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SaúdeChina

Distribuição de vacinas chinesas em África sem previsão

Catarina Domingues (Macau)
7 de fevereiro de 2021

China prometeu vacinas para África, mas até agora poucos países contam com ajuda de Pequim. Especialistas ouvidos pela DW sublinham haver ainda ceticismo da população africana em relação às vacinas.

China | Impfstoff gegen das Coronavirus
Foto: Tan Kaixing/Costfoto/picture alliance

A China quer ser a solução – e não a causa - da pandemia. E a ajuda a África faz parte dos planos de Pequim. Essa foi, pelo menos, a promessa deixada pelo Presidente chinês em agosto do ano passado.

Numa conversa por telefone com o rei de Marrocos, Xi Jinping garantiu prioridade na distribuição das vacinas aos países em desenvolvimento – principalmente no continente africano.

O continente que continua vulnerável, enquanto as nações mais ricas do mundo realizam campanhas de imunização em massa com vacinas produzidas pelo Ocidente.

Poderá então a China ter o remédio para África? A ajuda prometida por Xi Jinping estará a caminho?

Para já, não há sinais de que Pequim queira assumir essa responsabilidade. É o que diz Haggai Kanenga, do centro das Relações Sino-Africanas, um think tank da Zâmbia.

"Talvez [as autoridades chinesas] estejam também a tentar entender a situação antes de avançar. Claro que prometeram e já ajudaram um ou outro [país africano], mas no que diz respeito a preencher este vazio, não me parece que estejam prontas a assumir essa responsabilidade", considera.

Ilhas Seychelles iniciaram vacinação em janeiroFoto: Rassin Vannier/AFP/Getty Images

Validar a vacina

Marrocos, o Egipto e as ilhas Seychelles fecharam acordos diretamente com as farmacêuticas chinesas. Pequim anunciou também doações à Serra Leoa, Zimbabué e Guiné Equatorial.

Mas para que as vacinas chinesas possam chegar em massa a África, têm de ser primeiro aprovadas pela Organização Mundial de Saúde.

A epidemiologista ugandesa Catherine Kyobutungi explica que "muitos países não têm a capacidade para analisar milhares e milhares de documentos para demonstrar que a vacina é segura e que deve ser aprovada para ser usada nos seus próprios países. Por isso, está a ser feita uma apreciação conjunta e quando a OMS atribuir esta autorização e licenciamento para uso de emergência, então os países africanos podem começar a usar a vacina".

Segundo a médica, o facto de as farmacêuticas chinesas não terem divulgado todos os resultados dos ensaios clínicos está a dificultar a validação da OMS.

Kyobutungi, também diretora-executiva do Centro de Pesquisa para a Saúde da População Africana (APHRC, na sigla inglesa) no Quénia, admite, porém, que com a aprovação "muitos países vão estar receptivos" para negociar com a China.

O baixo custo e a facilidade de armazenamento são duas vantagens.

A empresa chinesa Sinovac produz vacinas contra o coronavírusFoto: Wang Zhao/AFP/Getty Images

Convencer as populações

Já o académico Haggai Kanenga alerta para uma oposição generalizada da população africana em relação às vacinas disponíveis no mercado.

Uma desconfiança que, sublinha, recai sobretudo sobre o Ocidente e que tem "razões históricas".

A forte presença chinesa em África também está a influenciar a opinião pública.

"Penso que a relação entre a China e os países africanos pode ser comparada à relação entre o Ocidente e África. Em grande medida, muitos estão aqui movidos pelos recursos e muitas pessoas sentem que estão a ser exploradas pela China," avalia o académico.

Mas história e diplomacia à parte, Catherine Kyobutungi defende que, enquanto não houver igualdade na distribuição das vacinas, a pandemia não tem um fim à vista.

"Mais tarde, vai ouvir-se falar de uma nova variante do Burkina Faso, depois no Uganda, no Zimbabué, e sempre que houver uma nova variante em alguma parte do mundo, essa variante vai espalhar-se," afirma a epidemiologista.

A especialista do Uganda acredita que a resolução de questões ligadas à propriedade intelectual é o caminho para o fim da pandemia. Basta que as farmacêuticas abram a produção a outros países.

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