Economista guineense vê dificuldades perante crise política
Lusa
2 de junho de 2019
O economista guineense e ex-candidato à Presidência da República, Paulo Gomes, antevê dificuldades para a Guiné-Bissau, que pode conduzir a uma recessão, se persistir o impasse político no Parlamento.
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A Guiné-Bissau ainda aguarda por um novo Governo, mais de dois meses após as eleições legislativas. Entretanto, o Presidente José Mário Vaz já anunciou que só vai nomear um novo primeiro-ministro depois que terminar o impasse para a eleição da mesa da Assembleia Nacional Popular.
Mas o antigo administrador do Banco Mundial para 24 países africanos, Paulo Gomes, que foi candidato às ultimas eleições presidenciais guineenses, disse, em entrevista à Lusa, que não se percebe a demora do líder do país, José Mário Vaz, na indicação do novo Governo, e alerta: as consequências serão sentidas brevemente.
"Neste momento já acumulamos muitos atrasados externos, em termos de pagar os nossos compromissos, temos muitos atrasados internos com salários (...) acredito que temos o risco de entrar em recessão com consequências sociais enormes", observou Paulo Gomes.
Dinamizador de uma fundação que atua na área da conservação do meio ambiente e conselheiro de vários lideres africanos, Gomes não tem dúvidas de que se José Mário Vaz não nomear um novo Governo o Estado guineense terá dificuldades enormes para atender aos pedidos da população em relação à educação, saúde e energia.
Retirada de apoios
O mais grave ainda, alertou o economista, é a retirada de apoios para tapar o buraco no orçamento e para financiar reformas, prometidos ao país pelos parceiros internacionais.
"Os parceiros podem retirar promessas de apoios, agora que estamos a chegar ao mês de junho, os parceiros podem alocar esses recursos para outros países mais estáveis. Estamos num ciclo em que há muitos pretextos para que os parceiros virem as costas à Guiné-Bissau", sublinhou Paulo Gomes.
Sobre o seu futuro político, Gomes disse não ser importante neste momento saber se é ou não candidato às próximas eleições presidenciais que, de acordo com o calendário eleitoral e as exigências da comunidade internacional, devem ter lugar ainda este ano.
"Estou preocupado com o futuro do país, mas neste momento o mais importante é fazer tudo para que haja um Governo que possa estabilizar o país e fazer eleições (presidenciais)", disse Gomes.
Ameaças na sub-região
Segundo Gomes, há ameaças que pairam sobre o país devido às vulnerabilidades decorrentes da persistência da crise política, tensões sociais internas e dinâmicas terroristas na sub-região.
O economista disse ter informações "muito fortes de certos grupos que estão com planos para desestabilizar vários países no Sahel" entre os quais os da África Ocidental, onde se inclui a Guiné-Bissau, alertou.
"Há ameaças na sub-região. Há centros de vulnerabilidade. A Guiné-Bissau é um dos centros de vulnerabilidade. O Presidente deve entender, precisamente, que a Guiné-Bissau é um dos centros de vulnerabilidade, os outros dirigentes da sub-região não vão deixar que se instale o caos na Guiné-Bissau", sublinhou Paulo Gomes.
Instado a clarificar de que ameaças fala, Paulo Gomes disse tratar-se de "muitos casamentos", nomeadamente o tráfico de droga, crime organizado, fundamentalismo religioso e grupos de bandidos, que, notou, consideram rentável a atividade de desestabilização de países vulneráveis.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".