Em 2019, Moçambique não deve ter o crescimento económico desejado e a produção de petróleo em Angola deve cair pelo quinto ano consecutivo, segundo avaliação da consultora inglesa Economist Intelligence Unit.
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A consultora económica inglesa Economist Intelligence Unit (EIU) revelou nos últimos dias dados pouco animadores sobre as economias de Moçambique e Angola. O analista Nathan Hayes da EIU falou com a DW África e explicou os desafios que se impõem a estas duas economias.
Agricultura prejudicada em Moçambique
No ano de 2019, era esperado que a economia de Moçambique ainda crescesse um pouco. Contudo, devido aos ciclones que afectaram o país, é esperada uma recessão 2,2% este ano. A agricultura é um dos sectores mais prejudicados.
EIU: Moçambique e Angola
"O sector da agricultura foi bastante afectado por ambos os ciclones. O ciclone Idai afetou a região centro do país, isso teve um grande impacto nos meios de produção e no ciclo de colheita estava a começar. Haverá uma uma queda de 40 a 50 % nas exportações neste sector. Um mês depois, o ciclone Kenneth, na região norte, também afectou as colheitas", explica Nathan Hayes.
As infraestuturas também foram prejudicadas e isso afetou o fluxo da natural da economia, como conta o analista inglês.
"Também teve um impacto nas infraestruturas comerciais, as estradas e os portos. O porto da Cidade da Beira, que tem muito tráfego regional, também foi severamente afectado. Mas tem havido muita ajuda internacional para reconstruir o porto. E tem havido algumas medidas de mitigação para melhorar a resposta a desastres como este no futuro", acrescenta.
Contudo os investimentos na exploração de gás natural no norte de Moçambique vão ajudar o país a recuperar economicamente na próxima década.
"O anúncio de investimento da Anadarko foi divulgado, mas os lucros desse investimento só começar a partir dos meados da próxima década. Depois disso a economia vai crescer bem", considera o analista da EIU.
Angola e o desafio da diversificação
Em Angola, Nathan Hayes considera que as reformas na economia vão ser difíceis de implantar, num ano em que a produção de petróleo vai cair novamente.
"Vai ser muito difícil para o Governo angolano avançar com algumas reformas. A família Dos Santos ainda está muito envolvida em várias áreas da economia. Mas há muito potencial para as reformas irem mais longe", afirma.
Diversificar a economia angolana é fundamental e Nathan vê potencial em alguns sectores, mas o ambiente para os negócios ainda não é o ideal.
"Nós podemos ver algum crescimento no sector dos serviços. Também pode haver algum crescimento nos sectores dos minérios, da construção e da indústria. Com a inflação a descer um pouco, em especial nos próximos anos, isso pode ajudar os negócios a operar no país. Mas ainda é um mercado muito pequeno e o ambiente para os negócios é muito complicado, muitas empresas ainda passariam por alguns desafios", conclui.
Moçambique: As novas estradas do Niassa
Com a reabilitação das duas principais estradas do Niassa, a N13 e N14, vitais para o desenvolvimento da província, a ligação da região com o resto de Moçambique e países vizinhos torna-se mais rápida e segura.
Foto: DW/M. David
Mãos à obra
A província de Niassa, a mais extensa de Moçambique, é potencialmente rica em agropecuária, turismo, conservação, extração mineira, entre outras atividades. No entanto, o estado das vias de acesso constitui o principal entrave no desenvolvimento económico da província. Mas esse cenário já começou a mudar com as obras de reabilitação de várias vias.
Foto: DW/M. David
Estrada N13
Finalmente arrancou a construção da N13, estrada nacional que liga as províncias de Nampula e Zambézia, através da via do Cuamba. Também tem ligação com o vizinho Malawi, passando pelo distrito de Mandimba. A reabilitação está dividida em três partes: nas ligações de Lichinga-Massangulo, Massangulo-Muita e Muita-Cuamba. Estes são troços mais complexos devido às pontes que devem ser construídas.
Foto: DW/M. David
De Moçambique ao Malawi
Devido a relação de proximidade entre os dois povos, a estrada Mandimba-Malawi foi igualmente contemplada pelo projeto de asfaltagem. Neste momento, a estrada esta totalmente planada, faltando apenas o seu revestimento para permitir uma ligação mais efetiva entre os dois países vizinhos. O antigo troço dificultava a circulação de pessoas e bens praticamente em todas as épocas do ano.
Foto: DW/M. David
Estrada Montepuez-Balama
As obras de reabilitação e asfaltagem de cerca de 130 km de estradas decorrem a todo gás para que este troço esteja pronto até fevereiro de 2020. Trata-se de uma via que liga a cidade de Montepeuez, em Cabo Delgado, até Balama, no Niassa. O objetivo é assegurar a ligação entre as duas províncias nortenhas, sobretudo do Niassa ao porto de Pemba, dinamizando as trocas comerciais.
Foto: DW/M. David
Limite entre o Niassa e Cabo Delgado
Marrupa é o distrito do Niassa que faz fronteira com a província de Cabo Delgado através do distrito de Balama, separadao pelo rio Ruança. Do lado do Niassa a estrada está totalmente asfaltada. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a estrada em Balama, como mostra a foto.
Foto: DW/M. David
Vias alternativas com problemas
No intuito de acelerar as obras de reabilitação da estrada N13 sem criar grandes transtornos na mobilidade das pessoas e bens, as empresas encarregues do projeto de asfaltagem criaram desvios através de vias alternativas. Mas estas vias não estão em condições de transitabilidade e dificultam, principalmente, a circulação de viaturas de grande porte.
Foto: DW/M. David
Travessia mais segura
A ponte inaugurada em dezembro de 2018 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sobre o rio Lunho, no distrito turístico do Lago Niassa, é um alívio para a população local. Antes todos atravessavam o rio através de pirogas com risco de serem atacados por crocodilos. A ponte liga as zonas de Chuanga e Messumba, no distrito do Lago.
Foto: DW/M. David
Estrada N14 reabilitada
Com 455 km, a N14 liga a província do Niassa com a vizinha Cabo Delgado. Trata-se de uma estrada totalmente asfaltada e sinalizada e já aliviou muitos niassenses que passam por aquela via diariamente. A estrada conta com duas faixas de rodagem.
Foto: DW/M. David
"Desenvolvimento acelerado"
A reabilitação das estradas no Niassa já anima a população local. Euclides Tavares, que mora na capital provincial, acredita que estas obras poderão trazer um "desenvolvimento acelerado" para a região. "Acho que o Niassa vai mudar, porque o a província só está mais atrasada devido à degradação das estradas", diz o residente, que comemora o fim das obras na N14 - que liga Lichinga a Cabo Delgado.
Foto: DW/M. David
Impacto no futuro
Maria Orlando, também residente no Niassa, também comemora a conclusão das obras em algumas estradas. Para ela, estas vias "estão a trazer uma nova cara ao Niassa" e os seus impactos poderão se refletir no futuro da vida dos niassenses.