Relatório do Departamento de Estado norte-americano afirma que a Guiné Equatorial continua a realizar "execuções ilegais ou arbitrárias", algumas dessas extrajudiciais.
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Segundo o relatório sobre direitos humanos dos EUA divulgado nesta terça-feira (12.4), "há relatos confiáveis de execuções ilegais ou arbitrárias, incluindo execuções extrajudiciais, tortura ou tratamento, ou punição cruel, desumano ou degradante pelo Governo ou em nome desse".
Assim como "condições prisionais severas e com risco de vida", e "prisão ou detenção arbitrária; presos ou detidos políticos", na Guiné Equatorial, um dos nove Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O documento relata ainda "sérios problemas com a independência do poder judiciário; interferência arbitrária ou ilegal na privacidade, sérias restrições à liberdade de expressão e dos media, incluindo violência ou ameaças de violência contra jornalistas, prisões ou processos injustificados de jornalistas, censura e a existência de leis de difamação criminal".
Restrições à liberdade
Outra constatação, é que no país continuam a existir "sérias restrições à liberdade na internet, interferência substancial na liberdade de reunião pacífica e de associação, incluindo leis excessivamente restritivas sobre a organização, financiamento ou operação de ONGs, além de restrições à liberdade de circulação e residência no território de um Estado e ao direito de sair do país.
Ainda de acordo com o documento, persiste na Guiné Equatorial a "incapacidade dos cidadãos de mudar seu Governo pacificamente, através de eleições livres e justas, restrições sérias e desarrazoadas à participação política; corrupção grave no Governo".
O documento admite que o Governo, liderado pelo Presidente Teodoro Obiang, chefe de Estado há mais de 40 anos, "tomou algumas medidas para processar ou punir funcionários que cometeram abusos ou se envolveram em corrupção, incluindo alguns casos motivados por críticas da imprensa e do público, seja nas forças de segurança ou em outras partes do Governo. Mas a impunidade continuou a ser um problema sério".
Além disso, há a "falta de investigação e responsabilização pela violência de género, incluindo, mas não se limitando à violência doméstica ou por parceiro íntimo. Também o tráfico de pessoas, e crimes envolvendo violência, ou ameaças de violência, contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros ou intersexuais".
No enquadramento, o documento recorda que "a Guiné Equatorial é nominalmente uma república constitucional multipartidária". Mas "desde um golpe militar em 1979, o Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo dominou todos os ramos do Governo em colaboração com seu clã e partido político, o Partido Democrático da Guiné Equatorial, que fundou em 1991".
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"Eleições nem livres, nem justas"
Em 2016, o presidente Obiang disse ter sido eleito com 93,7% dos votos, numas "eleições presidenciais que muitos consideraram como nem livres nem justas", diz o documento.
Já em 2017, o país "realizou eleições legislativas e municipais que careceram de um monitoramento independente, nacional ou internacional, e de verificação dos censos eleitorais registo e apuramento das cédulas", acrescenta.
O partido no poder e os seus 14 partidos de coalizão obtiveram 92% dos votos, conquistando todos os 75 assentos no Senado, 99 dos 100 assentos na câmara baixa e todos, exceto um, nos conselhos municipais, refere também.
"O vice-presidente (Teodoro Nguema Obiang Mangue, filho mais velho do presidente Obiang) tem o controle geral das forças de segurança. A polícia geralmente é responsável por manter a lei e a ordem nas cidades, enquanto os guardas são responsáveis pela segurança fora das cidades e por eventos especiais", sublinha.
A polícia é tutelada pelo ministro da Segurança Nacional, enquanto os guardas reportam ao Ministério da Defesa Nacional.
Os militares respondem perante o ministro da Defesa Nacional, mas "também cumprem funções policiais em áreas de fronteira, locais sensíveis e áreas de tráfego intenso", sublinha o documento.
"Ambos os ministros reportam diretamente ao vice-presidente. Elementos policiais adicionais estão nos Ministérios do Interior [polícia de fronteira e de trânsito], Finanças [alfândega] e Justiça [polícia de investigação e de acusação]. As autoridades de segurança presidenciais também exercem funções policiais nas instalações presidenciais ou próximas delas], refere o relatório.
O documento concluiu que "as autoridades civis não mantiveram um controle efetivo sobre as forças de segurança. Houve relatos credíveis de que membros das forças de segurança cometeram vários abusos".
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.