Edson Macuácua deixa CPI sobre dívida pública de Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
16 de novembro de 2016
Parlamento moçambicano aprovou o pedido de renúncia de membro da CPI sobre a dívida pública por parte do vice-presidente do órgão, Edson Macuácua. Houve denúncia sobre alegada existência de conflito de interesses.
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada há cerca de quatro mêses ( 27.07 ) para investigar os contornos da dívida pública de Moçambique que ascende a 11 mil milhões de dólares.
A sua criação foi suscitada pela descoberta em abril último de dívidas contraídas em 2013 e 2014 por três empresas com o aval do Governo sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais.
As dívidas, avaliadas em cerca de dois mil milhões de dólares, foram contraídas pelas empresas Proíndicus, EMATUM, e Pro
Segundo a denúncia, na altura da contração das dívidas, Edson Macuácua, designado mais tarde vice-presidente da comissão de inquérito sobre a dívida pública, era porta-voz do então Chefe de Estado, Armando Guebuza."Intenção deliberada", diz a RENAMO
Para a bancada parlamentar do maior partido da oposição, a RENAMO, o facto do pedido de renúncia ter sido apresentado depois de uma denúncia dá a sensação de que havia uma intenção deliberada de não prevenir voluntariamente a existência de conflito de interesses.
A RENAMO absteve-se na aprovação da resolução. O deputado Américo Ubisse, do partido de Dhlakama, explica porquê: " A ausência de declaração voluntária de conflito de interesses e a não observância dos princípios de transparência, integridade na gestão do expediente e na tomada de decisões informadas, a falta de prestação de contas e responsabilização como regras de ouro no Estado que se pretende de direito e de justiça social”.
MDM vota contra a resoluçãoPor seu turno, a Bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) votou contra a resolução argumentando que o legislador restringiu as substituições nas comissões de inquérito, de modo a garantir a confidencialidade do processo de investigações. O deputado José Lobo, da terceira maior força política do país interroga-se: "Como tratar este assunto? A lei moçambicana tem instrumentos bastantes para proceder contra atos ilegais”.
A bancada parlamentar do partido no poder, a FRELIMO, votou a favor da resolução, como declarou o deputado Caifadine Manasse."A renúncia de um membro de uma comissão parlamentar é um direito indisputável, inoponível e inquestionável que lhe assiste. Uma vez consumada impede-o em definitivo de continuar a pertencer a comissão”.
Sérgio Pantie substitui Edson Macuácua
16.11.2016 CPI/Macuacua - MP3-Mono
Para integrar a comissão em substituição de Edson Macuácua foi eleito o deputado Sérgio Pantie, da FRELIMO, que vai ocupar, igualmente, a vice-presidência daquele órgão.
O maior partido da oposição, a RENAMO, recusa-se a fazer parte da Comissão parlamentar de inquérito, exigindo a participação da sociedade civil considerando ser " fundamental para o esclarecimento das dívidas que o país tem”.
As investigações desta comissão vão decorrer em paralelo com a auditoria internacional independente prevista para iniciar em breve com a duração de três mêses.A conclusão desta auditoria é uma condição imposta na semana passada por um grupo de credores internacionais para renegociar o pagamento da dívida moçambicana, depois do Governo ter anunciado recentemente que não tinha capacidade de cumprir com as prestações previstas para breve.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.