Egito: Al-Sisi promete mais diálogo com a sociedade
Kersten Knipp | ms | EFE | Lusa
2 de junho de 2018
O Presidente egípcio tomou posse este sábado (02.06) para um segundo mandato e prometeu mais diálogo, exceto com os "terroristas". Entretanto, jornalistas "incómodos" ao Governo continuam a ser perseguidos.
Publicidade
"Ampliarei a área de diálogo comum, mas excluirei os que elegeram a violência, o terrorismo e o pensamento extremista como caminho para impor a sua vontade", disse Abdul Fatah al-Sisi durante o seu discurso de posse no Parlamento egípcio, no Cairo.
Segundo o Presidente, a prioridade para o segundo mandato, que vai até 2022, será obter a "paz social". Para isso, indicou que será preciso "aceitar uns aos outros e criar zonas comum". "Egito para todos os egípcios, exceto para os terroristas e para os que tentam causar dor aos egípcios", destacou o Presidente.
As forças de segurança do Egito prenderam nas últimas semanas vários ativistas políticos, defensores dos direitos humanos e críticos do Governo por comentários nas redes sociais.
Jornalistas e bloggers perseguidos
A 23 de maio, o jornalista Ismail Alexandrani foi condenado a dez anos de prisão, depois de ter sido acusado de pertencer à Irmandade Muçulmana. No mesmo dia, também foi preso o blogger e ativista Wael Abbas, conhecido pelas suas posições contra a violência policial. Um cenário que não se deverá alterar no segundo mandato do Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi.
Ismail Alexandrani costuma escrever sobre temas políticos sensíveis – como a Irmandade Muçulmana, por exemplo. O grupo foi proibido pelo atual regime do Presidente Abdel Fattah al-Sisi, que o considera uma organização terrorista. E os seus membros são perseguidos desde a queda do Presidente Mohamed Morsi, em 2013. A luta contra grupos jihadistas no Sinai é outro tema, também muito criticado internacionalmente, a que se dedica Alexandrani.
Detido em 2015, Ismail Alexandrani estava em prisão preventiva há dois anos e meio, depois de ter sido preso no aeroporto egípcio de Hurghada, quando regressava de Berlim. Foi acusado de pertencer à Irmandade Muçulmana e de publicar segredos militares.
O tribunal que o condenou considerou-o também culpado de disseminar notícias falsas que poderiam perturbar a segurança nacional. Uma acusação frequente em processos contra jornalistas e ativistas críticos do Governo no Egito, lembra em entrevista à DW Christoph Dreyer, assessor de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras.
"Em muitos outros casos, os jornalistas geralmente são acusados de serem demasiado próximos ou até mesmo de serem membros de um grupo terrorista. Na maioria dos casos, essas acusações são pouco fundamentadas".
Represálias
A condenação de Ismail Alexandrani é mais um exemplo das "represálias cruéis" do Governo egípcio contra jornalistas que abordam "questões delicadas", considerou também a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
No mesmo dia em que foi conhecida esta sentença, foi detido o blogger egípcio Wael Abbas. O ativista é conhecido pelas suas posições contra a violência policial, a tortura e a corrupção.
Não é, por isso, de admirar que o Egito ocupe frequentemente os últimos lugares no ranking da liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras. "Em última análise, trata-se de abafar informações que contradizem a imagem que o regime egípcio quer criar, para desencorajar, desta forma, outros que se queiram aventurar a escrever textos que não estão de acordo com a leitura oficial", explica Dreyer.
Egito: Al-Sisi toma posse e promete ampliar diálogo com a sociedade
"Combate ao terrorismo"
O Estado justifica a repressão da oposição e de jornalistas críticos por motivos de segurança e pelo dever de combater alegados "terroristas". Mas o que está em causa é a própria sobrevivência do regime, considera Christoph Dreyer, dos Repórteres Sem Fronteiras.
O assessor de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras diz que "a crise económica é tão dramática que o regime simplesmente tem medo de permitir críticas". "Ainda não esqueceram o que aconteceu com o ex-Presidente Hosni Mubarak e não querem que isso volte a acontecer", ressalta.
De acordo com os Repórteres Sem Fronteiras, estão atualmente detidos no Egito 27 jornalistas e seis ativistas. Al-Sisi, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em julho de 2013, venceu as eleições realizadas em março com 97% dos votos. A oposição diz que houve fraude eleitoral.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.