O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, declarou o estado de emergência durante três meses depois de ataques contra duas igrejas cristãs coptas que causaram 44 mortos e cerca de 120 feridos.
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Uma explosão atingiu a igreja de São Jorge, em Tanta, a 120 quilómetros a norte do Cairo, durante a celebração eucarística de Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa para a comunidade cristã copta. 27 pessoas morreram e quase 80 ficaram feridas.
"Estávamos perto do altar da igreja, o meu filho cantava no coro, fomos completamente surpreendidos pela explosão. Fugimos todos", conta Samir, de 65 anos, uma das duas mil pessoas que assistiam à cerimónia. O filho de Samir foi levado para o hospital e teve de ser operado.
Testemunhas ouvidas pelas agências de notícias falam em falhas na segurança.
Enquanto as autoridades tentavam resgatar as vítimas em Tanta, um outro atentado atingia uma catedral da cidade portuária de Alexandria, onde o Papa Tawadros II, líder da igreja copta, celebrava o Domingo de Ramos. Um bombista suicida fez-se explodir na Igreja de São Marcos, uma das mais antigas da cidade e um local simbólico para os cristãos egípcios. O ataque fez 17 mortos e quase 50 feridos.
Egito decreta estado de emergência após ataques
Estado de emergência
Depois dos dois ataques, o Presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, declarou o estado de emergência durante três meses "para proteger o país". E anunciou outras medidas: "As forças de segurança aumentaram os esforços para encontrar os responsáveis e os criminosos, para que possam ser punidos. Decidimos criar um alto comité de combate ao terrorismo e ao extremismo no Egito que terá o poder legal necessário para controlar a situação", anunciou al-Sisi num discurso televisivo dirigido à nação.
Cristãos e muçulmanos em todo o país condenaram de imediato os ataques, reivindicados pelo grupo radical Estado Islâmico.
"Estes ataques visam todos os egípcios, atingem-nos a todos, a segurança do país", afirmou o ministro dos Assuntos Religiosos, Mohamed Mokhtar Gomaa. "De acordo com a lei islâmica (Sharia), um ataque a uma igreja é o equivalente a um ataque a uma mesquita. Quem ataca uma igreja não tem religião nem moralidade, abandonou a sua humanidade", sublinhou o governante.
Líderes mundiais, incluindo o Presidente norte-americano Donald Trump, o chefe de Estado francês, François Hollande, o Presidente russo, Vladimir Putin e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenaram o ataque, classificado pelo Conselho de Segurança da ONU como "cobarde". O Papa Francisco, que é esperado no final de abril no Egito, também expressou a sua solidariedade.
Estes são os mais recentes atentados contra os cristãos coptas, uma minoria religiosa no Egito cada vez mais visada pelos extremistas islâmicos e que o Presidente Fattah al-Sisi prometeu defender como parte da sua campanha contra o extremismo.
Há vários anos que os coptas se queixam de discriminação, acusando o Governo de não fazer o suficiente para os proteger.
Em dezembro, 28 pessoas morreram noutro ataque reivindicado pelo Estado Islâmico contra a igreja de São Pedro, no Cairo. Recentemente, os radicais islâmicos ameaçaram aumentar os ataques contra os cristãos coptas no Egito, depois de passarem os últimos anos concentrados em atacar as forças de segurança na península do Sinai.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: picture-alliance/dpa
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
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Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.