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Divisões e terror: o fracasso do Mali?

17 de setembro de 2012

Durante muito tempo, o Mali foi considerado uma democracia exemplar na África Ocidental. Mas, há uns meses, a república deixou de funcionar. E alguns observadores temem que o Mali venha a ser um "Estado falhado".

Rebeldes em Gao no norte do MaliFoto: Reuters

Os indícios para um possível fracasso não podem ser ignorados. O Estado perdeu o controle sobre grandes partes do país. O Norte é dominado por grupos terroristas. O país está dividido, cresce a influência de jihadistas militantes, centenas de milhares de pessoas encontram-se em fuga.

Peter Heine, especialista alemão em ciências do Islão, considera que "a situação actual foi sem dúvida desencadeada pelo golpe de Estado que a precedeu."

"Possivelmente, também os países vizinhos que também não têm governos muito fortes, como o Burkina Faso, vão sentir as consequências. Vai surgir uma região sem autoridade. Já nos chegam notícias de tomadas de reféns e narcotráfico de dimensões nunca antes vistas, e tudo isto tenderá a aumentar", alerta.

Observadores temem emergência de uma região controlada por grupos extremistasFoto: Getty Images

Queda de Touré facilitou ligações terroristas

Em março deste ano, o exército derrubou o Presidente Amadou Toumani Touré e tomou o poder. Os soldados argumentaram que Touré não conseguia controlar o país e impôr-se aos rebeldes tuaregues no norte do Mali. O Presidente encontrava-se no cargo havia apenas algumas semanas.

Mas o golpe militar acabou por beneficiar os Tuaregues. O vácuo no poder permitiu que se aliassem à rede terrorista Al-Qaida no Magrebe Islâmico, AQMI.

Peter Pham, especialista em assuntos africanos do instituto de pesquisa norte-americano Atlantic Council, afirma que "este grupo está na disposição de cooperar com outros, desde que isso sirva os seus interesses".

Lei charia divide Tuaregues e AQMI

Mas os dois grupos têm objectivos muito diversos. A secção regional da Al-Qaida pretende, sobretudo, impôr em todo o lado a lei islâmica charia, diz o professor emérito Peter Heine.

"O norte da África, mas também a zona do Sahel, estão islamizados há muitos séculos, mas nesta região o Islão assumiu sempre formas especiais", explica, acrescentando que "é um Islão popular, com veneração de santos e antepassados, claramente influenciado pelas religiões animistas, e categoricamente rejeitado pela Al-Qaida".

O que explica também a destruição de monumentos históricos e religiosos em Tombouctou e Gao. Mas os Tuaregues não têm muito interesse na introdução da lei charia.

Nómadas, mas com vontade de criar um Estado, os Tuaregues foram expulsos pela AQMIFoto: dapd

Segundo Peter Heine, este é um povo de nómadas sem terra, mas que há muito procura estabelecer o seu próprio Estado. Por isso, a aliança com a AQMI acabou por fracassar. Os fundamentalistas islâmicos impuseram-se e expulsaram os tuaregues dos centros urbanos mais importantes.

Grupos extremistas ganham força

A AQMI e outros grupos extermistas, como o Ansar Dine na zona do Sahel, exploram as fragilidades dos governos legítimos e financiam-se através do narco-tráfico e do resgate dos reféns, que lhes rendeu vários milhões nos últimos anos. Também a queda de Muammar Kadhafi na Líbia exacerbou a crise, uma vez que mercenários da zona do Sahel, que durante muitos anos serviram o regente de Tripoli, regressaram aos seus países armados até aos dentes.

Entretanto, o governo de Bamako hesita em aceitar a oferta do envio de 3000 soldados pela Comunidade Económica da África Ocidental CEDEAO. Enquanto o Governo do Mali não se decidir, a AQMI e outros grupos extremistas poderão estender a sua influência na região.


Autora: Anne Allmeling / Cristina Krippahl
Edição: Maria João Pinto / António Rocha

17.09 Mali situação - MP3-Mono

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