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Desporto

Dos jogos à geografia: os extremos do Euro 2020

Rui Almeida
3 de dezembro de 2018

Para um Europeu diferente, um alinhamento diferente. O "ranking" do futebol no velho continente já não é o que era e o enquadramento do Euro 2020 reflete justamente a nova ordem e os novos tempos.

O sorteio de Dublin "reencontrou" Holanda e AlemanhaFoto: Reuters/J. Sibley

Não ser "cabeça-de-série" num sorteio para a fase de qualificação de uma competição internacional era certamente coisa que não passava pela cabeça da seleção alemã. Os vice-campeões da Europa em 2008 e campeões mundiais em 2014 vivem a mais profunda crise de resultados das últimas décadas e trabalham com emergência numa renovação imposta pela péssima presença no Mundial da Rússia e na Liga das Nações, onde a equipa de Joachim Löw foi, inclusivamente, despromovida à liga B.

Manuel Neuer, um dos gigantes alemães talvez no final de cicloFoto: Reuters/A. Gebert

Por capricho do sorteio realizado este domingo em Dublin, a Alemanha fica alinhada de novo com a Holanda, que defrontou na UEFA Nations League, empatando em Gelsenkirchen e perdendo (3-0) em Amsterdão.

A nova "laranja mecânica" de Ronald Koeman é o pior adversário que poderia calhar aos germânicos, que beneficiam, porém, do facto de as duas primeiras equipas de cada grupo seguirem diretamente para a fase final do próximo Campeonato da Europa. No entanto, é bom não esquecer que o grupo C integra também as representações da Irlanda do Norte, da Estónia e da Bielorússia.

"Nova Europa", menos equilíbrio

Os novos tempos e o renovado mapa geopolítico do continente europeu obrigam a uma maior abertura e, em rigor, a um acentuado desequilíbrio de valores no alinhamento dos diversos grupos da competição. Ao contrário da Liga das Nações, em que a distribuição obedece aos critérios do "ranking" de seleções da UEFA, no Europeu essa clivagem de qualidade é estimulada pelas regras do sorteio.

Nações como Gibraltar (jogará com Suíça, Dinamarca, Irlanda e Geórgia), Andorra (num grupo com os campeões do mundo franceses, Islândia, Turquia, Albânia e Moldávia) ou San Marino ("acasalada" com Bélgica, Rússia, Escócia, Chipre e Cazaquistão) pouco mais podem fazer do que tentar sofrer goleadas contidas, não escapando aos últimos lugares dos respetivos grupos.

Bernardo Silva é a imagem da renovação de Portugal, campeão da Europa a projetar o período "pós-Cristiano Ronaldo"Foto: Reuters/H. Mckay

Sensações mistas para os portugueses

O campeão da Europa e finalista "a quatro" da Liga das Nações não foi dos mais "azarados" no sorteio da capital irlandesa. Portugal tem na Lituânia e no Luxemburgo adversários acessíveis, enquanto a Ucrânia e, sobretudo, a Sérvia, prometem dar luta aos defensores do título. Seleções incómodas, sobretudo em Kiev e Belgrado, ucranianos e sérvios terão, neste momento, legítimas esperanças de poder surpreender o favoritismo português no grupo B.

O processo de "renovação controlada" encetado pelo selecionador Fernando Santos tem, até agora, dado resultado. Apesar da eliminação pelo Uruguai nos oitavos-de-final do Mundial, a equipa das "quinas" conseguiu uma presença meritória na Liga das Nações, preparando-se agora para organizar a "final four". Nomes como Bernardo Silva, Rúben Dias, André Silva, Gelson Martins e Bruno Fernandes emergem como basilares na formação portuguesa, e garantem, de algum modo, a obrigatória transição para o período "pós-Cristiano Ronaldo”.

Os favoritos do costume mas... com cuidado!

A "Europa unida" no mapa do Euro 2020: um mês, 12 países, 51 jogosFoto: Reuters/M. Rehle

Seleções como a Espanha, Inglaterra ou Bélgica parecem ter caminho aberto para a fase final. Porém, os espanhóis (agora treinados por Luís Enrique, antigo técnico do Barcelona) terão pela frente e verão com muita atenção duas equipas nórdicas (Suécia e Noruega), para lá da Roménia, Ilhas Faroé e Malta. Já os belgas têm missão dificultada pela presença da Rússia e da Escócia no grupo I, enquanto os ingleses medem forças com a República Checa, a Bulgária, o Montenegro e o Kosovo. As equipas oriundas do desmembramento da antiga Jugoslávia representam uma escola prestigiada e podem sempre ser ossos duros de roer, sobretudo perante os seus adeptos.

Italianos e croatas são claramente favoritos, e tiveram um sorteio "macio": para os vice-campeões do mundo, que neste ciclo ainda poderão contar com nomes como Modric, Rakitic, Kalinic ou Mandzukic, Gales, Eslováquia, Hungria e Azerbaijão não parecem oferecer problemas inultrapassáveis. Já a Itália, a querer retornar aos grandes momentos depois da ausência do Mundial da Rússia, mede forças com a Bósnia e Herzegovina, a Finlândia, a Grécia, a Arménia e o Liechtenstein. Nada que assuste Roberto Mancini, apostado em "ressuscitar" a mística da "squadra azurra".

Um mês, 24 seleções, 12 países, 12 cidades

É justamente em Itália (no estádio Olímpico de Roma) que começa um Europeu verdadeiramente continental: doze países, outras tantas cidades, viagens mais longas, 24 seleções espalhadas pela Europa, da Irlanda ao Azerbaijão. Os seis grupos da fase final têm duas sedes cada. Roma e Baku (grupo A), São Petersburgo e Copenhaga (grupo B), Amsterdão e Bucareste (grupo C), Londres e Glasgow (grupo D), Bilbau e Dublin (grupo E), Munique e Budapeste (grupo F).

A 12 de junho de 2020, o estádio olímpico de Roma receberá o jogo inaugural do Campeonato da Europa de futebolFoto: picture-alliance/dpa

As meias-finais e a final terão lugar no estádio de Wembley, em Londres. Na sua 16ª edição, o Europeu celebra 60 anos de existência, e essa foi justamente a razão apontada por Michel Platini (antigo presidente da UEFA e mentor desta fase final atípica) para uma celebração muito especial, envolvendo vários países europeus, alguns deles sem condições para receber uma fase final na íntegra, mas com excelentes estruturas para albergarem algumas partidas da competição.

Em 2024, o regresso "à normalidade”, com a fase final do Campeonato da Europa a ser organizada pela Alemanha, o que sucederá 18 anos depois do Mundial'2006, a última grande prova para seleções domiciliada em solo germânico.

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