril Ramaphosa já avisou que não tolerará a continuação da vandalizarão de bens privados.
Foto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images
Oportunismo criminoso
Numa declaração à nação, o Presidente Cyril Ramaphosa caracterizou os protestos como um "ato oportunista de criminosos" que querem provocar caos no país. De acordo com o balanço das autoridades sul-africanas, mais de 1.230 pessoas estão detidas por causa de atos de vandalismo e pilhagem de bens no país.
Foto: James Oatway/Getty Images
"Graves impactos em toda a região" alerta UA
A União Africana (UA) condenou esta quarta-feira (14.07) a "escalada de violência" na África do Sul, que já provocou pelo menos 72 mortos, e apelou a uma "restauração urgente da ordem, paz e estabilidade" no país. Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da UA, defendeu que se as autoridades não conseguirem controlar a violência, haverá "graves impactos não só no país, mas em toda a região".