Os ataques recentes na província de Cabo Delgado, em Moçambique, começam a afetar a economia. Alguns comerciantes e vendedores ambulantes estão a encerrar os seus negócios por falta de produtos.
Foto: DW/M. David
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O reforço da presença das forças de segurança na região, anunciado pelo Governo, já se faz sentir nas estradas: a polícia intensificou o controlo de pessoas e viaturas em quase todos os distritos de Cabo Delgado e à entrada da província.
Os residentes ouvidos pela DW África afirmam que a situação está a levar à paralisação da atividade comercial em Cabo Delgado e nas províncias vizinhas. Benedito Mugabe, da localidade de Balama, confirma as dificuldades de circular nestas vias: "Dizem que é devido os ataques que estão acontecer em Cabo Delgado do grupo al-shabab e que toda Província está com problemas de ataques".
A população tem medo
Economia no norte de Moçambique debaixo de ataque
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Segundo Benedito Mugabe, muitos comerciantes locais já fecharam portas, mas, ao que parece, o problema não são só os grupos armados: "A população em geral não consegue fazer os trajetos para irem às compras ou tratar de outros assuntos na província, porque a estrada está cheia de polícia".
Eduardo de Almeida, outro residente em Pemba, afirma que a população vive com medo dos ataques. "Por causa da situação, muita agente tem medo de viajar. Mesmo os comerciantes que compravam produtos em Nampula ou em Pemba têm também que circular". Mas segundo este cidadão, muitos comerciantes deixaram de se deslocar por receio dos grupos armados.
Reforço da presença das forças de ordem
O analista e polítologo Sarmento Bacelar aplaude as medidas de segurançaFoto: DW/M. David
A DW África tentou, sem sucesso, contatar as autoridades policiais. Mas o analista político e docente universitário da Universidade Católica de Moçambique vê com bons olhos o reforço do controlo policial nas estradas.
Para o analista, o Estado moçambicano está ameaçado e por isso é correto tomar medidas como o controle de quem circula na área: "Uma vez que se torna difícil perceber de onde é que esses terroristas estão a sair, o Estado fez a melhor escolha, a de restringir, para controlar. Porque senão voltaremos a ser ameaçados. Não havendo paz efetiva isso pode conduzir à desestabilização do próprio país".
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.