Dois anos depois, Congo prepara-se para ir às urnas
AFP | AP | rl
29 de dezembro de 2018
A menos de 24 horas das eleições presidenciais na RDC, o ambiente está mais calmo. O apelo da oposição para a população paralisar o país, esta sexta-feira (28.12), parece não ter tido efeito.
Publicidade
As eleições presidências na República Democrática do Congo (RDC) realizam-se, este domingo (30.12), depois de mais de dois anos de atrasos. Protestos, o adiamento do escrutínio em três regiões do país e o consequente apelo da oposição para paralisar o país marcaram os últimos dias de preparação para o ato eleitoral.
Após o anúncio recente de que as eleições nas regiões de Beni, Butembo e Yumbi, no leste do país, seriam adiadas por causa de conflitos étnicos e do surto de ébola, a coligação "Lamuka", que apoia o candidato da oposição Martin Fayulu, apelou a uma paralisação das cidades congolesas esta sexta-feira (28.12). No entanto, o apelo parece ter tido pouco apoio. Em Kinshasa, por exemplo, o tráfego e as atividades comerciais desenrolaram-se normalmente, segundo a AFP.
Distúrbios foram registados na província de Kivu do Norte, onde um dos manifestantes foi morto a tiro na cidade de Beni. Outros quatro ficaram feridos. Também na capital da província de Goma, há registo de confrontos de jovens com a polícia no distrito de Majengo, onde as autoridades apreenderam também o equipamento de um jornalista congolês que trabalhava para a BBC.
Joseph Kabila, que governa a RDC desde 2001, e que numa entrevista à DW África, esta semana, diz deixar um "Congo unido",está a torcer pela vitória do seu "delfim" Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior e secretário-geral do Partido do Povo para a Reconstrução e Democracia (no poder). Candidato ao qual a União Europeia impôs sanções.
A oposição está dividida, depois de Felix Tshisekedi ter abandonado a coligação para concorrer sozinho e contra Martin Fayulu, outro líder da oposição. No entanto, dizem alguns congoleses, mesmo que a oposição tivesse apresentado uma só candidatura, o cenário não mudaria. Não teria, igualmente, hipóteses contra Emmanuel Ramazani Shadary.
"Já se sabe o que vai acontecer"
A União Europeia e outros observadores eleitorais não foram convidados para assistir ao escrutínio deste domingo (30.12). O que para alguns congoleses é sinal de eleições não transparentes. Em entrevista à AP, Ange Mvouessa, funcionário público, diz que, apesar de ninguém "gostar do candidato do partido no poder" já se sabe "o que vai acontecer". "A votação de domingo não será credível. Vamos contestar os resultados, garantiu este congolês que está a apoiar o candidato da oposição Martin Fayulu.
ONU pede "contenção"
Esta sexta-feira (28.12), o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu que as eleições de domingo decorram "num ambiente livre de violência". Num comunicado enviado à imprensa, o "secretário-geral da ONU lembra a todos os atores que têm um papel fundamental na prevenção da violência eleitoral, evitando todo o tipo de provocação e mostrando o máximo de contenção nas suas ações e palavras".
Também a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, se pronunciou, esta sexta-feira (28.12), sobre a RDC. A representante da União Europeia classificou como "arbitrária e contraproducente" a decisão de Kinshasa de expulsar, em 48 horas, o seu representante na República Democrática do Congo.
"A União Europeia é um parceiro fundamental da RDC e do seu povo, mantendo uma cooperação importante. Na véspera de eleições cruciais para o país, acreditamos que esta decisão é totalmente contraproducente, prejudicando os interesses da população", afirmou.
Sete organizações congolesas de defesa dos direitos humanos também condenaram a decisão do governo congolês.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.